EXCLUSIVO – “Pastor” libertado pelo TJ pode ameaçar testemunhas e coagir familiares das vítimas; Edimar “canela-de-fogo” também pode fugir e dificultar o trabalho da polícia

Foto: Reprodução/ Redes sociais

Um
homem de elevada periculosidade, com histórico de violência extrema e que,
contra si, possui duas acusações de ser o mentor intelectual de dois homicídios
que abalaram o País, está livre para voltar a delinquir. Tudo isso com o aval
do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-Bahia), que lhe concedeu liberdade,
contrariando até mesmo uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça (STJ). (VEJA ABAIXO)

Estamos
falando do auto proclamado pastor Edimar da Silva Brito, que em companhia dos
comparsas Fábio de Jesus Santos e Adriano Silva dos Santos ceifaram as vidas da
pastora Marcilene Sampaio, 38 anos e sua prima Ana Cristina Santos Sampaio, 36,
em 19 de janeiro do ano passado, em Vitória da Conquista. As duas mulheres
foram emboscadas e mortas a pedradas.

Mas,
qual o risco que ele pode oferecer agora?

Somente
quem conhece a vida pregressa de Edimar pode responder com segurança. “Ele pode
ameaçar testemunhas, intimidar familiares das vítimas, lançar seus seguidores
contra a opinião pública e até tentar saber que serão os jurados, caso seja levado
a julgamento. Esse que dizia ser ‘canela-de-fogo’ é muito, mas muito perigoso”,
garante um ex-membro da igreja dele.

N.R.:
“Canela-de-fogo”. Essa expressão quer
dizer que alguém é cheio do Espírito Santo, e que os dons dele se manifesta no
crente.

Pela
motivação do crime, logo se entende a razão de tanto temor. O crime teria sido
motivado por vingança, após a pastora ter abandonado a igreja dele, depois de
um desentendimento, para fundar uma nova e levado a maioria dos fiéis. A intenção
dos criminosos era matar toda a família no sítio em que as vítimas residiam.

Para
arquitetar o plano diabólico, os três escolheram como “escritório” da quadrilha
uma mesa de bar no bairro Guarani, na noite de terça-feira, mesmo dia do crime.
Todos beberam, segundo o dono do estabelecimento. Uma cena, aparentemente
normal.

que ele não sabia que ali estavam “evangélicos” acertando os detalhes finais de
um crime brutal de repercussão nacional. Na mesa, o “pastor”, Edimar Silva
Brito, então com 37 anos, o “pastor” Fábio de Jesus Santos, 34, e o amigo e
vigilante ilegal, Adriano Silva dos Santos, de 36 anos.

Crime planejado após uma bebedeira entre a
quadrilha, numa mesa de bar

O
trio tinha a missão de “dar um susto” no casal de pastores desafetos, Carlos
Eduardo de Souza, 50, e Marcilene Oliveira Sampaio Souza. Mas a vingança,
originada no fato de o casal ter rompido com a igreja de Edimar, há mais de
cinco anos, e constituído outra congregação, foi muito mais além, atingindo a
prima de Marcilene, Ana Cristina Santos Sampaio, 36.

“Edimar
disse que tinha mudado de ideia e ia matar as duas para não deixar
testemunhas”, revelou Adriano, que trabalhava armado como vigilante sem ter
licença para porte de arma. As duas mulheres foram emboscadas e mortas a
pedradas. 

Crime foi por vingança: pastor criminoso teria 

“perdido” 80% dos fiéis para a igreja das

 vítimas

O pastor Carlos Eduardo, apesar de brutalmente espancado, conseguiu
fugir. Mas, quais os outros motivos – além do rompimento e divisão da igreja –
que levaram Edimar a orquestrar tamanha brutalidade? Ana Cristina, prima da
pastora, era casada, mãe de dois filhos e vivia em São Paulo, vindo para a
Bahia visitar familiares e participar de um casamento. Marcilene e Carlos
Eduardo não tinham filhos.

Dívida

Em
2010, quando a economia de Vitória da Conquista já se destacava na Estado, com
o setor de serviços em plena expansão, o pastor Edimar liderava mais de 200
fieis e via sua igreja caminhar a passos rápidos. A cada final de culto, os
fieis deixavam mais de R$ 6.500 nos cofres da igreja. “Era dinheiro de oferta,
dízimos e outras arrecadações. Tudo era contado com o acompanhamento do
pastor”, revelou um dissidente da igreja. Três reuniões por semana, 12 cultos
por mês e R$ 78.000 em caixa. A conta era simples.

Descontadas
as despesas permanentes, restavam ainda R$ 72.000 para a igreja. “Os pastores
Eduardo e Marcilene eram auxiliares do pastor Edimar, mas eles passaram a
discordar das posturas, principalmente denúncias de adultério dele (Edimar)”,
revelou um fiel, sob anonimato.

O
passado adúltero de Edimar, em Itapetinga, sua cidade-natal, sempre conspirou
contra ele. “Era comum flagrar o pastor Edimar com as irmãs de igreja mais
jovens e até com uma pastora. Não era segredo para ninguém o envolvimento dele
com as mulheres”, revela um ex-vizinho, residente no Bairro Morumbi, em
Itapetinga.

