SESSÃO ESPECIAL | Dia Internacional contra homofobia é celebrado na Câmara de Conquista

Sessão especial sobre homofobia foi realizada na manhã desta sexta-feira, 17, no Plenário Carmen Lúcia, da Câmara Municipal de Vitória da Conquista. A sessão foi proposta pelo vereador Alexandre Xandó (PT) e contou com representantes da classe LGBT.

Xandó abriu a sessão lembrando da importância do tema e da discussão ser abordada na casa Legislativa. Ressaltou a função dos parlamentares nesse processo e agradeceu a presença de todos nessa discussão. Lembrou que isso é uma luta de todos, independente da orientação sexual de cada um. Contou que mais da metade dos funcionários do seu gabinete é LGBT.

Incômodo ao ocupar espaços – A professora Denise Ventura chamou atenção para a cultura de esperar que as pessoas trans estejam sempre na prostituição. “Quando a gente começa a ocupar outros espaços incomoda. Hoje estou aqui ocupando esse espaço, trazendo o nosso grito que muitas vezes é sufocado”, disse Ventura. “Por muitos anos fui considerada a única professora transgênero a trabalhar com turmas iniciais do Brasil. Eu luto para que futuramente tenham também outras Denises, outras professoras ocupando esse espaço”, disse a professora.

Representatividade que importa – A presidente do Conselho Municipal da Diversidade Sexual e de Gênero (CMDSG), Isadora Oliveira, destacou a importância da ocupação dos espaços públicos pela população LGBTQIA+ como sendo uma expressão vital de visibilidade, resistência e afirmação de direitos. “Quando a população LGBT ocupa esses espaços, essa ocupação não é apenas simbólica. Essa representativa importa, pois ela inspira e empodera”, afirmou. Lamentando os preconceitos enfrentados por essa população, Isadora enalteceu a necessidade de viabilizar a criação de redes de apoio, fortalecendo a comunidade e oferecendo um refúgio seguro onde cada indivíduo pode ser autêntico. “Precisamos educar nossos corações para evitar o preconceito e abraçar a diversidade. Estamos mostrando que não há nada de errado em ser quem somos e amar quem amamos. A gente só quer paz”, declarou.

Estresse de minoria – A educadora Judá Nunes, abordou o tema da teoria do estresse de minoria, que trata do estresse vivenciado pelas minorias sociais, que segundo ela podem funcionar como fatores de risco, comprometendo a saúde mental dessas pessoas, “a violência e a discriminação passam por um estresse que adoece e passa a sofrer fisicamente e psicologicamente” disse, e explicou que compreender esse fator  pode auxiliar na elaboração de planos e políticas públicas, com o objetivo de minimizar os efeitos do preconceito. Gildá falou sobre a inexistência de um mapeamento das comunidades LGBT a nível estadual e federal, e apresentou dados estatísticos dos EUA, no qual, 39% dos jovens LGBT consideram seriamente o suicídio e 71%  se sentem tristes e sem esperança, “um a cada 3 jovens relatam que alguém tentou convencê-lo a mudar sua preferência sexual, 71 % dos jovens relataram sofrer discriminação, dados que podem ser muito mais graves no contexto brasileiro, que causa impacto político e social” e disse que tentar resolver o problema sem dados precisos e sem informação é como tentar montar um quebra cabeça sem todas as peças, cenário que tem sido trabalhado as políticas públicas voltadas para a comunidade LGBT no Brasil, comprometendo em todos os aspectos.

Falta suporte para saúde mental – Bryan Santos Oliveira, homem trans, relatou a falta de acompanhamento para a transição e de políticas públicas para esse público, o que segundo ele, pode acarretar uma série de problemas mentais ao cidadão que precisa.

Faltam oportunidades, sobra violência – Flávia Rodrigues, mais conhecida como Tiêta, apontou que a população de travestis e transexuais sofrem com a falta de oportunidades e a violência. “São agredidas todas as noites, todos os dias são xingadas, são maltratadas nas ruas porque não tem oportunidade de emprego. Pode ter o melhor currículo, mas quando chega na entrevista de emprego que vê que é uma mulher trans, sempre a vaga já foi preenchida”, disse ela.

