Polícia investiga acidentes com pistolas Taurus na Bahia e no RN

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Uma das vítimas foi a PM Jaqueline Ribeiro de Oliveira, da 4ª CIPM de Macaúbas. 

Dois incidentes ocasionados por
disparos de armas de fabricação da
Forjas Taurus utilizadas pela PM
(Polícia Militar) da Bahia e do Rio
Grande do Norte estão sendo
investigados pela perícia técnica dos
Estados. Uma policial militar da cidade
de Macaúbas (BA) foi atingida por um
tiro no rosto e está em coma. O outro
caso foi de um agricultor que morreu
com um tiro na cabeça no município de
Pau dos Ferros (RN), no último dia 13.

Há suspeita de que as armas tenham
entrado em pane e disparado sem
acionamento do gatilho.
Relatos de casos de pane em armas
da Taurus já foram registrados em
quase todos os Estados brasileiros. Um site chamado “vítimas da Taurus”
contabiliza que pelo menos 109 pessoas — dentre policiais, agentes penitenciários e
pessoas que têm porte de arma. Procurada pelo UOL, a empresa não se
manifestou sobre os casos recentes da Bahia e do RN.
A PM Jaqueline Ribeiro de Oliveira, 32, trabalha na 4ª CIPM (Companhia
Independente da Polícia Militar) de Macaúbas.

No último dia 11, ela estava de
serviço, mas foi à residência ver como as filhas estavam e a arma disparou
atingindo-a no rosto. A policial foi socorrida para o hospital municipal e, devido ao
estado de saúde grave, foi transferida para UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do
hospital de Barreiras, onde permanece em coma.
“Tudo indica que foi um disparo acidental, pois não havia sinais de suicídio. A arma
foi encaminhada para perícia técnica no município de Bom Jesus”, afirmou o
tenente Daniel Bras, da 4ª CIPM.

A arma da policial é uma PT-100 da Taurus.
No RN, um tiro deflagrado por uma pistola Taurus 24/7 supostamente com
problemas matou o agricultor Ubiratan Alves, 23, no município de Pau dos Ferros.
Ele estava observando uma ação da PM quando foi atingido por um tiro na cabeça
e morreu no local.
O policial militar que usava a arma se apresentou à delegacia depois do ocorrido e
alegou que a pistola disparou sem que ele acionasse o gatilho. Ele não teve a
identidade divulgada. A arma do policial foi recolhida pela Polícia Civil e
encaminhada para ser periciada no Itep (Instituto Técnico-Científico de Polícia) de
Mossoró.

O policial ficará afastado das ruas até que o processo administrativo seja concluído.
Ainda não há previsão de quando sairá o laudo da perícia feita na arma. As polícias Militar da Bahia e do Rio Grande do Norte informaram que aguardam
conclusão da perícia nas armas para se pronunciarem sobre o assunto. Não há
previsão de quando sairá o resultado.

Falha durante reação a assalto 

Em julho de 2015, o policial militar Pablo Nascimento da Cunha estava saindo de
um banco na avenida Pedro II, em João Pessoa, quando foi abordado por um
ladrão. Ele reagiu ao assalto, mas não esperava que a pistola Taurus que portava
travasse no momento do disparo. Com a arma em pane, o policial travou luta
corporal com o assaltante e acabou baleado na perna.
“A arma travou três vezes em menos de 20 segundos.

A pistola não efetuou disparo
quando puxei o gatilho. As munições foram submetidas a perícia e foi constatada
que a marcação da espoleta não foi suficiente para disparar”, contou o policial,
destacando que tem 22 anos de experiência e é instrutor de tiro campeão brasileiro
desde 1997. A munição usava pelo policial era original, de fabricação da CBC
(Companhia Brasileira de Cartuchos), pertencente à Forjas Taurus.

Cunha ingressou com uma ação civil contra a Forjas Taurus cobrando punição
pelos danos morais e materiais. Duas audiências já foram realizadas e ele aguarda
julgamento do caso. “Uso prótese na perna e não tenho mais a saúde que tinha.
Sinto dores intensas no fêmur e não consigo me locomover como antes”, conta.

Falha no teste 

Um policial civil da Paraíba, que pediu para não ser identificado, contou ao UOL que
a pistola Taurus modelo 24/7 que ele recebeu do governo do Estado quando
ingressou na Polícia Civil em 2016, apresentou falhas de disparos ainda no teste.
Segundo o policial, dos 20 disparos feitos no teste, nove balas ficaram travadas na
arma.

