OPINIÃO DO LEITOR | ANTES TARDE, DO QUE NUNCA!

Alexandre Santos* – Se pudéssemos nomear com apenas duas palavras a insensatez, a desfaçatez, a megalomania, o autoritarismo e a subserviência aos interesses das classes abastadas de Vitória da Conquista, essas palavras seriam Herzem Pereira.

Passadas menos de 24 horas em que o decreto que autorizava a reabertura do comércio entrou em vigor, o prefeito já anunciou, através das mídias oficiais da Prefeitura, a sua revogação.

Pode-se pensar que tal atitude, adotada após duras e veementes críticas e denúncias da sociedade civil, por meio sobretudo das redes sociais, importante instrumento de mobilização em tempos de isolamento, mas também dos meios de comunicação em massa, tenha sido um ato de sensatez. 

Entretanto, antes de tirar conclusões precipitadas, é preciso atentar-se para o fato de que o Conselho Municipal de Saúde (CMS) de Vitória da Conquista através de uma nota publicada ainda no dia de ontem, acusou Pereira de deliberada intransigência no trato com esta importante entidade representativa da sociedade civil, excluindo-a do “Comitê Municipal de Prevenção e Enfrentamento ao Novo Coronavírus (COVID-19)”.

Tal atitude coloca em evidência todo autoritarismo e prepotência do gestor municipal que, fazendo coro com as bestas-feras do governo federal, prefere ignorar as instituições que são autoridades em saúde pública, para esbravejar descalabros e impropérios a fim de materializar ações contrárias aos interesses humanos-sociais imediatos. 

A conduta de Pereira, no entanto, em relação a estes esdrúxulos casos, não deve ser vista, nem entendida como uma exceção à regra, uma vez que o perfil adotado pela sua gestão – nada participativa, diga-se de passagem – desde o primeiro dia de governo tem como propósito prover as garantias necessárias, a todo e a qualquer custo, aos interesses inelimináveis das abastadas oligarquias patrimonialistas vinculadas, sobretudo, ao terceiro setor da economia em Vitória da Conquista.

Não sem razão, o embelezamento das áreas “nobres” da cidade em curso até agora, que joga para debaixo do tapete toda a periferia conquistense, deliberadamente abandonada pela gestão megalomaníaca e autoritária de Pereira, sobretudo, nos aspectos da saúde, da educação, das políticas voltadas para a assistência social etc., tem sido o carro chefe da gestão municipal.

Assim também, o evidente despreparo do líder nada carismático para lidar com a crise do novo Coronavírus, evidencia a face cruel e verdadeira de Pereira, que menospreza a vida humana e coloca, uma vez mais, os interesses econômicos da mesquinha e retrógrada elite conquistense à frente dos interesses e das demandas sociais que, neste momento, carece, principalmente, de uma política voltada para atender às necessidades materiais mais elementares daqueles que não têm como prover o seu próprio sustento e que não serão “beneficiados” com o “descomunal” esforço do governo federal para atender tais demandas.

Assim, o crítico momento de isolamento social seria mais ameno e as consequências do novo Coronavírus não seriam tão danosas para os concidadãos deste sertão baiano.  

Não obstante, as necessidades reais e imediatas da população da “terra das rosas”, Pereira optou por decretar para a morte, enviar para a contaminação deliberada, centenas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras com o propósito único de assegurar a vil cobiça, a desregrada busca pelo lucro e a infame falta de caráter da malfadada e decadente elite de Vitória da Conquista.

Ao contrário do que se possa pensar, o Estado e suas respectivas personificações, não têm por proposito diluir os conflitos sociais ou resolver os problemas dos trabalhadores, mas reafirmá-los, tomando partido sempre ao lado dos ricos e poderosos, muitos dos quais, importa salientar, são fieis financiadores de campanhas eleitorais.

Sensatez, assim, é um substantivo desconhecido no parco vocabulário daqueles que vivem para promover e se alimentam da miséria humana-social.

Seria válido, agora, relembrar as sábias palavras de Bertolt Brecht, pois, no momento em que deixarmos de lutar para defender os interesses coletivos, quando não nos importarmos com o que acontece com o outro, esteja ele aqui ou acolá, assim que for tomado o egoísmo, o individualismo e o egocentrismo como premissa individual da existência humana, todos serão levados!

A batalha contra a insensatez, o autoritarismo, a desfaçatez, a megalomania e a subserviência foi coletivamente vencida, mas a guerra, que ainda está por vir, está longe de acabar. Mas, antes tarde, do que nunca!

Itaetê, 06 de abril de 2020

* Alexandre de Jesus Santos, graduado em História e graduando em Filosofia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Especialista em Sociologia e Ensino de Sociologia, Mestre e Doutorando em Memória: Linguagem e Sociedade pela UESB. Pesquisador do Grupo de Estudos de Ideologia e Lutas de Classes (GEILC/MP/UESB). Professor concursado da Rede Estadual de Ensino do Estado da Bahia.


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