Jussara Novaes *- Não há recuperação judicial sem a combinação de vários fatores. Menos que isto são tramas e artimanhas que, cedo ou tarde, Vitória da Conquista descobrirá. Tomara que não seja da pior maneira, já que transporte público não é uma ciência fácil e muito menos barata para se brincar de montar e desmontar com alguns poucos “vinténs”.
Então, vejamos quais e como seriam estes ingredientes que entrando em combinação lançariam as bases sólidas para fundamentar a recuperação judicial ou salvação da Viação Vitória:
A – Injeção de capital. E este deve ser milionário e terá que vir de fora, porque a tarifa não produziria os efeitos suficientes e isolados. Só se for um “caminhão de dinheiro” por parte dos sócios da empresa ou por financiamentos bancários;
B – Combinação de redução drástica de custos, pois no caso do transporte público tudo está atrelado à figura do ônibus. O exemplo que damos é apenas um, dos mais danosos: retira-se o veículo de circulação, aí se reduz o consumo de óleo diesel e demite-se oito funcionários, em média, para cada ônibus;
C – Elevação da receita da empresa. Nesse caso, somente o prefeito tem a caneta para tanto. Ele é “dono da tarifa”, mas não está confortável para dar o aumento às vésperas de eleições, além da aguda impopularidade;
D – Combate aos mais de 600 clandestinos, entre vans e automóveis e vans. Mais uma vez, isso somente o prefeito pode fazer, porque não depende das empresas. Outro contratempo: ele não quer encarar os vanzeiros. Tentou e viu os “anjinhos” que criou.
Então, caro leitor, fica claro que a situação não é simples como o prefeito tenta passar. Por exemplo: ao dizer nas rádios e blogs que a Prefeitura não pode “queimar as etapas” do processo de caducidade ou da recuperação judicial da Viação Vitória (isto tudo tem um propósito, que mais à frente será revelado). Nesse ponto parece que o prefeito, outra vez, subestima a inteligência dos conquistenses e da imprensa, que tem o sagrado dever de alertar a população.
Na cadeia de custos em concessão pública de transporte público você só salvará ou matará uma empresa de ônibus por meio destas variáveis:
A – Receita por km;
B – Custo por km.
A receita depende do prefeito e do número de passageiros circulando nos ônibus. E é aqui o ponto central da questão reveladora de que o prefeito decidiu falir o sistema de transporte público por completo. Pela linha em que ele vem atuando nestas duas variáveis ao mesmo tempo. Vejam:
1 – Não renovando a tarifa, congelada há mais de 16 meses.
2 – Fomentando a contravenção por meio do transporte clandestino (vans e automóveis);
A combinação destas variáveis, ditam e revelam que é falsa a aura de bom moço ou de gestor público que o prefeito Herzem Gusmão tenta passar, sugerindo que está tentando modernizar o sistema. Os fatos por si só demonstram a ausência total da lógica operacional, econômica financeira, jurídica e de gestão pública. Foge até da lógica em que os próprios vanzeiros notaram.
A falsa aura de que está tentando fazer pela Viação Vitória ou pelos vanzeiros, o que o PT não fez, não passa de total engodo. Viação Vitória e vanzeiros não passam de entidades que cumprem alguma função que, mais à frente, estes “entes” e a própria Vitória da Conquista também saberão. Nada como o tempo!
Então, a soma dos fatos e do que o prefeito apregoa nos dão pistas que há planos muitos além do que é visível ao cidadão comum. Em curso estão desejos acima dos de quem necessita do transporte público.
Se recuperar a empresa depende muito além do “caminhão de dinheiro” vindo de fora, sobretudo da revisão de custos e receita, fácil perceber a cortina de fumaça. Novos sócios não viriam e bancos não emprestariam recursos, vistos as demandas judiciais, bancárias e federais que a empresa enfrenta, fora o que a empresa Viação Vitória deve ao município: algo em torno de R$30,5 milhões.
A margem de gestão das empresas na redução de custos é estreita, porque tudo irá colidir com os desejos e interesses dos passageiros: mais horários, mais linhas e novos ônibus.
Senão, vejamos. Os maiores custos contidos no pacote de sobrevivência ou não das empresas de ônibus estão a folha de pagamento dos funcionários e, em segundo lugar, a tremenda conta de óleo diesel (que motivou a greve dos caminhoneiros, lembram?). Para levar a efeito a redução destas duas variáveis implicaria tirar ônibus de circulação, para isto significaria reduzir viagens ou “matar” ou extinguir linhas. Não há mágica. O espaço é estreito para se manobrar.
E entenda-se: recuperação judicial é exatamente isto : aumento de receitas, redução de custos e atuar nos três (Ps):
1 – Processos,
2 – Pessoas
3 – Produções (serviços).
Então, a Viação Vitória é irrecuperável e, em breve, o sistema de transporte público também invariavelmente será.
A prova cabal de que a Viação Vitória é irrecuperável está nos recorrentes atrasos salariais dos trabalhadores. Como uma empresa, amparada pela lei de recuperação judicial, não consegue garantir direitos sociais e sequer pagar os salários? Saiba que estando a empresa em recuperação ela fica desobrigada a pagar uma série de coisas.
Queremos crer que a Viação Vitória não atrase os salários por que simplesmente queira, e sim porque o prefeito possui outros planos e vem desajustando o sistema.
Finalizando, que as autoridades – em todas os níveis, a população e a imprensa se perguntem:
– POR QUE ESSE INTERESSE EM FALIR O SISTEMA PARA ENTÃO LICITA-LO?
O prefeito, por algumas vezes, já produziu pistas para mais esta “charada”. Ele chega a citar nomes das possíveis e novas empresas. Vamos aguardar os próximos e, tomara que não, sombrios capítulos desta novela assustadora para a população de Vitória da Conquista.
* Jussara Novaes é jornalista e Repórter Especial do Sudoeste Digital