OPINIÃO – A espada de Dâmocles sobre a síndrome de Alan de Kard na demolição dos barracos em Conquista

espada_damocles

“Quem não se movimenta não percebe as correntes que o aprisionam”.

Ao adotar uma postura draconiana,
ordenando a linear derrubada de casebres, o prefeito de Conquista, Herzem
Gusmão (PMDB), salta com temerária rapidez da racionalidade para a dicotomia.

Ao mesmo tempo em que tenta se
blindar das críticas por desabrigar famílias, alegando ser a área de
preservação ambiental, diz agora que as invasões são estimuladas por deputados
de oposição.
Naquela mesma área, temos
conhecimento de largas faixas de terras em mãos de particulares, inclusive
pessoas ligadas a políticos locais. Os arquivos do Jornal A Tarde atestam em
meu favor. A história não pode ser alterada.
Temos estuado dizer que a área é de
preservação ambiental, mas a ação antecipou qualquer manifestação do Ministério
Público Estadual na mesma Serra do Periperi, onde surgiram mais de 30 “bairros”
sem qualquer intervenção de tratores e força-tarefa da Prefeitura, ao longo de imemoriais
anos.
Assistimos, com temeridade, o desenrolar
da espada de Dâmocles* sobre a cabeça do prefeito, suspensa há menos de 100
dias. A destruição dos casebres nos soa como um aviso diante da impotência de
se demolir a resistente barraquinha de madeira do Gancho, o “calcanhar de Aquiles”
da atual gestão.
Sem contar que, depois de tantas
idas e vindas, já podemos afirmar, com plena convicção, que a história ainda
haverá de mostrar o outro lado dessa demolição de casebres, no desenrolar da síndrome
de “Alan de Kard”, aquele que mandou demolir a bucólica casa de uma indefesa
aposentada.
Celino Souza, jornalista
* A expressão “espada de Dâmocles”  origina-se de
uma antiga parábola moral, popularizada pelo filósofo romano Cícero, em seu
livro, Tusculan Disputationes, escrito no ano 45 a.C.  A versão
de Cícero fala sobre Dionísio II, um rei tirânico que  governava a cidade
siciliana de Siracusa durante os séculos IV e V a.C.  Embora fosse rico e
poderoso, Dionísio era extremamente infeliz. Ele governava com mão de ferro e
havia feito muitos inimigos, vivendo atormentado pelo medo de ser assassinado.
O pavor do rei era tão intenso a ponto de ele dormir em um quarto cercado por
um fosso e só confiar em suas filhas para raspar-lhe a barba com uma navalha.

Dâmocles era um cortesão bastante bajulador na corte
de Dionísio. Ele dizia que, como um grande homem de poder e autoridade,
Dionísio era verdadeiramente afortunado. Dionísio ofereceu-se para trocar de
lugar com ele por um dia, para que ele também pudesse sentir o gosto de toda
esta sorte, sendo servido em ouro e prata, atendido por rapazes de
extraordinária beleza, e servido com as melhores comidas. No meio de todo o
luxo, Dionísio ordenou que uma espada fosse pendurada sobre a cabeça de
Dâmocles, presa apenas por um fio de rabo de cavalo.


Dâmocles não podia
acreditar na própria sorte, mas assim que ele estava começando a desfrutar da
vida de um rei, ele notou a espada afiada, pendurada no teto. Desse momento em
diante, Dâmocles perdeu o interesse pela excelente comida e pelos belos
rapazes. Ele abdicou do seu posto, dizendo que não queria mais ser tão
afortunado.

Para Cícero, o conto de
Dionísio e Dâmocles representava a ideia de que quem está no poder, vive
sempre  sob o espectro da ansiedade e da morte, e que “não pode haver
felicidade para aquele que está sob apreensões constantes.” A parábola mais
tarde se tornou um tema comum na literatura medieval e o termo “espada de
Dâmocles” agora é usado para descrever um perigo iminente.


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