INCLUSÃO | Câmara celebra Dia da Síndrome de Down e da Conscientização do Autismo em audiência pública

A Câmara Municipal de Vitória da Conquista (CMVC) realizou uma homenagem ao Dia Internacional da Síndrome de Down e o Dia Mundial da Conscientização do Autismo através de uma audiência pública realizada na manhã desta terça-feira, por iniciativa do mandato da vereadora Márcia Viviane (PT).

Proponente da discussão, a vereadora destacou que todas as pessoas tem suas diferenças e precisam ser respeitadas. “As diferenças não estão presentes apenas nos transtornos. As pessoas são todas diferentes. Ter síndrome de Down ou autismo é apenas uma parte de quem se é”, apontou Márcia Viviane.

Dificuldades locais – Representando o presidente do Conselho Municipal de Deficiência, Roselene Oliveira Mendes falou sobre sua satisfação de representar o Conselho e também sua filha, Clara Sofia, que é uma criança autista. “Ser autista neste país não é fácil, muito menos nesse estado, nesse município”, destacou Roselene, afirmando que o município é carente de políticas públicas que promovam a inclusão de pessoas com autismo e síndrome de Down. Além disso, parabenizou a Câmara e a vereadora Viviane por promoverem a luta dessa causa através de audiências.

Dia de conscientização – A representante da Associação Conquista Down, Geisa Barros, criticou a ausência dos órgãos públicos e municipais na audiência. “O dia internacional do Síndrome de Down é um dia de conscientização”, ressaltou. Geisa comentou também sobre a campanha “Muitas meias”, divulgada na cidade, que convida a todos a celebrar a diversidade e lembrar da importância de respeitar as diferenças. “Estamos trabalhando para mostrar como nossos filhos se sentem com o olhar, independente de terem Down, autismo, alguma paralisia, o olhar é diferente”, reforçou Geisa. Ela pontuou também que “nossos filhos para nós não são invisíveis, mas para a sociedade e pro poder público eles são invisíveis, então a gente precisa estar todo dia conscientizando, afirmando que essas pessoas só precisam de oportunidade”.

Ela contou que a Associação Conquista Down retomará suas atividades a partir de maio, e estarão de portas abertas para receber a todos. “Todo dia é uma luta, e vamos continuar lutando” conclui Geisa.

“A ACAEPA é mantida pelos pais” – A vice-presidente da Associação Conquistense para Atendimento Especializado a Pessoa Autista (ACAEPA), Vitória Celeste, contou que a instituição funciona na própria casa da presidente e tudo é custeado pelos pais e responsáveis das 47 crianças e adultos que fazem tratamento na associação. A cuidadora ainda destacou que as terapias são adaptadas de acordo com a necessidade de cada autista, e fazem total diferença no desenvolvimento deles, e por isso, chama atenção ao fato de que Vitória da Conquista necessita de um Centro Especializado para Autistas, que, segundo ela, “é o nosso maior sonho”.

Décadas de trabalho – A presidente da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), Maria do Carmo, destacou o trabalho que a Apae realiza há décadas em Vitória da Conquista e em todo o Brasil. “A gente já tem em Vitória da Conquista 40 anos de atuação e no Brasil 70 anos, muito tempo”, apontou. “É uma causa muito nobre”, avaliou.

Ela pediu às pessoas que visitem e apoiem o trabalho da associação. “Visite-nos, vá até lá conhecer o nosso trabalho de perto. Necessitamos de apoio da comunidade como um todos, dos políticos”, pediu ela.

“O autismo virou uma máfia, um comércio” – Representando o Instituto Girassol, Lucimara Rodrigues, enfatizou as dificuldades enfrentadas pelos autistas e pelas famílias, desde a falta de reconhecimento e apoio dentro da própria família, onde muitas vezes as mães precisam cuidar sozinhas de seus filhos devido à ausência dos pais, até os desafios financeiros para fechar diagnósticos, “nossa grande dificuldade é fechar o diagnóstico, tem pessoas que não tem dinheiro pra fechar o diagnóstico”, destacou Lucimaria. Além disso, abordou a falta de apoio da educação e da saúde pública, revelando uma realidade em que as famílias se veem obrigadas a lutar judicialmente por recursos básicos, como fraldas, remédios e suplementos alimentares. Lucimara também criticou a mercantilização do autismo, denunciando a existência de clínicas particulares que priorizam o lucro em detrimento das necessidades reais das crianças autistas. Concluindo, ela reiterou o valor e a importância dos filhos autistas, reafirmando o compromisso de mudar mentalidades e garantir um futuro digno e inclusivo para eles.

