CONQUISTA | Prefeitura oferece orientação técnica para inscrição de projetos sobre temáticas afro-brasileiras em editais públicos

Eventos de capoeira estiveram entre as propostas aprovadas na Lei Paulo GustavoPor meio da Coordenação de Promoção da Igualdade Racial (Copir), vinculada à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (Semdes), a Prefeitura de Vitória da Conquista vem atuando no auxílio técnico a grupos que inscrevem projetos culturais em editais públicos, em busca de recursos financeiros para sua realização.

Entre as 101 propostas recentemente selecionadas para a Lei Paulo Gustavo, cinco projetos criados por grupos culturais ligados às matrizes afro-brasileiras contaram com a orientação técnica da equipe da Copir: dois grupos de capoeira com propostas de encontros de formação, vivências, rodas de conversa, palestras e ritos de graduação, dois terreiros de candomblé com ideias sobre obras audiovisuais e um projeto musical ligado ao gênero hip-hop. Todos foram aprovados.

A partir de agora, tendo garantido o acesso ao recurso financeiro, essas iniciativas passam à fase de execução, para, posteriormente, prestarem contas do dinheiro utilizado.

Viabilizada em Vitória da Conquista por meio da Secretaria Municipal de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer (Sectel), a Lei Paulo Gustavo vai injetar mais de R$ 2,7 milhões na economia criativa do município. Os projetos foram alocados nas duas subdivisões locais da LPG: o edital Geraldo Sarno, dedicado a projetos audiovisuais, e o edital Edna Nolasco, destinado às demais linguagens artísticas.

No entender do coordenador de Promoção da Igualdade Racial, Ricardo Alves, a aprovação de todas as propostas que foram orientadas pela equipe é uma conquista histórica. “É um momento de afirmação social para essas pessoas, que, muitas vezes, são silenciadas pelo racismo e pelos vândalos que negam, inclusive, a existência do povo negro como fazedor de cultura nos seus territórios”, avalia.

Ricardo Alves, coordenador de Promoção da Igualdade Racial

Ainda segundo o coordenador, o apoio técnico se faz necessário em razão de distorções sociais históricas, das quais os proponentes dos projetos culturais são vítimas. “Esse apoio técnico é fundamental, porque estamos falando de uma população que, ao longo do processo histórico, teve direitos básicos negados, como a educação. Muitos não tiveram acesso a uma informação melhor, até mesmo para a compreensão de um edital, que vem de uma forma complexa”, explica Ricardo. “Nossa função é descomplicar o caminho. Assessorar, auxiliar e garantir que nenhum recurso seja perdido”.

O coordenador registra, no entanto, que a função da equipe se limita a garantir que as propostas sejam enquadradas na linguagem técnica dos editais. A responsabilidade pelos projetos é de seus criadores. “Nós não fazemos o projeto. A pessoa traz a sua ideia, o seu desejo, e a gente constrói as possibilidades juntos. Vai colocando no papel, revisando e ajudando quantas vezes for necessário. Aí, a gente inscreve o projeto para tentar a captação dos recursos”, relata.

Designado para atuar na orientação técnica junto aos proponentes dos projetos, o historiador e técnico em projetos da Copir, Afonso Silvestre, defende que a aprovação de todas as propostas inscritas pela equipe sirva como um convite para que mais pessoas se inscrevam e, sobretudo, aprendam a realizar esses procedimentos. “Além de ajudar na concepção do projeto, esta ajuda técnica também capacita, porque, ao longo da construção do projeto, com a pessoa ao lado, vamos explicando como se faz e o porquê de se fazer deste ou daquele jeito. Na verdade, é uma oficina individual e personalizada que oferecemos”, diz Afonso.

“Estaremos aprimorando a metodologia para os editais da Lei Aldir Blanc 2 e para os demais que já estão abertos”, garante o técnico.

