JUSTIÇA – 155 processos de crimes contra mulheres aguardam julgamento pelo Tribunal do Júri em Conquista



Vitória da Conquista, 25 de agosto de 2004. A diarista Izaudete Machado de Souza voltava pra casa, a pé, depois de mais um dia exaustivo no trabalho. Seria o seu último dia de vida. Leia a REPORTAGEM ESPECIAL 



Ela caminhava a passos lentos pelas ruas, com o corpo vencido pelo cansaço da lida, quando o motorista Manoel de Jesus Dias, então com 53 anos, lhe ofereceu carona em seu caminhão-baú.


Izaudete aceitou. Acabara de cair nas garras daquele que, mais tarde, seria conhecido como “o maníaco do caminhão-baú”. Seviciada e morta pelo algoz, a outras vítimas de Manoel. diarista teve o corpo abandonado às margens da BR-116 (Rio-Bahia), para onde fora levada, a exemplo de outras vítimas de Manoel.


Com a repercussão do caso, e depoimentos de testemunhas que viram Izaudete entrar no veículo, Manoel foi preso. Outras vítimas começaram a aparecer Todos apontavam o motorista como autor. Caía a máscara do “maníaco do caminhão-baú”.

SEGUE DEPOIS DA VÍDEORREPORTAGEM
Entrevista com o juiz da Vara do Júri, Reno Viana Soares




Há alguns anos, Manoel fora condenado a 32 anos de prisão pela prática de outros crimes da mesma natureza, mas respondia em liberdade. Ele utilizava do mesmo “modus operandi”, que era abordar mulheres oferecendo carona, para em seguida levar ás proximidades do anel viário, onde eram violentadas sexualmente e depois estranguladas. 


Passados quase 15 anos é que, finalmente, o “maníaco do caminhão-baú” foi levado ás barras dos tribunais. Julgado e condenado – por 4 votos a 3 – a 15 anos de prisão pelo Tribunal do Júri, no Fórum João Mangabeira, em 6 de junho deste ano. Ele sempre negou os crimes.



SEGUE DEPOIS DA VÍDEORREPORTAGEM

Entrevista com o promotor de Justiça, José Junseira







155 processos de crimes contra mulheres aguardam julgamento pelo Tribunal do Júri

O caso envolvendo o motorista, que tardou a ser julgado, é apenas mais um entre os 1.600 processos de homicídios e mais de 3 mil de execuções penais que afogam a Vara do Júri, em Vitória da Conquista. Destes, 155 são feminicídios, crimes contra mulheres.


O município, que segundo reportagem veiculada no BBC Brasil em maio deste ano, é a 11ª do ranking entre as 50 cidades mais violentas do mundo, registra uma media de 200 homicídios anualmente. 


Os crimes,atribuídos em sua maioria a facções criminosas e a feminicídios, crescem na contramão dos julgamentos, apesar dos esforços concentrados do juiz titular da Vara do Júri, Reno Viana Soares e do promotor de Justiça, José Junseira.


Realizando uma sessão por semana (sempre às quartas-feiras), o empenho resulta em 50 julgamentos anuais. “Teremos um um passivo de 150 processos ao ano, que somados aos 1600, crescerá a cada dia”, observa o promotor. Processos acumulados estimulam o aumento da criminalidade, gerando sensação de impunidade.


A saída está no desmembramento, com a presidência do Tribunal de Justiça da Bahia instale, imediatamente, as varas que já foram criadas, porém apenas no papel, esquecidas nas gavetas da burocracia.


O juiz Reno Viana acredita que o desmembramento seja a solução para acelerar os processos, com julgamentos e condenações, como já ocorre em Salvador, Feira de Santana e até em Itabuna, município menor que Vitória da Conquista. “É preciso que os três Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) se disponham a apresentar uma solução para o problema, cada um em sua área de atuação, pois Vitória da Conquista precisa e merece maior atenção tanto na questão referente aos homicídios como a  questão prisional”, disse o magistrado.

FEMINICÍDIO 
Homem condenado a mais de 16 anos de reclusão 
por matar adolescente grávida em Conquista

Em  1º deste mês, o Tribunal do Júri condenou por crime de feminicídio o réu Carlos Henrique Silva Almeida, que já estava preso há um ano e um mês. Ele foi condenado a 16 anos e oito meses de prisão, com causa de aumento de pena referente a delito contra pessoa menor de 14 anos de idade.

O crime aconteceu em 9 de fevereiro de 2017, no interior de uma casa, localizada no Bairro Campinhos, quando o réu atirou na testa da sua namorada, Maricléia Santos Oliveira, de 13 anos de idade. Ele cumprirá o restante da pena em regime inicial fechado. O crime foi qualificado por motivo torpe, pois foi cometido em razão da vítima estar grávida, e decorreu de violência doméstica.

A decisão do juiz Reno Viana Soares acata a denúncia do promotor de Justiça José Junseira Almeida de Oliveira. Na acusação, o promotor sustentou que no dia 9 de fevereiro de 2017, por volta das 13h30, Carlos, que tinha 19 anos, foi armado para a casa da namorada Maricélia, de 13 anos, e começaram a discutir por conta da gravidez, que ele não aceitava.

Durante a discussão, “com a clara intenção de matar, Carlos deu um tiro na testa da vítima, que não resistiu e morreu”. O condenado ainda pode recorrer da decisão.

RELAÇÃO COMPLETA DAS 146 VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA 


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