ENTREVISTA – Promotor critica soltura do pastor Edimar e teme pela fuga do acusado: “Fiquei indignado com a notícia de que ele havia sido posto em liberdade por ordem do Tribunal de Justiça”

Professora e pastora Marcilene Oliveira Sampaio foi morta ao lado da sobrinha (Foto: Reprodução/Uneb)
Professora e pastora Marcilene Oliveira Sampaio foi morta ao lado da prima.
(Foto: Reprodução/Uneb)
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Edmar (à direita) é apontado como autor intelectual dos homicídios. Fábio (azul) e Adriano, teriam executado as ordens.
Foto: Arquivo
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“O autor de dois crimes bárbaros, a peça-chave, hoje está posto em liberdade”, desabafou o promotor José Junseira

(Foto: Divulgação)

Jussara Novaes (Sudoeste Digital) – Ao ignorar a Súmula 21, do Supremo Tribunal de Justiça, que
diz que “pronunciado o réu não se alega excesso de prazo”, o Tribunal
de Justiça da Bahia mandou colocar em liberdade, na tarde desta terça-feira,
20, o ‘Pastor 
Edimar da Silva Brito’, 38 anos, acusado de ser o mentor intelectual do duplo homicídio
que matou a pastora Marcilene Oliveira Sampaio, 38, e a prima dela, Ana
Cristina Santos, 36, em dezembro do ano passado.
A reviravolta jurídica num dos crimes de maior repercussão
na Bahia nos últimos ano, provocou revolta na comunidade de Vitória da
Conquista, a 509 km de Salvador, onde o episódio ocorreu. O promotor do caso,
José Junseira Almeida de Oliveira, se mostrou indignado com a situação.
“Eu estava em férias, retornei dia 19, e fui
surpreendido. Fiquei indignado com a notícia de que o Edimar havia sido posto em
liberdade por ordem do Tribunal de Justiça, não daqui da Vara do Júri de
Vitória da Conquista. Vejam os senhores que o autor de dois crimes bárbaros,
duas vítimas barbaramente violentadas, torturadas, assassinadas e o mentor do
caso, autor intelectual, a peça-chave, hoje está posto em liberdade”.
Além de Edimar, outros dois foram denunciados: Fábio de Jesus Santos, 35 anos, e Adriano Silva dos Santos, 37. Adriano foi julgado e condenado a 30 anos de prisão; dois recorreram – Fábio e Edimar – por isso não foram julgados ainda. “Aí vem o
Tribunal (de Justiça) e libera, revoga a prisão, dizendo que houve excesso de
prazo”, continua o promotor.

“Notem que o caso aconteceu há menos de dois anos, em 19 de janeiro de
2016, a denúncia foi oferecida em 12 de fevereiro de 2016, a audiência de
instrução no mês de março e em agosto do ano passado os três foram
pronunciados”, enfatiza Junseira

“Nós fomos surpreendidos com essa notícia. Ou seja, Edmar não
foi julgado ainda porque? Por culpa exclusiva dele, que não aceitou a
pronúncia e recorreu. Se ele não tivesse recorrido, teria sido julgado. Então
como alegar excesso de prazo numa demora provocada pela defesa e não pelo Poder
Judiciário ou pelo Ministério Público? Isso revolta a comunidade e mais ainda o
Ministério Público que é o representante, a voz da comunidade e se sente
indignado com uma situação dessa”. 

JULGAMENTO À REVELIA

O promotor chega a temer pela fuga de Edimar. “Quando esse cidadão vai ser preso, vai ser
julgado? Agora vai ser apreciado o recurso do Tribunal, mantida a pronúncia e
ele deverá ser julgado, mas quem garante que ele será encontrado? O Edimar
fugiu. Ele precisou ser perseguido pela polícia para ser preso e responder ao
processo”. 

Foram sete dias de diligências contínuas, sendo que no dia da prisão, a equipe do delegado Marcus Vinícius saiu de Conquista às três da madrugada e voltou à meia-noite, após rodar 832km.

Todo esforço da polícia foi ignorado com a soltura do acusado. O promotor reclama: “E a esse que e negava a responder pelo crime que cometeu, se dá a
liberdade de forma gratuita. Ele já mostrou que não tem interesse em responder
pelos crimes que cometeu e em ser julgado. Se tivesse ele teria se apresentado,
mas, não. Ele fugiu. Quem garante que ele não vai fugir novamente? Ele foi o
mentor, por motivo fútil, torpe.”

