Postagens em redes sociais trazem a informação de que o governo da Bahia teria vendido 10% do território do estado para grupos chineses, onde estes iriam construir uma “cidade inteligente”. Segundo as postagens, o Supremo Tribunal Federal(STF) já teria autorizado o desmatamento da área para início do projeto.
De acordo com as publicações, “será uma cidade com edifícios de até 30 andares em um ambiente em que o esgoto é 100% coletado e tratado” e “a energia será eólica e solar”. Um tuíte com estas informações foi compartilhado mais de 700 vezes e recebeu mais de 1.500 curtidas. A publicação pode ser encontrada também em mensagens de grupos do Telegram e no GETTR, nova rede social, criada por um ex-assessor de Donald Trump.
Algumas das postagens trazem atalho para nota de um portal de notícias. A nota trata do mesmo assunto, mas com informações um pouco diferentes. A construção da cidade, segundo a nota, seria um “projeto em fase embrionária”.
Ali, no entanto, há detalhes mais específicos. A cidade inteligente seria construída no município de Jaguaripe, que fica a 239km da capital baiana, Salvador. O projeto estaria relacionado à construção de uma ponte que deve ligar Salvador à ilha de Itaparica, facilitando também o acesso a Jaguaripe, que fica próximo de Itaparica.
Consultada, a Secretaria de Infraestrutura da Bahia(Seinfra) confirmou que existe o projeto de uma ligação rodoviária entre Salvador e Itaparica, que inclui a ponte. O contrato de concessão do projeto foi assinado em 2020, com um grupo de empresas chinesas: China Railway 20 Bureau Group Corporation – CR20; CCCC South America Regional Company S.Á.R.L e China Communications Construction Company Limited – CCCCLTD. O valor do investimento é de sete bilhões de reais.
Sobre o projeto de uma cidade inteligente, construída pelos chineses, a Secretaria de Planejamento da Bahia(Seplan) afirmou que existem estudos técnicos sendo realizados para o desenvolvimento de uma cidade inteligente. Mas nega que já tenham sido definidos os investidores do projeto. Portanto, nega a participação chinesa. Segundo o governo da Bahia, os terrenos citados nem são de propriedado do Estado.
Já a Prefeitura de Jaguaripe, que seria a sede da “cidade inteligente”, informou que o município não tem controle sobre as terras compradas, porém uma cidade inteligente faz parte dos planos do atual prefeito, Heráclito Arandas (PSD), para incentivar o crescimento local. Mas ainda não há nenhum projeto em andamento.
Ao contrário das postagens, algumas notas na imprensa baiana afirmam que as terras vendidas aos chineses pertenceriam ao banqueiro Daniel Dantas. Em nota ao MonitoR7, a assessoria do Banco Opportunity, fundado por Dantas, afirma que a informação não procede: “As terras pertencentes ao Opportunity na Bahia não estão à venda e não foram vendidas a investidores chineses”.
Portanto, são verdadeiras as informações de que há projetos para desenvolvimento de uma cidade inteligente naquela região da Bahia, confirmados pelo Governo do Estado e pela Prefeitura de Jaguaripe. Mas os projetos estão em fase inicial e não tem participação chinesa. E se estão em fase inicial, é falsa também a informação de que o STF teria autorizado o desmatamento da área.
Empresas chinesas, no entanto, são responsáveis por um projeto de infraestrutura que pode viabilizar a cidade inteligente no futuro, ao ligar a região à capital do Estado, por rodovia, incluindo uma ponte. Um projeto de R$ 7 bilhões.