As
brigas entre o pastor e o casal chegaram ao limite. Em todas, o binômio
“adultério-dinheiro” ditava o rumo das discussões – geralmente agressivas por
parte de Edimar. Mas Edimar não prosperou somente por conta dos seus esforços.
Houve um tempo de vacas magras na igreja dele. E quem foi a ‘salvação’?

O
casal vítima do crime, de quem Edimar recebeu emprestado R$ 3.000, segundo
conta Wagner de Oliveira, 35, ex-membro da Igreja “Profetizando Vida”, criada
por Marcilene e Carlos Eduardo, após deixar a igreja de Edimar.

Calote


que o tempo passava e Edimar não pagava. O pastor Carlos Eduardo resolveu
cobrar o dinheiro, mas não teve sucesso. Começava aí a primeira ruptura,
agravada quando Edimar quebrou o para-brisa do carro de Carlos Eduardo. “Aos
poucos, a máscara dele foi caindo, principalmente quando começou a mexer com
mulheres casadas”, emenda Wagner. “Todo mundo foi vendo quem Edimar era de
verdade”. As pessoas foram saindo [da igreja dele].

O
casal resolveu abrir outra congregação e muita gente resolveu acompanhar. E a
igreja foi prosperando”, declarou ao jornal “Correio”. Wagner diz acreditar que
o pastor foragido premeditou o crime. “Pouco tempo atrás, Edimar sentou em um
trailer e comentou ‘esse ministério dela tá pra acabar’. O pessoal achou que
ele tava (sic) falando que ia falir, algo assim. Mas, talvez ele já tava
premeditando o crime”, avalia.

Com
o ódio
incrustado no coração há cinco anos, e nesse mesmo período pregando a
palavra de Deus e promovendo palestras, Edimar finalmente convenceu Fábio a se
juntar ao vigilante e finalizar seu plano diabólico.

“Eu
só fiquei no carro de Edimar, segurando o pastor Eduardo. Não participei das
mortes”, defende-se Fábio, um declarado apaixonado por motos possantes e
carros. “Edimar nos falou que só queria dar um susto”. Se dizendo arrependido,
mas assumindo a cumplicidade, arrematou: “Agora é pagar as consequências”.

O
vigilante Adriano, por sua vez, acompanhou Edimar com as mulheres rendidas, sob
a mira de um revólver, até o matagal. “O revólver é meu. Comprei de um
caminhoneiro”, assumiu. A arma só foi usada para subjugar as vítimas. Não houve
disparo. Ele e o vigilante estão presos. Edimar fugiu. Só seria alcançado após um imenso esforço da equipe do delgado Marcus Vinícius.

Foram sete dias de diligências contínuas, sendo que no dia da prisão, a equipe do então coordenador da 10ª Coordenaria de Polícia do Interior,  delegado Marcus Vinicius Morais de Oliveira, saiu de Conquista às três da madrugada e voltou à meia-noite, após rodar 832 km.

O
trio de criminosos foi preso, mas somente Adriano foi levado a júri e condenado
a 30 anos de prisão. Fábio, que também é auto intitulado pastor, continua atrás
das grades, mas Edimar – o líder da quadrilha de homicidas – goza de liberdade
desde a tarde dessa terça-feira, 20. A soltura dele contraria a Súmula 21, do STJ,
que diz que “pronunciado o réu não se alega excesso de prazo”
.

O
promotor do caso, José Junseira, parece não acreditar no “pacote de bondades”
do TJ-Bahia. “Eu estava em férias, retornei dia 19, e fui surpreendido.
Fiquei indignado com a notícia de que o Edimar havia sido posto em liberdade
por ordem do Tribunal de Justiça, não daqui da Vara do Júri de Vitória da
Conquista.”

“Vejam
os senhores que o autor de dois crimes bárbaros, duas vítimas barbaramente
violentadas, torturadas, assassinadas e o mentor do caso, autor intelectual, a
peça-chave, hoje está posto em liberdade”.

“Notem
que o caso aconteceu há menos de dois anos, em 19 de janeiro de 2016, a
denúncia foi oferecida em 12 de fevereiro de 2016, a audiência de instrução no
mês de março e em agosto do ano passado os três foram pronunciados”,
enfatiza Junseira
“Nós
fomos surpreendidos com essa notícia. Se ele não tivesse recorrido, teria sido
julgado. Então como alegar excesso de prazo numa demora provocada pela defesa e
não pelo Poder Judiciário ou pelo Ministério Público? Isso revolta a comunidade
e mais ainda o Ministério Público que é o representante, a voz da comunidade e
se sente indignado com uma situação dessa”. 
O promotor
chega a temer pela fuga de Edimar. “Quando esse cidadão vai ser preso, vai
ser julgado? Agora vai ser apreciado o recurso do Tribunal, mantida a pronúncia
e ele deverá ser julgado, mas quem garante que ele será encontrado? O Edimar
fugiu. Ele precisou ser perseguido pela polícia para ser preso e responder ao
processo”. 

A diligente polícia não se desanima e já está pronta para
uma nova caçada ao bandido. Que o TJ-Bahia dê o sinal. E logo!


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