“Tem muitos casos de falha de pistolas Taurus que não disparam ao atirar ou
disparam sem acionar o gatilho. Quando recebi a minha arma, de 20 disparos de
teste, falhou em nove. As de alguns colegas aqui já falharam em ação. Observei no
teste que a minha arma sempre falhava no terceiro ou quarto disparo”, contou o
policial.
“Acontece de a arma estar funcionando, porém de uma hora para outra quebra uma
peça ou um mecanismo para de funcionar.

Não dá para prever que ela vai falhar.
Eu sempre mantenho a minha arma limpa e devidamente lubrificada, mas não
confio de forma alguma. É tenso trabalhar com um equipamento que pode falhar a
qualquer momento. Em caso de falha em ação, o policial corre extremo risco de
morte”, destaca o policial.

Mais falhas 

Sete agentes penitenciários do Rio Grande do Norte ingressaram com ação judicial
pedindo o ressarcimento dos valores pagos na aquisição de pistolas .380, modelo
638 da Taurus, adquiridas para uso pessoal, e pagamento de danos morais pelo
risco de morte que eles correm ao usar as armas que podem falhar a qualquer
momento.
Segundo o advogado Jorge Ricardo Jales, o grupo decidiu buscar a Justiça depois
que as armas apresentaram falhas em treinos e cursos de tiro. Jales afirma que as
armas apresentaram o mesmo defeito: travamento no momento do disparo. “A bala engancha na câmara de combustão quando o gatilho é acionado.

Para
efetuar o disparo, precisa-se retirar e recolocar o carregador e a munição.
Solicitamos perícia para ser realizada nas armas para comprovar as falhas que
estão sendo apresentadas até mesmo com uso de munição original. O pessoal já
não confia mais nessas armas”, disse o advogado.
Delegado Renato da Silva Oliveira, titular da delegacia da cidade de Apodi, conta
que pistolas da Taurus já falharam nas mãos dele durante treinamento de tiros e,
atualmente, por precaução, ele adquiriu armas fabricadas na Tchecoslováquia para
proteção pessoal.

“Cheguei a pegar uma pistola do governo do Estado modelo 24/7 que quando
balançava ela disparava. Durante treinos com uma pistola .380 observei que a
arma efetua o disparo e engancha no terceiro tiro. Quando ela trava, temos de tirar
o carregador e a munição da câmera que não foi deflagrada para voltar a usá-la.
Porém, a sequência de tiros durante ação de combate é fundamental para a vida do
policial. Se sua arma não dispara num momento desses, você está morto”, afirma
Oliveira.

Outro lado 

A Secretaria da Segurança e da Defesa Social da Paraíba informou que tem
conhecimento dos acidentes envolvendo a Taurus ocorridos no país, mas afirmou
que não existe nenhum registro formal envolvendo a pistola Taurus 24/7 na
Gerência Executiva de Armas e Munições.
“Nesse sentido, desde que detectados problemas, com registros formais, pode-se
substituir o equipamento. Contudo, o controle sobre a fabricação de armamentos no
país é do Exército Brasileiro”, disse a secretaria, sem justificar o porquê de pistolas
Taurus 24/7 continuarem sendo adquiridas pelo governo da Paraíba para policiais
do Estado.

A Taurus informou não ter conhecimento e disse não ter sido notificada sobre casos
de disparos acidentais ou travamento de pistolas 24/7 envolvendo policiais da
Paraíba. A empresa não se manifestou sobre as denúncias ocorridas no Rio Grande
do Norte e na Bahia.
A indústria de armas afirmou ser vítima de “ataques inconsistentes, sem respaldo
técnico e que sempre que há alegação de disparo acidental e falha no mecanismo
de disparo de uma arma”.

Para que isso seja detectado, segundo a Taurus, é
necessário realizar perícias para verificar a verdadeira causa do incidente.
“Todas as perícias realizadas até hoje dentro das normas aplicáveis comprovam
que não há defeito ou falha no projeto ou nos mecanismos de segurança e
funcionamento dos produtos Taurus”, afirmou a indústria, destacando que desde
2015 iniciou programa gratuito de revisão e manutenção de armas, oferecido a
todos os clientes do Brasil.
O Exército Brasileiro informou ao UOL que instaurou procedimento investigativo em
2016 para verificar a qualificação da Forjas Taurus na fabricação de armas de fogo.
O processo está em andamento, sem data para conclusão.

Aliny Gama Colaboração para o UOL, em Maceió


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