Tiêta denunciou ainda que muitas travestis e mulheres trans são vítimas de crime de cafetinagem. “Elas pagam para estar na rua se prostituindo. Se não pagar são ameaçadas. Tem que ter a investigação para ver essa população que está sofrendo essa violência, exploradas”, cobrou ela.

Políticas públicas de prevenção e combate à LGBTQIA+fobia – Representando a Secretaria Municipal de Educação, o coordenador do Núcleo de Prevenção e Monitoramento da Violência nas Escolas (NPMV), Rodrigo Ferreira, destacou as políticas públicas de prevenção e combate à LGBTQIA+fobia nas escolas da rede municipal. “Essas políticas são fundamentais para garantir um ambiente educativo seguro, inclusivo e respeitoso para todos os alunos”, afirmou. Rodrigo enalteceu também o direito de uso do nome social desses alunos no ambiente escolar, ressaltando o empenho aplicado no combate ao preconceito. “A presença de preconceito e discriminação pode afetar profundamente o bem-estar, a saúde mental e o desempenho acadêmico dos estudantes LGBTQIA+, tornando essencial a implementação de medidas eficazes”, pontuou.

Conquista como referência em políticas para a comunidade LGBT – O Professor Luciano Di Maria, falou sobre a importância da participação da Câmara no debate, com a presença dos vereadores de diferentes religiões, pois segundo ele Vitória da Conquista, se torna uma referência em  públicas e exemplo para as outras cidades, “exemplos significativos, a cada 38 horas uma pessoa é brutalmente assassinada pelo fato de ser LGBT” e lembrou que a data não é de comemoração, e sim de reivindicação, luta e resistência. “vivemos na pele a lgbtfóbia, somos vulneráveis pois a qualquer momento podemos ser atacados na rua, não temos o que celebrar, temos que fazer as nossas demandas serem ouvidas” e finalizou desejando que as palavras do debate fiquem registradas para que se tornem políticas públicas.

Todos devem ser respeitados – Janaína Jabur, pediu providências na execução e solução de ações efetivas para a classe, contou que tem um filho trans e percorre mais de 400 km para conseguir tratamento adequado. “Nossos filhos nascem trans, eles não se tornam trans”, afirmou, lembrando que a família também sofre com a discriminação. Relatou um pouco dos seus medos e anseios como mãe.

Cidade conservadora – Rosilene Santana, Mãe Rosa de Oxum, apontou que Vitória da Conquista impõe sérias dificuldades às minorias. “Conquista é uma cidade conservadora. Pra mim, uma mulher preta, de Candomblé, lésbica e quilombola, eu tive que rebolar muito”, disse a liderança religiosa. Ela se queixou também da falta de atenção do Governo Sheila. “O município deixa a desejar. Não tem um representante da Coordenação de LGBT e Igualdade Racial”, reclamou ela.

A luta pela igualdade é responsabilidade de todos – Givanildo Teixeira, homem hétero e militante da causa LGBTQIA+, destacou a importância da solidariedade, empatia e ação concreta na defesa dos direitos dessa população, ressaltando que a luta pela igualdade é responsabilidade de todos, independentemente de sua orientação sexual. “Apoiar a causa LGBTQIA+ é, acima de tudo, uma questão de empatia e solidariedade. É reconhecer que o amor, o respeito e a dignidade são direitos de todos, independentemente de quem amem ou de como se identifiquem. É entender que a diversidade enriquece nossa sociedade e que, ao aceitar e celebrar essa diversidade, nos tornamos uma comunidade mais forte e mais unida”, declarou.

Direitos e Reconhecimentos – Para a escritora, performer e educadora social, Gisberta Kali, a estética deve ser tratada como um projeto político, “artistas como lugar de distrair a sociedade, o nosso lugar na verdade é lugar de perturbação”, e fez a leitura de uma carta, que segundo ela foi direcionada a um homem trans, que está no livro de sua autoria, Fricção, “Penso isso porque há uma necessidade, acho que não só minha, mas de todas as pessoas trans que fazem arte de forma geral,”, explicou.

 


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