OPINIÃO | A omissão da prefeita e as 176 vidas perdidas pela Covid-19 em 2021 (Isaac Bomfim)*

A atual prefeita de Vitória da Conquista chegou ao cargo depois do falecimento do prefeito Herzem Gusmão por complicações da Covid-19, ele que não governou um único dia do seu novo mandato, ainda contestado no âmbito da Justiça Eleitoral por uso da máquina pública e abuso de poder político.

Durante todo ano de 2020, a administração municipal, capitaneada por Herzem, gastou energia em combates inócuos junto ao Governo do Estado e na defesa do chamado tratamento precoce com medicamentos sem eficácia comprovada. O governo municipal recebeu mais de 40 milhões de reais para o combate à pandemia e não teve capacidade de apresentar um plano de ação que justificasse o uso dessa quantia.

Apesar das altas taxas de ocupação dos leitos clínicos e de UTI no município, a administração municipal usou por todo ano de 2020 sempre a mesma desculpa desonesta de que os leitos estavam sendo ocupados por pacientes de outros municípios. A Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista – PMVC nunca esclareceu à população, porém, que o SUS é um sistema universal e que a estrutura do Sistema de Saúde em nossa cidade é responsável por uma macrorregião em que os investimentos são proporcionais à demanda de cada município, de acordo com quantidade de habitantes de cada município.

Em 1º de Janeiro de 2021, a vice-prefeita assumiu de forma interina a gestão da administração municipal até o falecimento do prefeito no dia 18 de março, quando assumiu o comando do governo de forma definitiva. Naquele dia, o número de óbitos era 224.

No discurso de posse da prefeita no dia 22 de março, em sessão presencial na Câmara de Vereadores, quando 131 conquistenses já haviam morrido por conta da doença no ano, perfazendo um total de 355 vítimas e com ocupação de 91,4% das UTI’s, não houve uma menção sequer aos desafios impostos pela pandemia, indicando que a administração continuaria tratando a situação de forma neófita e empírica, sem a devida cooperação entre o governo municipal e o Governo do Estado. 

Pelo contrário, o combate inócuo continuou quando o Governador Rui Costa iniciou o processo de medidas restritivas com o objetivo de diminuir os casos de contaminação e desafogar a ocupação de leitos em todo estado.

Ações na Justiça, decretos mal redigidos e sem amparo legal foram tomando conta da imprensa na cidade com o objetivo de disputa de narrativa política entre a administração municipal e o Governo do Estado.

O que mais nos chama a atenção em todo este processo é a omissão da prefeita em enfrentar a pandemia com a coragem de uma gestora pública responsável pela vida de mais de 350 mil pessoas, talvez a ficha ainda não tenha caído e a prefeita se preocupe muito mais com a reorganização de egos dentro da Prefeitura do que com o enfrentamento real da situação.

São 110 dias de inércia e 176 histórias interrompidas, apenas em 2021, pela omissão do poder público municipal. Enquanto a prefeita se esconde atrás do secretário de administração, que também é o presidente do comitê gestor de enfrentamento e que se comporta como subprefeito, mas deve ter competência para tratar de saúde igual a qualquer um de nós, a população sofre sem atenção básica nos postos de saúde, onde falta médicos e aspirina.

Se a prefeita prefere se esconder no enfrentamento real a pandemia, ao menos, poderia designar a Secretária de Saúde para ser porta-voz das questões relativas à saúde.

Nossa cidade deve ser o único caso do país onde o gestor ou gestora responsável pelo combate à pandemia é um administrador e não um profissional de saúde.

Posto tudo isso, ficam os questionamentos:

Onde estão as cestas básicas distribuídas para as famílias dos alunos da rede municipal de ensino todos os dias nos meses de setembro e outubro? Quantas foram distribuídas em 2021?

Onde está o plano de ação para o combate à pandemia?

E enquanto à transparência dos recursos recebidos em 2020?
Quais são as ações para os próximos meses de pandemia?

Enquanto a prefeita se omite e dá pouca visibilidade aos boletins epidemiológicos, que agora não são mais postados nas redes da PMVC e apenas no site, os conquistenses já são maioria nos leitos de UTI da cidade. Nem as desculpas desonestas Sheila pode usar mais e a nós só resta esperar que a prefeita aja ao invés de usar a displicência como estratégia durante a pandemia. | *Isaac Bomfim é Presidente do Diretório Municipal do PT de Vitória da Conquista (conteúdo publicado originalmente em Revista Gambiarra) – Colagem de Rafael Flores.


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