ITAPETINGA | Pesquisadoras da Uesb investigam óleos essenciais com potencial inseticida

Valcelene Amorim – A busca por produtos inseticidas mais eficientes, seguros e menos tóxicos é de grande interesse para a ciência, visto que muitas doenças de importância epidemiológica são transmitidas por insetos.

É o caso dengue, Zika e chicungunha, causadas pelo mosquito Aedes aegypti. Com a eliminação ou controle desses transmissores nos ambientes, é possível evitar surgimento de epidemias e endemias, que provocam grandes problemas de saúde pública.

Pensando nisso, cientistas do Laboratório de Pesquisas de Inseticidas Naturais (Lapin) e do Laboratório de Pesquisas e Produtos Naturais (Lapron), ambos da Uesb, vêm desenvolvendo estudos acadêmicos para produção de inseticidas alternativos no mercado. 

A pesquisa é liderada pelas professoras Simone Andrade Gualberto e Débora Cardoso da Silva, vinculadas ao Departamento de Ciências Exatas e Naturais (Dcen), campus de Itapetinga.

Segundo Gualberto, o trabalho é feito com espécies do semiárido baiano. “Atualmente, estamos realizando estudos com plantas aromáticas cultivadas, utilizadas como condimentos e chás. 

São elas: hortelã, manjericão, alecrim, orégano, poejo, alfavaca, tomilho, entre outras”, esclareceu. Ainda de acordo com a pesquisadora, todas as espécies estudadas produzem óleos essenciais, constituídos por moléculas voláteis, que têm como função promover, naturalmente, a adaptação das espécies ao ambiente onde se encontram, protegendo a planta contra agentes patógenos, herbivoria, raios untravioleta (UV), dentre outros benefícios.

A pesquisa é liderada pelas professoras Simone Gualberto e Débora da Silva (Foto: Acervo do estudo)

Alternativa aos inseticidas sintéticos – De acordo com as pesquisadoras, é importante investigar inseticidas alternativos ao que já são comercializados atualmente, porque a maioria destes são sintéticos, para os quais muitos efeitos indesejáveis já foram comprovados. Um dos principais problemas apontados pelas pesquisadoras é que o uso destes produtos, em larga escala, contribui para o desenvolvimento de insetos mais resistentes, tornando a eficácia dos inseticidas sintéticos baixa ou nula. Por conta disso, esses inseticidas são usados em doses cada vez maiores com aplicações mais intensas, provocando, dessa forma, a contaminação de solos, águas, alimentos, animais e, consequentemente, do próprio ser humano.

Já os produtos de origem vegetal apresentam em sua constituição várias moléculas bioativas, que apresentam propriedades farmacológicas e inseticida. “Os constituintes químicos dos óleos essenciais são voláteis e podem agir como inibidores da alimentação de insetos ou dificultadores de crescimento, desenvolvimento, reprodução e comportamento. Os inseticidas botânicos também podem apresentar ação tóxica e causar a morte de insetos, atuando sobre o sistema nervoso central”, explicou Gualberto.

Além destes benefícios, as pesquisadoras sublinham que o uso de inseticidas de origem vegetal pode desencadear um efeito sinérgico, tornando esses produtos mais ativos contra os organismos alvos, podendo ser usados em concentrações menores e, portanto, produzindo menos efeitos tóxicos ao ambiente.

(Foto: Acervo do estudo)

Preservação ambiental – A pesquisadora Débora da Silva destaca também que, por ser o Brasil um país com grande biodiversidade, muitas plantas ainda não foram estudas, e sua composição química, portanto, ainda é desconhecida. No entanto, para a continuidade de estudos como este, é indispensável a preservação de diferentes biomas, a exemplo da Caatinga, e das comunidades tradicionais que vivem neste bioma e em seu entorno.

“São estas comunidades que detém o conhecimento da utilização das diferentes espécies e que nos dão “pistas” para averiguarmos as suas potencialidades. Alguns estudos realizados no Lapron e no Lapin demonstraram potencial efeito inseticida e repelente sobre Aedes aegypti de diferentes plantas deste bioma, como Croton tetradenius, Croton argyrophilus e Aspidosperma pyrifolium”, enfatizou Silva.

(Foto: Acervo do estudo)

Etapas da produção – Ainda de acordo com Silva, a comprovação do potencial inseticida e repelente de diferentes partes das plantas estimula a continuação dos estudos. No entanto, para se chegar a um produto, muitos passos devem ser vencidos, como a avaliação da toxicidade em modelos in vitro e in vivo, a formulação de misturas de óleos essenciais e a preparação de diferentes tipos de formulações para diferentes aplicações.

“Atualmente, estamos trabalhando, também, no desenvolvimento de uma metodologia experimental para realizar os testes de atividade repelente dos produtos obtidos de forma mais rápida, sensível, com menor custo e confiável. Destacamos que somos um grupo de pesquisa pioneiro no desenvolvimento de ensaios repelentes preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no Brasil”, concluiu Silva. | com informações da Ascom/Uesb.


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