INVESTIGAÇÃO | Suspeito de manter família em cárcere privado por 17 anos no RJ é baiano de Itapetinga; saiba detalhes

SUDOESTE DIGITAL (Da redação) – Luiz Antônio Santos Silva, 49 anos, o homem que manteve a família em cárcere privado por 17 anos em Guaratiba, Rio de Janeiro, teve uma infância e adolescência conturbadas em Itapetinga, município do sudoeste baiano, a 560 km de Salvador.  A família de Luiz sempre morou no pacato bairro São Francisco de Assis, mais conhecido como “Rua Nova”.

Conhecidos do agressor e antigos amigos e professores não esconderam a perplexidade assim que o caso ganhou repercussão nacional, após a polícia efetuar a prisão, e a mídia expor o rosto do homem. Com receio de que algo negativo lhes aconteçam, as fontes ouvidas pela reportagem preferem o anonimato, mas detalham como era a vida de Luiz na cidade.

“Sempre foi batalhador, mas de pouca conversa. Era inseguro e sofria rejeição social”, recorda um antigo morador do bairro, desde a década de 1980. “Meus primos estudaram com ele no antigo Colégio Manoel Novais, a famosa ‘Escola de Menor’ (sic), ali perto da pracinha Zilda Ribeiro, relata.

Uma mulher, que diz ter feito parte da direção da escola à época que Luiz passou pelas salas de aula, recorda que, vez em quando, a família era chamada para se inteirar sobre a situação do aluno. “Quem mais estava próximo era o tio dele, finado Izauto”, relembra, sem precisar como eram as notAs do então estudante.

Sem perspectiva de trabalho na cidade e levado pela descoberta de novos horizontes, Luiz partiu com a família, ainda muito jovem, para a zona oeste do Rio de Janeiro. Foi ali, anos depois, que a cidade escolhida por ele, ganhou fama negativa pelas atrocidades cometidas pelo homem. Guaratiba escreveu em suas páginas a triste história da família encarcerada por 17 anos.

Família libertada de cativeiro após 17 anos ficava até três dias sem comer

O homem suspeito de manter mulher e dois filhos em cativeiro por 17 anos em uma casa em Guaratiba, na zona oeste do Rio de Janeiro, teve sua prisão convertida em preventiva, sem prazo definido, no sábado (30), após audiência de custódia presidida pela juíza Monique Correa Brandão dos Santos Moreira.

A Justiça atendeu ao pedido do Ministério Público, que argumentou haver “indícios de autoria e materialidade e para manutenção da ordem pública” e o “concreto risco à integridade psicofísica das vítimas”.

Luiz Antônio Santos Silva, 49, foi preso em flagrante na última quinta (28). Na audiência, ele foi representado por um defensor público.

Ao decretar a prisão preventiva, a juíza também citou como argumento a “suposta conduta do agente, que restringiu a liberdade da sua esposa e filhos, privando-os de alimentação e condições mínimas de sobrevivência, submetendo-os, ainda, a intenso sofrimento físico e mental por longos anos”.

A magistrada relatou na decisão que a mulher de Silva, Edna, 40, sofria de fraquezas impostas pelas condições precárias e que os filhos, Gisele, 22, e Wesley, 19, foram encontrados com as extremidades amarradas por cordas. Seus nomes completos não foram divulgados.

“[Edna] informou, ainda, que o custodiado nunca permitiu que seus filhos frequentassem escola e que já teriam ficado até três dias sem comer”, escreve a juíza.

Edna, Gisele e Wesley foram foram libertados do cativeiro pela Polícia Militar após denúncia anônima. O marido e pai das vítimas virou alvo de inquérito na 36ª Delegacia de Polícia, em Santa Cruz, também na zona oeste.

As vítimas foram encontradas com quadro de desnutrição e desidratação grave e ficaram internadas no Hospital Rocha Faria, em Campo Grande, até este sábado.

Em entrevista à tv, Edna relatou que os três apanhavam com fio e tinham seus pedidos de socorro abafados por música alta que o marido colocava quando chegava em casa do trabalho. Segundo vizinhos relataram à reportagem, Silva aumentava o som por volta das 20h e, por vezes, mantinha-o no último volume até o amanhecer, podendo ser ouvido a ruas de distância.

“[A gente] ficava sem comida, sem água e apanhando… Meus filhos, também amarrados, apanhavam de fios e [ele] enforcava a gente também”, relatou a mulher na entrevista.

A irmã de Edna, que pediu para não ter o nome divulgado, disse à reportagem que a vítima e o marido eram primos e que a família nunca apoiou o relacionamento. Segundo ela, Silva apresentava comportamento agressivo e, após o nascimento da filha, decidiu se mudar de casa e proibir que a mulher tivesse contato com os parentes.

Nunca desisti de procurar. Ele não queria contar onde tavam (sic) morando”, disse a irmã de Edna.

A reportagem esteve na casa na sexta (29). Pela única janela existente, na parte dos fundos, viu uma cama enferrujada com um colchão manchado. No chão, havia um pote de margarina com líquido amarelo dentro, além de lixos e sacolas espalhados.

Vizinhos relataram que nos últimos 20 anos foram raríssimas as vezes que viram a mulher e os dois filhos. “A gente sabia que ele tinha a esposa e os filhos, mas nunca via”, disse uma moradora da região que pediu para não ser identificada.


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