O artigo de Edwaldo Alves oferece uma visão clara do cenário eleitoral em Vitória da Conquista, ressaltando a importância dos debates como ferramentas para expor as propostas dos candidatos. Contudo, muitos eleitores não baseiam suas decisões apenas em argumentos racionais. A análise do desempenho dos candidatos revela um contraste entre a segurança de Waldenor Pereira e a insegurança de Sheila Lemos, que parece mais preocupada em manter sua imagem do que em abordar os problemas reais da população.
O contexto eleitoral em Vitória da Conquista é marcado por debates acirrados e pela desconexão entre promessas de campanha e a realidade vivida, criando um cenário incerto que pode levar a um segundo turno. Waldenor Pereira se posiciona como um candidato forte, apoiado por uma militância ativa, enquanto Sheila Lemos enfrenta críticas severas e desafios legais que podem comprometer sua candidatura. A mobilização popular e a capacidade de cada candidato de se conectar com o eleitorado serão cruciais para o desfecho dessa eleição.
Analisei detidamente o debate mencionado por Edwaldo Alves e, assim como ele, constatei a ausência do que deveria ser o momento crucial para a definição do voto. Os candidatos parecem mais preocupados em evitar perdas do que em apresentar propostas concretas. Essa dinâmica reflete uma crítica à superficialidade das interações políticas, onde a retórica muitas vezes se sobrepõe ao conteúdo substancial das propostas.
Essa captura da apresentação e discussão de projetos me fez lembrar do que escreveu Nancy Fraser em “Reclamações Públicas: Uma Teoria Crítica da Justiça”. A qualidade do debate público é fundamental para a democracia participativa, permitindo que diferentes vozes sejam ouvidas e que os cidadãos possam deliberar sobre questões relevantes (FRASER, 2009, p. 125).
Debater com qualidade a política de governo não é a principal motivação de setores da direita, especialmente em Vitória da Conquista. Jürgen Habermas, em “A Transformação da Esfera Pública”, argumenta que a esfera pública deve ser um espaço de discussão racional, onde a apresentação de ideias deve prevalecer sobre a mera disputa pelo apoio eleitoral (HABERMAS, 1996, p. 360).
Essa foi a tônica da discussão, onde a prefeita candidata à reeleição, preocupada em evitar a perda de votos, compromete a efetividade do processo democrático e a capacidade dos cidadãos de fazer escolhas informadas. O desempenho do candidato Waldenor Pereira se destacou como o de um candidato bem preparado, dominando dados estatísticos fundamentais para entender a dinâmica da cidade. Enquanto Marcos apresentou boas ideias, faltou apoio para viabilizá-las. Sheila Lemos, por sua vez, tem adotado uma postura focada em sua campanha publicitária.
A eficácia dos debates eleitorais em influenciar a decisão dos eleitores é frequentemente questionada, pois muitos não escolhem seu candidato com base em propostas concretas, mas por fatores emocionais e sociais. Zizi Papacharissi, em “A Nova Esfera Pública: A Internet e a Política”, argumenta que as emoções desempenham um papel central na formação da opinião pública, com os eleitores tendendo a ser mais influenciados por narrativas emocionais do que por argumentos racionais (PAPACHARISSI, 2021, p. 68).
John Dewey, em “A Arte da Experiência”, enfatiza a importância da experiência social na formação das preferências políticas, sugerindo que as decisões dos eleitores são moldadas por contextos sociais e interações pessoais, em vez de uma análise crítica das propostas (DEWEY, 1927, p. 142). A superficialidade dos debates, que muitas vezes não consegue engajar os eleitores em um diálogo significativo, reflete a tendência de priorizar fatores emocionais sobre o conteúdo das propostas.
Quando a prefeita faz uma propaganda otimista sobre a saúde, contrastando com a realidade, evidencia-se uma desconexão com as dificuldades enfrentadas pela população. Essa contradição entre discurso e prática é comum em regimes que utilizam a retórica populista para manipular a percepção pública. Jan Zielonka, em “Contrarrevolução: Europa Liberal em Retirada”, afirma que a utilização de meias verdades e desinformação visa desacreditar a realidade e criar uma narrativa que favoreça os interesses do poder, minando os princípios da democracia participativa (ZIELONKA, 2018, p. 45).