Projetos culturais ligados ao povo de santo também foram selecionados

Contra a intolerância religiosa

O babalorixá Anderson Souza teve aprovado seu projeto de realização do curta-metragem “Omô Inâ, os Filhos do Fogo”, um documentário sobre o rito do preparo do acarajé e seus significados. “A ajuda da Copir foi muito importante, crucial, essencial para que nosso projeto fosse elaborado e aprovado. Estou com uma felicidade imensa”, exulta o religioso.

Segundo ele, a comunidade, como um todo, tem muito a ganhar com a iniciativa. “É importante para o município que a gente possa fazer mais projetos dessa forma, para que a gente possa elaborar mais projetos que falem do povo de santo, do preconceito e da intolerância religiosa”, afirma.

Também no terreno do audiovisual, outro projeto de curta-metragem a ser aprovado foi “Contra o Ódio, Axé! Seremos Frutos da Resistência”, que vai abordar um ato de intolerância religiosa ocorrido em Vitória da Conquista, que tomou proporções nacionais: o atentado sofrido pelo terreiro de candomblé Casa de Xangô, localizado no bairro Vila Elisa, em 1º de janeiro deste ano.

“Eles nos deram a maior força, nos ajudaram muito a correr atrás e a lutar para poder dar tudo certo. Me deram esperança e acreditaram que o projeto ia ser aprovado. E, graças a Deus, foi aprovado”, exulta Pai Lucas de Xangô, responsável pela casa religiosa e pelo projeto, sobre a orientação recebida da equipe da Copir.

Ele acredita que o curta vai suscitar reflexões importantes e, principalmente, contribuir de forma abrangente com a luta contra o racismo religioso. “É muito bom saber que a gente vai fazer um documentário sobre esse ataque e vai expandir, para ver se acabam esses atos de intolerância religiosa, não só aqui em Vitória da Conquista, mas nos outros lugares, também. É muito bom saber que nós, povo de matriz africana, se todo mundo correr atrás do seu direito, todo mundo vai conseguir”, comenta o líder religioso.

Combate ao racismo religioso esteve entre os temas abordados pelos projetos

Novas propostas musicais

Outra proposta selecionada, desta vez na área musical, foi a produção do álbum “Proeminente”, do rapper e compositor Ruan Cardoso da Silva e Sousa, mais conhecido pelo nome artístico Supremo. O trabalho, que vem a ser o primeiro do artista em estúdio, será composto por oito faixas cujos estilos abrangem a cultura hip-hop e os gêneros Trap, Rithm and Blues e Afrobeat, além de outros ritmos brasileiros.

“A aprovação no edital Paulo Gustavo significa o reconhecimento de um trabalho duro que tem sido feito há anos, por mim e por todos os artistas que estão empenhados em desenvolver sua arte”, comemora Supremo. “É muito importante que o poder público esteja atento à cultura e, sobretudo, aos artistas, trazendo políticas de igualdade como essa oferecida pela Copir. Infelizmente, sabemos que nem todos têm as mesmas oportunidades e o acesso a recursos para poder investir na sua arte”, conclui o artista.

O álbum “Proeminente” terá participações das cantoras baianas Duquesa e Eulá, além do rapper carioca Luccas Carlos. A produção e a direção musical de “Proeminente” estarão a cargo de Rafael “RDD” Dias. A engenharia de som será assinada por Jefferson “Pitota” Enrique.

Equipe do Centro Integrado de Direitos Humanos (CIDH)

Copir monitora abertura de editais

A equipe da Copir monitora de forma constante o lançamento de editais de fomento à cultura, como os que são abertos pelos ministérios da Cultura, dos Direitos Humanos e da Igualdade Racial, além de outras instâncias governamentais. “Estaremos aprimorando a metodologia para os editais da Lei Aldir Blanc 2 e para os demais que já estão abertos”, garante o técnico Afonso Silvestre.

Para ter acesso à orientação e ao assessoramento técnico, disponibilizados pelo setor, qualquer pessoa ou grupo cultural pode apresentar sua proposta. A Copir funciona no Centro Integrado de Direitos Humanos (CIDH), localizado na rua Otávio Santos, 744. O telefone é (77) 3421-9069. O contato também pode ser feito por e-mail: [email protected].


COMPARTILHAR