CONQUISTA | Porco espinho reage a ataques de cães nas proximidades da Uesb

Há pouco mais de uma semana, protetores de animais domésticos de Vitória da Conquista, no sudoeste da Bahia, se assustaram com casos de cachorros que ficaram com a boca cheia de espinhos, por conta de um suposto “ataque” de ouriço-cacheiro, mais conhecido como porco-espinho.

Segundo relatos, ao menos três casos ocorreram em sítios próximos a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), o que levou pessoas a fazerem publicações nas redes sociais e WhatsApp com “alertas” sobre os “ataques”. Mas especialistas consultados pelo blog informaram que a história não é bem esta.

Cachorro que atacou ouriço-cacheiro em Vitória da Conquista recebe atendimento (Divulgação)

A começar pela informação falsa sobre ataques dos ouriços. Na verdade, informa o doutor em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (USP) e professor adjunto do Departamento de Ciências Naturais da Uesb, Gilson Evaristo Iack Ximenes, a vítima do ataque é próprio ouriço-cacheiro.

“Quem a gente deveria estar defendendo são os ouriços e não os cachorros”, ele disse.

O ouriço-cacheiro é um roedor herbívoro que vive em cima de árvores (arborícola). Ele tem um pelo modificado semelhante a espinhos. Quando é atacado, se recolhe para proteger o ventre e fica parecendo uma bola. Os “espinhos” ficam eriçados e mais fáceis de se soltarem do pelo. É a estratégia de defesa do animal ao se sentir ameaçado.

“Daí o cachorro morde tentando pegar a carne do bicho e acerta o ‘espinho’”, disse Ximenes, segundo o qual o ouriço-cacheiro é dócil e não ataca ninguém. “É um bicho eu vive solitário, e é raro andar no chão, o que só ocorre quando sobra um espaço entre as árvores”, completou o pesquisador.

Para Ximenes, se as pessoas estão notando um suposto aumento dos casos de cachorros que ficam machucados por conta de atacarem os ouriços, isso pode estar associado ao fato de não haver na cidade um controle da reprodução de animais domésticos que vivem na rua, como cães e gatos.

E esse descontrole é um grande problema para a fauna silvestre. “O que temos de fazer é campanha de castração de cachorro de rua, porque isso tem um impacto enorme. Dezenas de estudos mostram o impacto que cães e gatos fazem na fauna natural por conta do descontrole na reprodução”, declarou.

Por conta disso, o professor sugere não soltar cachorros em áreas de mata. “A única orientação para essas pessoas é não deixar os cachorros saírem. Isso pra mim é um crime ambiental. Estão matando espécies brasileiras, diminuindo áreas naturais deles e correm risco de se tornarem espécies ameaçadas”, ele falou.

Ouriço-cacheiro morto após ataque na região de Itapetinga (Divulgação)

Professor de Ecologia do Departamento de Ciências Naturais da Uesb e coordenador do colegiado de Biologia, Raymundo Sá Neto declarou que o alerta real tem de ser para as pessoas não matarem o ouriço, como ocorreu na região de Itapetinga, zona de grande produção da pecuária baiana, há cerca de um mês.

“O animal [ouriço] é uma espécie nativa e está em seu ambiente natural. Nós e os cachorros somos os invasores. A melhor maneira de evitar o acidente é manter as floretas conservadas, evitar o cachorro de entrar em matas e permitir que tenha árvores nos sítios para que o bicho possa passar por cima, pela vegetação”, comentou.

Caso seu cachorro fique com a boca cheia de “espinhos” por conta de ter atacado um ouriço, não tente retirá-los por conta própria. O mais correto é levar o animal a um veterinário, assim evitará que ele sinta mais dor. | Mário Bittencourt/Canal Rural

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