A frieza de Edimar foi também citada pelo promotor. “Ceifa duas vidas, mostrando que não tem o
menor respeito pela integridade, pela sociedade, pela vida humana e o Tribunal
concede a esse cidadão. Ele pode ser julgado, inclusive, à revelia, sem a
presença dele. Mas ele tem que ser preso para cumprir a pena que lhe seja
imposta.”

Indagado sobre os próximos passos do Ministério Público, Junseira foi enfático. “A Promotoria de Vitória da Conquista não tem o que fazer. Quem pode
fazer algo é a Procuradoria de Justiça, em Salvador, que é quem pode recorrer
dessa decisão, para os tribunais superiores. O Ministério Público encerra a sua
atuação, aqui em Vitória da Conquista, contra-arrazoando ou arrozoando recursos. 
Nós vamos acionar a Procuradoria para ver a possibilidade de recurso dessa
decisão, friso, absurda, porque alegou-se excesso de prazo”, 
finalizou.

RELEMBRE O CASO

De acordo com a polícia, o crime teria sido motivado por vingança após as vítimas, que eram colegas do pastor suspeito, terem saído da igreja dele depois de um desentendimento para fundar uma nova e levado a maioria dos fiéis.

“O crime foi motivado por vingança, após as vítimas terem fundado outra igreja. O pastor foi o mandante e também executor”, afirmou o delegado Marcus Vinícius, titular da 10ª Coordenadoria de Polícia do Interior (Coorpin/Vitória da Conquista).

Marcilene Oliveira Sampaio também era professora do curso de letras da Universidade Estadual da Bahia (Uneb). Segundo a instituição de ensino, ela também já atuou como diretora do Departamento de Ciências Humanas e Tecnológicas (DCHT) do Campus XX da Universidade, em Brumado.

O marido da professora morta, Carlos Eduardo de Souza, que, assim como a companheira, também é pastor, era outro alvo dos criminosos, mas conseguiu escapar do carro em que estava quando sequestrado pelos suspeitos depois de provocar um acidente.

A professora Marcilene Oliveira Sampaio, o marido e a prima, Ana Cristina, tinham acabado de sair da igreja, na noite de terça-feira (19), e estavam a caminho do sítio onde moram quando o carro em que estavam apresentou um defeito na estrada que liga ao município de Barra do Choça.

Carlos Eduardo disse à polícia que desceu do veículo e abriu o capô para verificar o que tinha acontecido quando foi abordado por três homens que chegaram em outro carro. Entre os suspeitos estava o pastor apontado como mandante do crime.
Segundo a polícia, a intenção dos criminosos era matar toda a família no sítio em que as vítimas residiam. A suspeita é de que Marcilene e os parentes já estavam sendo seguidos desde o momento em que deixaram a igreja.

Conforme a polícia, ao perceberem as vítimas paradas na estrada, os suspeitos decidiram agir. Carlos Eduardo foi colocado dentro carro dos suspeitos e seguiu pela estrada com um dos criminosos. O outro suspeito e o pastor ficaram ao lado da professora e da prima dela às margens da rodovia. As duas mulheres foram mortas em seguida a pedradas.

De acordo com a polícia, o marido de Marcilene, que estava no banco de passageiro sob a mira de um revólver, foi agredido várias vezes ao longo do trajeto pelo suspeito. No entanto, ao perceber que iria ser morto, Carlos se jogou na direção do veículo, que acabou colidindo em outro que trafegava pela rodovia. Carlos conseguiu abrir a porta e escapar pelo mato. Em seguida, acionou a polícia.

Um dos suspeitos, Fabio de Jesus Santos, 34 anos, foi preso por policiais militares minutos depois do acidente provocado por Carlos. Segundo a polícia, Fábio confessou participação na ação, mas disse apenas ter dirigido o carro.
Segundo a polícia, o suspeito também apontou quem seriam os demais comparsas: Adriano Silva dos Santos, de 36 anos, e o pastor de prenome Edmar. Adriano, que teria matado Marcilene e a prima dela com Edmar, foi preso na manhã desta quarta, confessou participação no crime e apontou o pastor como mandante.



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