TREMEDAL DA FOME | Políticos coagem moradores e usam mídia para esconder miséria na zona rural


Imediatamente após o premiado jornalista João Pedro Pitombo, da Folha de São Paulo, percorrer estradas de chão e e deparar com a miséria em seu estado mais bruto, no povoado de Tapiaconga, zona rural de Tremedal, sudoeste da Bahia, políticos locais e seus asseclas se apressaram em esconder a triste realidade exibida nas páginas do jornal. (LEIA AQUI)

Na velocidade da luz, os lambe-botas dos políticos bateram às portas das pessoas entrevistadas – e que declararam estar vivendo na mais extrema pobreza, passando necessidade – para mudar a versão e, assim, fugir de eventuais desgastes e, quem sabe, minimizar os efeitos de uma eventual fiscalização federal sobre a aplicação de verbas públicas para a saúde e a educação no município.

Não bastasse orientar as pessoas humildes a contar uma história diferente da exibida pela reportagem, ainda se prestaram a expor famílias em vídeos orientados e procurar suporte em veículos de mídia para tentar dar credibilidade a uma situação que é exposta há anos numa das regiões mais pobres do Brasil.

Tentativas em vão. Imagens que valem mil palavras mostram panelas e pratos vazios, pessoas esquálidas e ambiente insalubre.

Pobres pessoas que, com vergonha de buscar ajuda, saciam a fome e a sede com mamão verde e água salobra, que possui gosto desagradável, e também a que possui um certo sabor de sal.

Tremedal, que por décadas ficou conhecido mais pelo sobrenome de uma família política dominante, volta às manchetes nacionais para mostrar um Brasil que passa fome, que vive em lamentável descaso.

Mais do que isso, desnuda um quadro de subserviência a que famílias são forçadas para agradar o fulanos de gabinete em troca de míseras cestas básicas.

Como explicar a situação da mão de família, que mora em uma casa de adobe e cozinha em fogão a lenha, onde a única refeição do dia era: arroz e feijão?

Na sua geladeira, que também não funciona, há apenas três tomates parcialmente podres, meia abóbora e um pote de maionese. Agora eles correm para levar alimentos, mas somente depois de serem desmascarados. Abutres é o que são.

Fingem esquecer que a desnutrição se reflete no corpo magro e na baixa estatura dos filhos desas famílias.

No ano passado, um deles chegou a desmaiar na escola por falta de comida. O que eles temem? Que CGU (Controladoria-Geral da União), MPF  (Ministério Público Federal) e Polícia Federal cobrem onde foi parar o dinheiro da merenda escolar?

A Folha visitou quatro das famílias mais pobres dos povoados mais isolados de um dos municípios de menor índice de desenvolvimento humano do país —em relação ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), Tremedal ocupa o 5.408º lugar dentre os 5.570 municípios brasileiros.

Não é um quadro atual, o que evidencia ainda mais o descaso longevo com essa região árida e abandonada. Em dezembro de 2012 o jornalista Mário Bittencourt escrevia que “(…) o que move a economia local são as 2.998 famílias beneficiárias do Bolsa Família, cerca de 3.000 aposentados, comerciantes e funcionários da prefeitura (…). (RELEMBRE).

Em vez de tentar mudar os rumos da reportagem da Folha, que fez o caminho inverso da mídia comprada, e ousou cruzar a linha que divide o lauto banquete da miséria, os coronéis e seus adeptos deveriam repensar seu atos e, em vez de desviar recurso para o mais carentes, promover políticas públicas de inclusão social, levando água a quem tem sede e pão a quem tem fome. Sem nada pedir em troca.

Celino Souza, jornalista.


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