Falta de políticas públicas – O presidente da Comissão dos Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB de Vitória da Conquista, o Doutor André Luis Peixoto inicia falando que “Hoje mais do que nunca a Casa do Povo dá a voz a uma parcela do povo que é esquecida”. O advogado reforça que “Todos sabem dos direitos que nossos filhos têm, mas precisamos também que os órgãos competentes façam sua parte”. André comenta sobre a importância de politicas públicas para crianças atípicas, principalmente na área de saúde e educação. “A gente vai bater todo dia, é luta encima de batalha, é assim que a gente vive. Se falta políticas públicas pro nossos filhos, imagina para nós que somos pais”, reflete. Sobre as clínicas especializadas em autismo na cidade, o advogado pontua que tem que haver fiscalização do funcionamento. André ainda assegura que a Comissão dos Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB está de portas abertas para todos que lutam pela causa. O advogado finaliza seu pronunciamento agradecendo à vereadora Marcia Viviane pelo convite.

“A Terapia Ocupacional é o fazer humano” – Glícia Miranda Silveira, terapeuta ocupacional e atual conselheira e vice-presidente do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (CREFITO7), destacou a importância da terapia ocupacional no tratamento de pessoas com deficiência, especialmente se aliada a fisioterapia. A conselheira ainda apontou que o acompanhamento da família no tratamento é de extrema importância, pois muitas vezes a família pode não reconhecer cedo os sinais da deficiência, ou não ter condições de prosseguir com o tratamento, segundo ela, “nós precisamos trazer a família para o lado da gente e ajudar como podemos”. A conselheira ainda apontou que o trabalho social é uma verdadeira luta, e o trabalho de associações como da APAE e da ACAEPA deveriam ser de responsabilidade do Poder Público, uma vez que elas “mendigam uma ação do mesmo”, e que as leis estão muito bem escritas, mas falta atuação do governo e vontade política de fazer valer.

Superação – O ativista da causa do autismo, João Teixeira, defendeu a união em defesa das pessoas autistas. “Juntos somos mais fortes. Estou aqui para lutar. Quando precisarem de mim, estou à disposição”, disse ele. Ele lembrou que foi vítima de bullying, mas superou suas dificuldades. “Eu superei, estudei, terminei os estudos, casei. É raro ver um autista casado. Sou  graduando hoje em Marketing, bacharelando em Teologia, e graças a Deus tenho um grande amor por essas crianças, pelo autismo”, disse Teixeira.

“A beleza da vida está nas diferenças e não nas semelhanças” – João Leal, ativista pela inclusão de pessoas com deficiência, ressalta a importância de valorizar as diferenças, “a beleza da vida está nas diferenças e não nas semelhanças” destacou ressaltando que esse conceito precisa ser levado para todas as esferas da vida em sociedade. Além disso, destacou que o Estado tem um papel fundamental na formação e inclusão de pessoas com deficiência e alerta para as consequências negativas de profissionais não qualificados no tratamento de crianças, que podem resultar em dificuldades na vida adulta.

“Espero que Deus nos dê forças para ver a nossa filha independente” – José Arcanjo, pai de uma criança atípica, contou da sua experiência após o diagnóstico da sua filha. “É importante que os pais acompanhem para ver se o trabalho está sendo feito”, pontupou ele sobre as terapias fornecidas pelas clínicas especializadas. “Espero que Deus nos dê forças para ver a nossa filha independente”, finalizou José.

“Lutamos para que eles sejam independentes” – Sinthia Tenório, mãe atípica, relatou um caso que aconteceu com o seu filho autista no dia 2 de abril que simboliza o preconceito e o despreparo da educação de Vitória da Conquista no trato com crianças autistas. “Em pleno dia da conscientização sobre o autismo, a escola do meu filho me liga e me informa que ele não poderia ir a aula, pois a cuidadora estava doente e os outros professores não sabiam lidar com ele. Ou seja, no mesmo dia em que estavam fazendo atividades de conscientização sobre o autismo, queriam impedir o meu filho de conviver com os coleguinhas por ele ser difícil de lidar”, contou. Sinthia ainda comentou que mesmo que tenham cuidadores nas escolas, os mesmos não são habilitados para o trabalho, muitos não tem o preparo que é necessário para orientar as crianças e fazer com que elas desenvolvam. Assim, ela chamou a atenção do Poder Público, que falha em amparar a causa, o que acaba sobrecarregando o sistema, uma vez que há muitas pessoas sem o diagnóstico e sem receber o tratamento necessário. Além disso, destacou que ontem, 8, foi lançado a CIP TEA, um rastreamento de pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA).


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