ARTIGO ESPECIAL | Em nome de Deus (Jeremias Macário)*


De tantos pedidos e de tudo ser a Ele atribuído, lá do seu alto, ou do ponto em que estiver, Deus, Alá, Javé, Tupã ou Jeová deve ter entrado em depressão e há muito tempo faz análise com Lacan. Ditadores, tiranos e sanguinários praticaram e ainda praticam suas maldades em seu nome. A Inquisição da Igreja Católica mandou sábios, cientistas e estudiosos para arderem nas fogueiras em nome de Deus, assim como os Cruzados e os islâmicos fanáticos com suas “guerras santas” e o terrorismo.
Em terra brasis, os jesuítas com suas catequeses, em nome de Deus, castigaram e escravizaram índios, considerados pagãos porque adoravam seus deuses da natureza. Quem Nele não acreditava estava condenado ao fogo do inferno. Na ditadura civil-militar, Deus já foi até comunista nas comunidades eclesiais de base e entre os adeptos padres da Teologia da Libertação, que defendiam a pobreza e os excluídos das bonanças dos ricos. A repressão e a tortura foram brutais em nome de Deus.

“O Brasil acima de tudo e Deus acima de todos” é o slogan usado para praticar o genocídio, o ódio, a divisão e a destruição do meio ambiente. Como os reis Luizes e monarcas, ele foi o escolhido por Deus. Saíram os católicos e entraram as seitas pentecostais e neopentecostais para, em nome de Deus, destilar a homofobia, o racismo, a misoginia e a intolerância religiosa. No Superior Tribunal Federal um “terrivelmente evangélico” conservador. O retrocesso é feito em nome de Deus.

No campo de futebol, nessa República de Bananas, os atletas evangélicos rezam a Deus para fazer um gol. Aliás, Deus é torcedor de todos os times, mas somente um consegue ser campeão, e ainda rebaixa outros tantos. “Se Deus ajudar vamos conseguir a vitória”, ou “Se Deus quiser vamos virar o jogo”. “Graças a Deus que saímos vitoriosos”. “Que Deus me ajude ganhar na loteria”. “Fiz o gol, graças a Deus”. Se bate a miséria, ou a enchente e a tempestade destruíram sua casa, foi Deus quem assim quis, como ter dez filhos foi Ele quem mandou. Fazer o quê, meu filho!

Em 1890, Ele deve ter se sentido um pouco aliviado quando o Brasil se tornou oficialmente um país laico, mas até Ele foi enganado. Foi tudo de mentira. A Igreja Católica continuou ligada ao Estado. Agora são os evangélicos que mandam e ditam os extremismos. Eles agora misturam religião e política nas câmaras de vereadores, nas assembleias dos deputados e até no Congresso Nacional. Se juntam para fazer malfeitos e defender seus interesses particulares, em nome de Deus.

As nações que se fizeram menos dependentes do Pai, prosperaram mais. Se bate a chuva, foi ele quem mandou. Se assola a seca, também. Na cultura judaica, o Deus do Antigo Testamento só falava com seus eleitos reis e profetas. Sempre foi descrito como punitivo, vingativo e carrasco. Na cristã ensinaram aos pobres serem humildes porque seriam os escolhidos para ganharem o reino dos céus. Os ricos pagavam indulgências e deixavam fortunas para a Igreja em troca de terem seus pecados e atrocidades perdoados. Tudo em nome de Deus.

Os homens com suas ambições e consumismo destroem o planeta, e o fanático religioso ignorante diz que as catástrofes e a tragédias são castigos de Deus, bem como a peste. Com a vacinação criada pela ciência, a Covid-19 reduziu seu contágio e, como consequência, o número de mortes e casos. Quer dizer que depois de Deus ter matado milhões, ficou cansado de tanta mortandade e resolveu dar um tempo para tirar umas férias.

Para se dar bem em tudo, em nome de Deus, as pessoas passam rasteiras nos outros, roubam e entram no mundo da corrupção. “Graças ao meu esforço, foi Deus quem me ajudou a ficar rico”. Até o pistoleiro quando vai assassinar outro, faz sua oração e pede a Deus que lhe proteja de todo mal. Não foi ele quem matou. Foi Deus quem ordenou. Tudo é feito em nome de Deus, não importa se é mal ou bem. | *Jeremias Macário é jornalista, escritor e compositor.

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