DENGUE | União dos Municípios da Bahia está na linha de frente contra a doença

Com o aumento de cerca de 100% no número de casos de dengue no estado de 1º de janeiro até 24 de fevereiro deste ano em comparação ao mesmo período de 2023, já tem municípios com dificuldade em oferecer soro aos pacientes internados.

O presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB), Quinho Tigre, prefeito de Belo Campo, no sudoeste do estado, comenta sobre a falta de soro em algumas cidades. Segundo ele, Piripá, Jacaraci e Vitória da Conquista, que se encontram em situação de epidemia, estão com dificuldade para fazer a aquisição do produto usado no tratamento. “Isso tem relação com a lei da procura e da oferta nas distribuidoras. Quem estiver com dificuldade de compra poderá aderir à ata do estado”, diz.

De acordo com a infectologista Áurea Paste, coordenadora da residência de Infectologia do Instituto Couto Maia (Icom), não existe um tratamento específico para a dengue, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti infectado. O tratamento é a hidratação via oral. Quando a pessoa não possui condição de se hidratar porque apresenta náusea e vômito, a hidratação é feita de forma venosa.

“O tratamento principal da dengue é a hidratação. Então, a falta de soro fisiológico, soro glicosado, que são soros de hidratação venosa, é preocupante. Um caso grave de dengue tem que usar soro para reidratar”, afirma.

Segundo a diretora da Vigilância Epidemiológica do Estado, Márcia São Pedro, a Sesab já realizou uma compra de soro para garantir que todas as pessoas que necessitem do insumo dentro das unidades públicas de saúde sejam atendidas. “Não há falta de soro. O que precisa é que os municípios realizem o saque do soro, que é de responsabilidade municipal”, afirmou.

Aumento de casos
Somente em 2024, de 1º de janeiro até 24 de fevereiro, a Bahia registrou 16.771 casos prováveis de dengue. O número representa um aumento de cerca de 100% dos casos em comparação ao mesmo período do ano passado, quando foram notificados 8.408 casos. Os dados são da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab).

São diversos fatores que explicam o aumento do número de casos de dengue no estado, desde questões que envolvem mudanças climáticas à circulação de novos sorotipos. Quem afirma isso é a médica infectologista Áurea Paste, coordenadora da residência de Infectologia do Instituto Couto Maia (Icom).

Se as regiões estão mais quentes, com mais chuvas, há maior proliferação do mosquito Aedes aegypti, vetor responsável pela transmissão de dengue, zika e chikungunya. “Isso favorece o aumento da transmissão e o aumento do número de casos”, diz Paste.

Em geral, a dengue possui quatro sorotipos, DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4, que podem causar forma clássica das doenças ou casos mais graves – sangramentos, disfunção de múltiplos órgãos e sangramentos.

“Novos sorotipos circulando, o 3 e o 4, que não estavam circulando previamente; a população não está imunizada; não tem pessoas que já tiveram infecção por esses sorotipos, então são pessoas suscetíveis aos novos sorotipos da dengue. Isso tudo faz aumentar o número de casos”, explica.

Além das mudanças climáticas e da circulação de novos sorotipos, o trabalho de combate à dengue efetuado por municípios foi enfraquecido, como aponta a diretora da Vigilância Epidemiológica do Estado, Márcia São Pedro. “Ao longo do tempo, os municípios deixaram de fazer o seu dever de casa. A falta de limpeza urbana, de saneamento básico e de identificação dos possíveis criadores e do tratamento dos criadores propicia o aumento do número de casos”, pontua.

O aumento de casos neste ano ultrapassa o esperado pela Secretaria de Saúde. Atualmente, o coeficiente de incidência é de 119 casos a cada 100 mil habitantes. São 64 municípios em situação de epidemia, 27 municípios em situação de risco, 20 em situação de alerta e 18 que registraram casos graves de dengue. Atualmente, 64 municípios estão em epidemia.

“Esse aumento nos preocupa. As nossas unidades de saúde, de atenção básica e primária, precisam identificar esse paciente. Quanto mais cedo eu conseguir diagnosticar, eu vou tratar esse paciente. Com isso, reduzo o número de casos graves e, consequentemente, reduzo o número de óbitos”, afirma Márcia São Pedro.

Até o momento, quatro óbitos por dengue foram confirmados pela Câmara Técnica Estadual de Análise de Óbito: dois em Jacaraci, uma em Ibiassucê e uma em Piripá. A prefeitura de Feira de Santana está investigando uma possível morte por dengue na cidade. Em nota, a Secretaria de Saúde do município informou que o caso foi comunicado ao Comitê de Enfrentamento à Dengue.

“A Prefeitura solicita a colaboração da comunidade, tanto na prevenção para evitar possíveis focos e criadouros do mosquito da dengue, quanto na denúncia ou informação de situações de risco por meio do serviço Fala Feira 156”, diz trecho do comunicado.


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