A propaganda otimista da prefeita não apenas ignora as dificuldades reais enfrentadas pela população, mas também reflete uma estratégia de comunicação que pode comprometer a confiança pública na democracia participativa. A reação popular em relação ao local prometido como “Facilita Saúde”, ironicamente chamado de “Dificulta Saúde” devido à longa fila de espera, evidencia a frustração com programas que muitas vezes são criados para fins eleitoreiros e não como políticas públicas efetivas. Pierre Bourdieu, em “A Miséria do Mundo”, argumenta que a falta de eficácia nas políticas públicas gera desconfiança e descontentamento entre os cidadãos (BOURDIEU, 1998, p. 65).
Ivan Illich, em “Medical Nemesis”, discute como a medicalização da vida e a implementação de programas de saúde mal planejados podem resultar em mais problemas do que soluções, prejudicando a confiança da população nas instituições (NEMESIS, 1977, p. 23). Essa desconexão entre promessas eleitorais e a realidade vivida compromete a eficácia das políticas e ataca os princípios da democracia participativa, impedindo que os cidadãos exijam serviços públicos que atendam suas necessidades.
O atual cenário político eleitoral de Vitória da Conquista sinaliza para um segundo turno nas eleições municipais. Isso explica a urgência da atual prefeita em vencer no primeiro turno, pois a possibilidade de um segundo turno pode unir forças opositoras, refletindo a necessidade urgente de uma construção de unidade entre a esquerda, centro-esquerda e frações da direita antifascista para enfrentar adversários de extrema-direita.
André Singer, em “A Nova Classe Média: O que Ela É e Como Ela Mudou o Brasil”, argumenta que, diante da ascensão de forças fascistas, a articulação tática entre diferentes setores progressistas é essencial para preservar os princípios da democracia participativa e garantir a representação dos interesses populares (SINGER, 2018, p. 112).
A dificuldade enfrentada por Sheila Lemos não é apenas um reflexo de sua candidatura, mas também um indicativo da urgência de um esforço coletivo para enfrentar as ameaças à democracia e garantir que as vozes progressistas sejam ouvidas nas urnas. As publicações contraditórias sobre a intenção de votos da prefeita geram desconfiança e refletem um cenário de incerteza política que pode influenciar a decisão sobre sua inelegibilidade. Luís Roberto Barroso, em “A Constituição e o Direito Eleitoral”, argumenta que a integridade do processo eleitoral é fundamental para a manutenção da democracia, e a manipulação da informação pode comprometer a confiança pública nas eleições (BARROSO, 2015, p. 98).
José Afonso da Silva, em “Direito Constitucional Positivo”, ressalta que a inelegibilidade deve ser vista como um mecanismo de proteção dos princípios democráticos, garantindo que apenas candidatos que respeitem as normas e a ética pública possam concorrer (DA SILVA, 2019, p. 215). A desconfiança gerada pelas pesquisas contraditórias não apenas afeta a imagem de Sheila Lemos, mas também levanta questões sobre a legitimidade de sua candidatura, evidenciando a necessidade de resgatar e promover os princípios da democracia participativa em um contexto onde a transparência e a responsabilidade são essenciais para a confiança do eleitorado.
A decisão do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE/BA) de impugnar a candidatura de Sheila Lemos por questões legais relacionadas à dinastia familiar é um fator que deve impactar significativamente a eleição, levantando discussões sobre a legitimidade das candidaturas e a ética na política. Fernando Henrique Cardoso, em “A Democracia em Tempos de Crise”, considera que a concentração de poder em famílias políticas pode comprometer a representatividade e a diversidade necessárias em um sistema democrático (CARDOSO, 2001, p. 143).
Em última análise, José Afonso da Silva destaca que a inelegibilidade em casos de dinastia familiar visa resgatar e proteger os princípios da democracia participativa, garantindo que o acesso ao poder não seja restrito a um pequeno grupo (DA SILVA, 2019, p. 215). A decisão do TRE reflete uma preocupação legal e um esforço para promover uma política mais inclusiva e representativa, essencial para a saúde da democracia.
