Lançado em outubro de 2023, o Projeto Caravana, da Abraji, já realizou formações em diferentes territórios do Brasil. Criado com o objetivo de oferecer treinamentos específicos para organizações de comunicação locais, a iniciativa já passou pela comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, e pelas cidades de Poções e Vitória da Conquista, na Bahia. O próximo passo agora é atender a comunidade em Goiânia.
Ao todo, foram dez organizações de jornalismo local selecionadas para receber apoio nesta primeira fase do projeto. Todas foram escolhidas a partir de um chamamento público realizado no segundo semestre de 2023.
Esta é a primeira Rede de treinamento móvel oferecida pela Abraji, inspirada nas iniciativas exitosas ‘Jornalismo e Periferias’ e ‘Jornalismo Local’, também organizadas pela associação. A coordenação ficou a cargo das jornalistas Nina Weingrill (cofundadora da Énois Laboratório de Jornalismo) e Thaís Cavalcante (cofundadora do portal Favela em Pauta).
Primeiras edições do projeto e resultados
Em sua primeira edição, o Caravana foi até a Rocinha, no Rio de Janeiro. As formações aconteceram ao longo de dois dias, em parceria com a Associação Fala Roça, organização criada por um grupo de moradores da comunidade com a finalidade de veicular notícias de seu território.
As atividades incluíram dois workshops com aulas de história da Rocinha, fundamentos das práticas jornalísticas, desenvolvimento de conteúdo e uso da Lei de Acesso à Informação (LAI), entre outros tópicos. Gabi Coelho, diretora da Abraji, foi instrutora de uma das oficinas que contou com a presença de jornalistas, ativistas e comunicadores locais. Para Michel Silva, um dos fundadores do Fala Roça, “foi importante receber este projeto na Rocinha em parceria com a Abraji para podermos fortalecer ainda mais as redes de comunicadores que estamos construindo nos últimos anos”.
A segunda itinerância foi até as cidades baianas de Poções e Vitória da Conquista. Os encontros também se deram em dois dias de atividades e reuniram estudantes de jornalismo da Universidade Estadual Do Sudoeste Da Bahia (Uesb), comunicadores e 31 pessoas da comunidade local. A iniciativa aconteceu através de uma parceria com o Núcleo de Educação Midiática do Site Coreto, um veículo de mídia local, com o apoio do Site Avoador e do Programa de Jornalismo como Transformação Social, coordenado pela professora Carmen Carvalho, do curso de Jornalismo da Uesb.
A temática central das atividades foi “Jornalismo local e participação comunitária na cobertura das eleições”, que tinham como finalidade debater formas de a comunidade contribuir para o fortalecimento da cobertura eleitoral pela mídia local. Também foi debatida a criação de uma rede de comunicação composta por veículos e organizações de jornalismo para atender as demandas da população da região.
Algumas ações foram elaboradas de forma orgânica durante os encontros pela rede de colaboradores, com o intuito de manter a parceria entre as organizações. Os encaminhamentos propostos incluem:
- Criação de microbolsas no Fala Roça;
- Parceria com organizações como o UESB (Site Avoador) e Conquista Repórter, em Poções (BA);
- Lançamento da campanha de captação de recursos via pessoa física no Site Coreto;
- Lançamento do “Cafezin com a comunidade”, encontros mensais itinerantes do site Coreto com a comunidade de Poções em associações de bairro, centros comunitários e espaços coletivos.
Perfil dos participantes e destaques das formações
Através de pesquisas realizadas com os participantes, foi possível traçar um perfil das pessoas mais impactadas pelas formações que já aconteceram nessa primeira fase do projeto. Foram 46 pessoas que completaram as formações oferecidas, sendo 23 no Rio de Janeiro e 23 em Poções.
A média de idade entre os participantes é de 29 anos, a maioria se identifica como pessoa preta ou parda e, em sua maioria, são mulheres cisgênero. Também foi possível identificar a ocupação dos participantes, que se distribuem entre estudantes, comunicadores, professores e funcionários públicos. Entre os facilitadores dos encontros, o perfil se mantém semelhante: são, predominantemente, mulheres negras e naturais de cidades da região Nordeste.
Em sua totalidade, os participantes declararam ter interesse em participar de novas formações oferecidas em seu território. Houve sugestões de temas que podem ser abordados em próximos encontros, com destaques para foco em comunidades específicas, como remanescentes de quilombolas, moradores de favelas, e a realidade de regiões fora do eixo Sul-Sudeste; questões como justiça e cidadania, desigualdade entre localidades, políticas públicas, democracia, gênero, letramento racial; e tópicos relacionados com produção jornalística e educação, como dados, estrutura textual, habilidades em produção de conteúdos de mídia, comunicação comunitária, criação e edição de conteúdo para redes sociais e técnicas de entrevista.
Próximas etapas da iniciativa
A próxima formação presencial dessa primeira etapa do projeto está prevista para a primeira semana de março. O Caravana vai até a cidade de Goiânia promover formações com o Centro de Formação e Produção Agroecológica Santa Dica dos Sertões (CEPAS), que pertence ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), em parceria com o Coletivo Magnífica Mundi, projeto da Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia da Universidade Federal de Goiás (UFG), que promove oficinas de comunicação.
“O projeto tem sido uma oportunidade para que as organizações se aproximem das suas comunidades, entendam de que forma podem servi-las e também como incluí-las no processo jornalístico”, afirma Nina, coordenadora do Caravana.
Os conteúdos e atualizações sobre as atividades do Caravana ficam disponíveis no site e nas redes sociais da Abraji. Saiba mais sobre o funcionamento do projeto no link.
Crédito da imagem: Leonel Brito