Fiscalização Sanitária ignora venda de produtos fora do prazo de validade; ovos, carcaças de frango e queijo, chocolate e iogurte são vendidos em carros de som

Jussara Novaes (Sudoeste Digital) – “É queijoooooo!!!! Queijo de Minas”, brada o anunciante em um carro de som, com os produtos expostos na carroceria, sem qualquer selo de inspeção ou condições adequadas de refrigeração ou armazenamento. É comum encontrar plas ruas de Vitória da Conquista, especialmente nas feiras-livres e arredores, alimentos que podem oferecer riscos à saúde da população.
O preço baixo, em relação aos encontrados em padarias e supermercados, atrai uma multidão de fregueses. Em poucos minutos, todo o estoque é vendido e os vendedores retornam para suas cidades, geralmente no Norte de Minas Gerais. Em breve, estarão de novo em Conquista, certos da impunidade, longe dos olhos da fiscalização sanitária.

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Foto: Redes sociais

O que é vendido como queijo, na verdade é uma espécie de “soro”, misturado com batata inglesa para dar consistência e aparência do produto. Na maioria das vezes, o leite adicionado tem bactérias. O fraudador também usa leite de má qualidade, que é descartado pelas indústrias por estar fora dos padrões de venda.

Em vez de usar 10 litros de leite para fazer 1 quilo de queijo (que é a fórmula padrão), os golpistas chegam a usar apenas cinco litros da matéria-prima e ainda adicionam amido de milho para compensar, fazendo “render” o produto final.

“É um produto que deveria ser, obrigatoriamente, descartado, mas eles aproveitam para ludibriar a população”, reclama um produtor de queijo de Ribeirão do Largo, que prefere o anonimato.

“A gente é acossada pela fiscalização. Eles exigem mil e uma coisas da gente, mas deixam escapar esses produtos clandestinos”, lamenta. E não é só queijo clandestino que chega em veículos abertos às casas de Conquista. Produtos como iogurte, carcaças de frango, chocolate e até ovos completam o cardápio de alimentos sem inspeção.

No caso do chocolate, dizem que a carga tem que ser vendida abaixo do preço para que o caminhão retorne vazio à cidade de origem. Já o frango, chegam a usar marcas famosas para atrair os consumidores e, no caso dos ovos, alegam que a produção está em alta. Um perigo, pois, se com refrigeração, ovos tem validade de até 60 dias a partir da data da postura, sem refrigeração (no caso das vendas nas ruas) , a durabilidade varia – até dez dias no verão e no máximo quinze, no inverno.

Como normalmente o prazo entre a postura e o consumo é superior, muitas vezes consumimos ovos vencidos. O preço baixo, atrai: São 30 unidades por R$10,00, enquanto que nos supermercados a dúzia custa entre R$5,50 e R$6,80.

A nutricionista Aída Couto Dinucci Bezerra, doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP), alerta para os riscos desses alimentos. “As doenças veiculadas por alimentos (DVAs) de origem biológica podem ser causadas por diversos agentes, que já se encontram nos alimentos antes de sua obtenção, e por aqueles que contaminam os alimentos durante sua manipulação (preparo para consumo)”.

Segundo ela, entre os alimentos que mais frequentemente aparecem relacionados com surtos de toxinfecções alimentares destacam-se a carne bovina e os ovos, seguidos pela maionese, responsáveis pela veiculação, principalmente, das bactérias Salmonella. As DVAs apresentam como sintomas, em geral, dores abdominais, náuseas, vômitos, diarreias e, às vezes, febre. Até o fechamento desta matéria a reportagem do Sudoeste Digital não obteve respsota das autoridades sanitárias a respeito do assunto.


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