A caminhada de Waldenor Pereira, realizada no dia 21 de setembro, ilustra a mobilização popular em apoio ao candidato, evidenciando a força da militância e o entusiasmo do eleitorado. Alain Touraine, em “A Voz do Povo”, argumenta que a participação ativa da sociedade civil é crucial para a formação de identidades coletivas e para a construção de movimentos sociais que podem influenciar positivamente os resultados eleitorais (TOURAINE, 2011, p. 87).
Néstor García Canclini, em “Consumidores e Cidadãos”, ressalta que a mobilização popular não apenas expressa apoio a um candidato, mas também reflete uma busca por representação e participação efetiva nas decisões políticas, o que pode fortalecer a legitimidade da candidatura e aumentar a confiança do eleitorado (CANCLINI, 2013, p. 145).
Assim, a demonstração de força da militância em torno de Waldenor Pereira não apenas mobiliza votos, mas também contribui para a formação de um ambiente democrático mais vibrante e participativo, essencial para o sucesso eleitoral. A insegurança de Sheila Lemos durante o debate e sua dependência de propaganda institucional refletem um contexto político onde a manipulação da informação se torna uma ferramenta poderosa para moldar a percepção pública. Zygmunt Bauman, em “Modernidade e Holocausto”, destaca como a repetição de mentiras pode corroer a confiança nas instituições democráticas (BAUMAN, 2007, p. 56).
Dessa forma, a situação controversa de Sheila Lemos ilustra os desafios enfrentados desde que assumiu o governo municipal, alertando a população sobre os perigos da aceitação passiva de narrativas distorcidas que podem comprometer a integridade democrática.
* Herberson Sonkha foi professor de Filosofia e Sociologia de cursinhos da rede privada em Vitória da Conquista. Estudou Ciências Econômicas na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), mas não concluiu. Foi gestor administrativo lotado no Hospital de Base de Vitória da Conquista. Foi do Comitê Gestor da Secretaria Municipal de Educação de Anagé. Presidiu o Conselho Municipal de Educação de Anagé. Coordenou o Programa Municipal Mais Educação e a Promoção da Igualdade Racial do município de Anagé. Foi Vice-Bahia da União Brasileira de Estudante (UBES) e Coordenador de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de Vitória da Conquista (UMES). Militante e ex-dirigente nacional de Finanças e Relações Institucionais e Internacional dos Agentes de Pastorais Negros/Negras do Brasil. Membro dirigente do Coletivo Ética Socialista (COESO) organização radical de esquerda do Partido dos Trabalhadores. Atualmente é militante do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) é dirigentes municipal e estadual da corrente interna Fortalecer.
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Referências
ARENDT, Hannah. As origens do totalitarismo. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
BARROSO, Luís Roberto. A Constituição e o Direito Eleitoral. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e holocausto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007.
BOURDIEU, Pierre. A miséria do mundo. 2. ed. São Paulo: Editora Objetiva, 1998.
CANCLINI, Néstor García. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. 5. ed. São Paulo: Editora 34, 2013.
CARDOSO, Fernando Henrique. A democracia em tempos de crise. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2001.
DEWEY, John. A arte da experiência. São Paulo: Editora Unesp, 1927.
FRASER, Nancy. Reclamações públicas: uma teoria crítica da justiça. São Paulo: Editora 34, 2009.
HABERMAS, Jürgen. A transformação da esfera pública: investigação sobre uma categoria da sociedade burguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996.
ILLICH, Ivan. Medical nemesis: the expropriation of health. New York: Pantheon Books, 1977.
LIMA, Marcia. A luta pela democracia. São Paulo: Editora Unesp, 2020.
PAPACHARISSI, Zizi. A nova esfera pública: a internet e a política. São Paulo: Editora 34, 2021.
SINGER, André. A nova classe média: o que ela é e como ela mudou o Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
TOURAINE, Alain. A voz do povo. São Paulo: Editora 34, 2011.
ZIELONKA, Jan. Contrarrevolução: Europa liberal em retirada. São Paulo: Editora Unesp, 2018.