CASO ADRIANO | Instrutor de Adriano diz que ex-PM não se renderia e cogita ocasião extrema

O ex-PM Adriano Magalhães da Nóbrega, morto no último dia 9 no interior da Bahia - Reprodução/Polícia Civil


O ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega era um criminoso dotado de um conhecimento sem igual das técnicas policiais de tiro e não se renderia às autoridades. A análise é de Paulo Storani, antropólogo e capitão veterano do Bope (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar do Rio de Janeiro.


Ele acompanhou o desempenho do ex-PM em um curso de tiro sob estresse do Bope, durante cerca de uma semana.


O miliciano, apontado pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio) como chefe do Escritório do Crime, foi morto em 9 de fevereiro, em um sítio na zona rural da cidade de Esplanada, no interior da Bahia. “Adriano não iria se entregar. Ele iria combater até o final. É a minha opinião”, afirmou Storani, que lembra da técnica impecável do então aluno do Bope. 


“Ele foi o primeiro da classe. Desenvolvi uma metodologia de índice de avaliação dos alunos e o desempenho dele foi excepcional. Quando alguém assim se desvirtua para o mal, ele se torna pior e mais perigoso do que qualquer bandido comum”. 



A família e o advogado de Adriano afirmaram publicamente que sua morte foi resultado de uma “operação de queima de arquivo”. Um perito contratado pela família concluiu que os tiros foram disparados à queima-roupa (curta distância). 


O governador da Bahia, Rui Costa, e autoridades de segurança pública do estado rechaçaram a acusação. A hipótese de assassinato também foi defendida pelo presidente Jair Bolsonaro e seu filho Flávio Bolsonaro — quando era deputado estadual no Rio, o atual senador nomeou a ex-mulher e a mãe do ex-PM como funcionárias de seu gabinete. Para Storani, o miliciano dificilmente falaria algo mesmo capturado.

“Criminosos do nível de Adriano não abrem a boca. Ele nunca falaria tudo o que sabe. Pessoas como ele têm familiares no Rio de Janeiro que sofreriam as consequências de uma delação. Veja o caso do também ex-Bope, Ronnie Lessa, acusado de matar Marielle Franco e Anderson Gomes, ou do José Dirceu, na Lava Jato. Não vai falar nada”. 



Com a ressalva de que não tem posse de todas as informações do procedimento dos policiais militares baianos, Storani opina que ação foi realizada dentro dos padrões da legalidade, mas ressalta a necessidade de uma análise definitiva.


O miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega durante vida como fugitivo na Bahia - Reprodução

“A resposta [da PM-BA] foi proporcional a uma reação letal [com intenção de matar]. Resta saber se a reação de Adriano foi letal ou estava na iminência de disparar, só isso justificaria os tiros a curta distância”, afirma, a partir da informação de que os policiais invadiram o local onde o ex-PM estava com um escudo de proteção. 


“Em tese, os policiais tinham o domínio da situação. Os disparos no centro do corpo são o indicado para neutralizar uma situação extrema.” Storani explica que uma operação de captura de um criminoso como Adriano envolve diversos fatores que precisam ser analisados por quem tomará as decisões. 


Uma reunião de planejamento é o marco inicial: são repassadas ao comando todas as informações coletadas sobre o alvo e sobre o ambiente em que ele se encontra. “Acontece que os cenários de segurança pública são muito voláteis. É comum, por exemplo, a Polícia Militar do Rio preparar uma operação apenas 20 minutos antes de começar uma incursão.” 


Certas informações são imprescindíveis para uma correta tomada de decisão. “O setor de inteligência tem que ser capaz de comunicar de maneira rápida e eficiente informações como o perfil do alvo, as características do local em que ele se encontra, possíveis rotas de fugas, se há risco para inocentes”. 


“É importante que as equipes realizem suas respectivas tarefas em sincronia. Mas durante a operação tudo pode mudar. Se o comandante prever que a operação coloca a vida em risco de inocentes, ela pode ser até abortada, por exemplo”.


Polícia afirma ter encontrado 4 armas e 13 celulares na casa em que Adriano se escondeu - Divulgação/SSP-BA

Segundo o mestre de tiro da PM-RJ, em uma operação como a que matou o ex-capítão Adriano, o ideal é surpreender o alvo e capturá-lo antes de qualquer reação. Quando isso não é possível, estabelece-se um cerco. 


Se não houver reféns, a abordagem deve ser feita de forma mais rápida possível. Coloque-se no lugar de um PM da Bahia que participou da operação. Ele sabe que vai tentar prender alguém muito perigoso, altamente treinado. 


É uma situação extremamente estressante. Qualquer indicação de resistência pode resultar numa reação dos policiais. Foi aberto um inquérito policial na Bahia para apurar as circunstâncias da morte de Adriano. 


Depois de idas e vindas, e submetido a pelo menos dois exames cadavéricos adicionais, o corpo do miliciano foi enterrado no Rio, no último dia 21. “Pessoas como Adriano, que são expulsas das forças de segurança, precisam ser monitoradas a partir do momento de seu expurgo, mesmo que elas não estejam presas. Pois elas se tornarão um problema, mais cedo ou mais tarde”, afirma Storani.


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