CONQUISTA | 72% das famílias são contra retorno às aulas presenciais, diz pesquisa

A maioria das famílias dos estudantes das escolas municipais é contrária ao retorno das aulas presenciais, neste momento, em Vitória da Conquista, segundo pesquisa realizada pelo Sindicato do Magistério Municipal Público – Simmp.

De acordo com a entidade, a pesquisa aponta que 72,8% das mães, pais e outros responsáveis, preferem que as aulas só retornem após a imunização de todos os profissionais de educação e cumprimento efetivo dos protocolos de segurança sanitária.

Após o decreto da Prefeitura Municipal, que autoriza as atividades presencias, as famílias tem recebido um documento, enviado pela Secretaria Municipal de Educação por meio dos gestores das escolas, para preencher, assinar e entregar em duas vias nas unidades de ensino. O Termo de Responsabilidade diz: “(…)autorizo, sob minha inteira responsabilidade, o retorno às aulas presenciais do referido aluno(…)”. Para o Simmp, essa é uma medida estratégica usada pela Smed para transferir às famílias toda a responsabilidade em relação aos riscos à saúde aumentados com o retorno mal planejado às aulas. Mesmo adoecendo e morrendo menos que adultos e idosos, crianças e adolescentes não são imunes ao vírus, e podem transmiti-lo a seus familiares.

Como a secretaria tem afirmado que há condições de receber os alunos, as famílias precisam de informações mais claras para entender como será esse retorno. Talvez por falta dessas informações, 41% concordam que os estudantes assistam aulas semipresenciais, mesmo neste momento em que ainda é alto o risco de contaminação pelo coronavírus. A pesquisa do Simmp foi respondida por 3148 pessoas, entre mães, pais, outros responsáveis e alunos.

O posicionamento dos responsáveis pelos alunos, que dizem não ao retorno às atividades neste momento, reflete a conhecida realidade das escolas municipais. Em outra pesquisa aplicada pelo Sindicato – dessa vez dirigida aos professores e professoras, coordenadores pedagógicos, gestores e vice-gestores – 85,1% deles informam que a escola em que trabalham não possui estrutura adequada ao protocolo de segurança sanitária, como distanciamento de 1,5 metros entre os estudantes, salas ventiladas ou sanitários limpos e estruturados. A falta destes e de outros itens compromete a prevenção e, em consequência, a saúde de estudantes, professores, outros profissionais e de suas famílias.

Também falta ficar claro qual é o plano da Prefeitura num provável cenário de aumento do número de contaminados e doentes no município. Se estudantes, professores, outros profissionais e suas famílias adoecerem, há leitos nos hospitais para todos? Haverá UTIs para os necessitados?

Os professores municipais tem feito um notável esforço para manter o aprendizado dos alunos durante a pandemia, mesmo com toda a limitação do formato remoto das aulas, e por isso mesmo querem o retorno das aulas presenciais o mais breve possível. Mas ainda é preciso evitar o possível surto dessa doença letal.

Alguns fatores poderiam ter amenizado a situação e, a essa altura, voltar às atividades presenciais não seria mais um risco à saúde e a vida. Por exemplo, a maioria da população brasileira já poderia ter sido imunizada, não fosse o governo negacionista que não só dificultou a compra das vacinas, como prestou um verdadeiro desserviço em relação ao combate ao vírus. Tendo um chefe de estado comprometido com a vida dos brasileiros, até crianças e adolescentes já estariam vacinados neste momento, seguros para voltar ao convívio social.

Um planejamento prévio, baseado em estudos científicos, na experiência profissional e na discussão com todos os envolvidos também teria feito a diferença na hora de voltar ao presencial. Ao invés disso, temos um decreto, um protocolo feito às pressas, escolas sem estrutura e um documento que imputa às famílias toda a responsabilidade. Para reunir, agora, tantas pessoas não imunizadas num mesmo ambiente, teríamos que ter, no mínimo: capacitação dos profissionais; equipamentos de proteção individual adequados e em quantidades suficiente para todos os envolvidos; campanhas educativas eficientes; espaços amplos, arejados, higienizados e equipados; plano de contingência; transporte escolar adequado; ajuste pedagógico; definição da quantidade de alunos por sala e não um sistema facultativo; hospital para todos os que necessitem, entre muitos outros itens.

Diante da necessidade de munir as famílias de informações reais acerca dessa situação à qual os filhos delas serão expostos, o Simmp tem promovido atividades de conscientização e mobilização. Um ofício enviado ao Ministério Público do Estado da Bahia, por exemplo, pediu a revogação do Decreto Municipal que autoriza as aulas presenciais. A intenção é ampliar as discussões e preservar vidas. Outras ações já vem sendo planejadas e realizadas, afim de despertar o bom senso da administração municipal.


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