ARTIGO | Democracia em Vertigem (Padre Carlos)*

Apesar de ter sido indicado para o Óscar na categoria de Melhor Documentário, não podemos esquecer que o filme já recebeu vários prêmios e foi aclamado pela crítica internacional, como um dos melhores trabalhos produzidos no ano passado.

Democracia em Vertigem, o documentário de Petra Costa sobre o golpe e a ascensão da extrema-direita no Brasil, é um documento vivo e uma forma de levarmos ao conhecimento do mundo o que se passou e o que estamos passando na terra das palmeiras e sabiás.

Podemos afirmar que este trabalho é um documentário cheio de emoções e ao revelar toda uma história ligada as elites e sua participação no golpe, a autora rompe com o silêncio e mesmo vindo de uma família ligada ao setor da construção pesada, faz uma narrativa sem ligação com as elites e as classes socais, por isto ela consegue ser  absolutamente honesta.

Petra Costa aproxima e afasta o foco com uma capacidade notável, mostra-nos Brasília vista de cima e Lula visto de perto, relata todos os fatos como vimos nas notícias do telejornal da Globo e revela de perto, fatos que nunca teríamos condições de ter conhecimento se não fosse por ela.

Não podemos deixar de chamar a atenção do leitor, para a carga individual que a autora dá ao documentário através da sua voz.  Ao fazer a narrativa, Petra dá ao filme toda a dimensão emocional ao seu trabalho, criando assim uma ligação com o seu público, mostrando desta forma, as veias abertas do poder.

Este documentário não é uma visão pessoal, nem tão pouco uma ficção, é um relato fidedigno dos fatos, ele busca transmite a angústia e a inquietação de quem vê a democracia brasileira ruir como uma construção frágil no meio de um tremor de terra. O New York Times disse que esta era a visão de quem olha para o Brasil com o coração partido.

Eu lutei contra o regime militar e dei os melhores anos da minha juventude para que tivéssemos uma democracia neste país. Eu achava que os 35 anos que desfrutamos de liberdade política, traria uma maturidade para que fatos como este não voltasse a repetir.

A geração de Petra Costa tem demasiada memória. Nasceu nos últimos anos de uma violenta ditadura, lambeu as feridas com maior facilidade do que a minha geração, entrou na vida adulta com a euforia da primeira eleição de Lula. Viu 26 milhões de pessoas saírem da pobreza e o Brasil entrar na rota dos astros da geopolítica internacional.

Este filme foi produzido de encomenda para minha geração, achávamos que tínhamos consolidado a democracia e na verdade o fenômeno fascista que assolou o Brasil deixou a gente em vertigem de quem achava que tinha os pés no chão, mas descobre que, afinal, está em queda.

Quando a autora resolveu narrar o documentário em inglês, ela buscou levar ao conhecimento do mundo o que estava acontecendo no Brasil e projetar os fatos de forma que o golpe fosse desmascarado.

Como não houve crime de responsabilidade, o impedimento da Presidenta Dilma Rousseff foi um verdadeiro Golpe de Estado, que teve o Congresso Nacional como algoz, o STF como espectador indiferente e uma parcela da sociedade brasileira, incitada pela grande mídia, como bucha de canhão.

Como diz Petra: “Somos uma República de famílias. Umas controlam a mídia, outras os bancos. Elas possuem a areia, o cimento, a pedra e o ferro. E, de vez em quando, acontece de elas se cansarem da democracia, do Estado de Direito”.

SOBRE O AUTOR E O CONTEÚDO POSTADO
* (Padre Carlos Roberto Pereira, de Vitória da Conquista, Bahia, escreve semanalmente para esta coluna)

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