VACAS MAGRAS | Cancelamento de exposição agropecuária expõe esgotamento econômico de Conquista

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O anúncio do cancelamento do que seria a 52ª Exposição Agropecuária de Vitória da Conquista, na noite desta terça-feira, 27, pelo presidente da Coopmac, Jaymilton Gusmão, é o prenúncio do que se sucederá à economia do município e região.

Sem o imprescindível apoio financeiro e sem aporte de parceiros de peso, como instituições financeiras e Sebrae, a solução foi suspender o evento, que já caminhava a passos cambaleantes nos últimos anos. Tudo contribui para a amarga decisão, que abala o comércio – especialmente lojas de roupas, rede hoteleira, transporte coletivo, restaurantes e similares, por exemplo.

O Parque “Teopompo de Almeida”, antes disputado por organizadores de shows, perdeu o trono para espaços alternativos, a custo mais baixo, como o Mira Flores e, mais recentemente, o estacionamento do Boulevard Shopping. Resta somente dois eventos anuais: Festival de Inverno e São Pedro Toa Toa.

O restante dos meses é de ociosidade, sem receita suficiente para amenizar o elevado custo de manutenção do parque e da folha salarial. O café cada vez mais distante da realidade dos produtores, com sucessivas baixas e perdas de lavouras e a loja da Coopmac enfrentando a concorrência externa são outros fatores de agravo financeiro.

A Prefeitura, que sempre entra com uma contrapartida, não pode se dar ao luxo de pagar parte dessa conta. O orçamento estourou em 2017: o município arrecadou R$598.842.652,83 e realizou despesas no montante de R$605.294.525,38, o que indica um déficit orçamentário de R$6.451.872,55. Melhor não cair no “pecado” da improbidade administrativa.

Existe, ainda, a incerteza do novo governo, que sucederá Michel Temer. Ainda que houvesse boa vontade, os aliados políticos do prefeito Herzem Gusmão estão sem forças para captar recursos ministeriais. Nada de Ministério da Agricultura, pilar de qualquer exposição agropecuária no País do agronegócio.

Como se não bastasse a perda de força política regional, o desprezo financeiro dos governos estadual e federal, que voltam os olhos para o Oeste, na suntuosa Bahia Farm Show, a maior feira agrícola do Norte e Nordeste, em Luís Eduardo Magalhães, também contribuiu.

Enquanto a exposição de Conquista penava para fechar negócios a longo prazo em torno de R$100 milhões, a Bahia Farm Show, que atrai anualmente expositores de todo o País, como modernas tecnologias, responde pela “bagatela” de R$1,5 bilhão.

Nessa esteira do retrocesso agropecuário também caminha a falta de atrativos para os visitantes – a despeito da cobrança de ingressos até em dias de pouca (ou quase nenhuma) movimentação. Pesa muito no bolso das famílias. Melhor só ir (quem pode) aos domingos. E só.

Quem paga a conta do esvaziamento são os barraqueiros, pequenos expositores e ambulantes, que chegam a tirar do próprio bolso a amarga conta do prejuízo após a festa. Por isso o alo preço num simples espetinho e numa garrafa de cerveja. “Luxo” que poucos frequentadores podem bancar.

E por falar nisso, até mesmo os shows musicais não agradam o público. Atrações em final de carreira, sem qualquer identidade com o público frequentador de eventos rurais. Nem mesmo as apresentações de rodeio ou as limitadas atrações do parque de diversões conseguem alavancar a festa. Em tempos de vacas magras, sem exposição em 2019, Vitória da Conquista assiste o boi fugir com a corda e perde uma das suas referências agrícolas. A vaca foi pro brejo.

ATUALIZADA EM 28.11.18, às 19 horas

Em entrevista ao site Expressão Bahia, concedida à jornalista Lílian Symaia, o presidente da Cooperativa Mista Agropecuária Conquistense (Coopmac), entidade responsável pela realização do evento, Jaymilton Gusmão Cunha Filho, informou que infelizmente os patrocínios vem diminuindo a cada ano e as despesas tem aumentado, e por isso não há condição de promover a Expoconquista de 2019. “Ocorre que temos apenas três fontes de recursos para fazer esse evento: o aluguel dos stands, que mantemos sem repassar aumento dos custos  a ano; venda da bilheteria, onde a gente cobra nos finais de semana uma entrada de R$ 6,00 a inteira, sendo que criança e idoso não pagam, e a terceira fonte que é de patrocínio das empresas privadas, entes públicos, do governo municipal, governo estadual e das entidades federais também que representam o agronegócio, os bancos. Só que a questão é o patrocínio vem diminuindo a cada ano e os custos com a realização do evento crescem substancialmente, com mão-de-obra, energia elétrica, a montagem, estrutura, toldos, banheiros, segurança, etc”.  Segundo Jaymilton, a decisão foi tomada pelos membros da Cooperativa, visto que a mesma é um entre privado, com medo de amargar prejuízos. “Estamos saindo de uma dificuldade financeira muito grande e não justificaria fazer um alto investimento e arriscar tomar prejuízos”. Porém, o Presidente não descartou a possibilidade de realizar o evento com outro formato, de menor dimensão, ou em outra data, se houver mobilização e interesse de todos os entes participantes. “A gente também entende as dificuldades da Prefeitura, e do Estado em estar aportando recursos mas nós decidimos que enquanto privada não seria justo a gente promover um evento dessa grandeza, desse porte. Por isso decidimos não realizar a exposição em abril mas estamos esperando alguma mobilização da sociedade, do poder público, para quem sabe analisarmos outras possibilidades, seja mudar data ou formato do evento. Se tudo correr bem e houver esse entendimento poderemos rever nossa situação. Com este formato para o ano que vem sem o apoio dos interessados a gente resolveu cancelar.”.


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