EXCLUSIVO – PCC recruta jovens em Vitória da Conquista; facção age dentro e fora dos presídios

Willians Alves de Souza filho, o "Nem Bomba", 36 anos
Apesar do sigilo das investigações sobre as 7 mortes registradas em pouco menos de dois anos no Conjunto Penal de Vitória da Conquista, já se sabe que existe relação na maioria delas com a facção PCC, que age dentro e fora dos presídios em todo o País. Por trás do interesse, farta mão-de-obra juvenil e acesso a armas e drogas que conseguem burlar a fiscalização e chegam de todo o País pelas rodovias federais que cortam ou estão próximas ao município.

Pelo menos 200 jovens recrutados pela facção, estão prontos para agir, matar ou morrer que ousar invadir territórios delimitados. As ordens partem tanto de fora, quanto de dentro das celas. A cada revista encontram-se celulares, armas artesanais e drogas.

Grande parte consegue passar burlando a revista inicial e a outra, chega ao pátio, arremessada pelos muros nos fundos da unidade prisional. De dentro, presos mandam matar a sangue-frio: das mais de 200 mortes anuais registradas em Conquista, mais de 90% são por envolvimento com drogas.

A pronta ação das polícias, a exemplo da PRF, tem frustrado a entrada de remessas de drogas quase toda semana, mas os criminosos não desistem com facilidade. Somente numa semana de operação, neste mês, mais de um tonelada de droga foi apreendida na BR-116 pela PRF, em Conquista.

Instalada há mais de 10 anos no terceiro município da Bahia, o braço conquistense da facção somente se tornou público com a revelação da participação de Willians Alves de Souza filho, o “Nem Bomba” (imagem acima), 36 anos, com responsável por assaltar R$ 400 mil de um carro-forte, dentro de um shopping, em Vila Velha. LEIA AQUI

Intitulado líder da facção Bonde do Nem
Bomba BNB/TD2, ligada ao PCC, ele é o
criminoso que encabeça a lista dos mais
procurados da Bahia. “A facção é responsável
por fornecer armamento, advogados e
explosivos, geralmente. São produtos caros”,
explicou o delegado capixaba Romualdo Gianordoli.

Foi com o apadrinhamento de Nem Bomba que outros três, Alisson, Cássio e Ewerton, também
conseguiram entrar no grupo protegido pelo
PCC. LEIA AQUI. Com a ajuda da organização criminosa, é que
Nem passou a integrar após cumprir um rito de
iniciação.

Depois de dominar a zona leste de Vitória da Conquista, ele partiu para dominar todo o litoral
extremo sul da Bahia.
Entre as várias prisões — e também uma fuga
de presídio — Nem chegou a permanecer em
regime diferenciado dos demais detentos, que
o isolava no banho de sol e também impedia
contato direto com familiares.

“Ele passou por esse regime devido à
periculosidade, após ser preso pela Polícia
Federal, em 2013, em Guriri, no Espírito Santo”,
pontuou Gianordoli.
Nem Bomba vivia bem em Nova Almeida, na
Serra, e já havia começado um pequeno
tráfico na região.

“Trouxe a família para cá
desde o início do ano, tinha casa boa e já fazia
um pequeno tráfico no local. Acreditamos que
estivesse ali por ser próximo da praia e
também por ser mais longe da Bahia, de onde
vinha”, observou o delegado

PISTOLAS E DROGAS


O novo presídio, que custou R$ 33 milhões, possui 529 vagas para homens e 217 para mulheres. Os grupos já transferidos para cumprimento de penas nos regimes fechado e semiaberto, comandam as alas. Se transformou num “barril de pólvora”.

Segundo fontes policiais, além das duas grandes facções rivais Bonde do Neguinho (BDN) e Bonde do Nem Bomba (BNB), Vitória da Conquista ainda convive com um tal Bonde do Jurema (BDJ). Em janeiro de 2017 o Sudoeste Digital já tinha acesso a uma investigação sigilosa apontando a existência de um braço do PCC instalado na cidade, com total controle sobre o BNB.

A facção teria encomendado, ano passado, 12 pistolas semiautomáticas para seus membros locais, mas a mercadoria acabou apreendida pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Santa Terezinha de Itaipu, no Paraná, com Rhuan Pablo Santos Oliveira, de 23 anos,  natural de Eunápolis (BA).

Ele confessou que levaria a mochila até Vitória da Conquista e para isso receberia o valor de R$ 2,5 mil. Não disse nomes, com medo de pagar com a vida pela delação, assim como as “mulas” (pessoas que transportam drogas) presas ao longo da BR-116, também pela PRF, com centenas de quilos de maconha, cocaína, pasta base e outras substâncias proibidas, além de armas pesadas.

CONQUISTA SOB CERCO

De um lado, a facção dominada por Jasiane Silva Teixeira, vulgo “dona Maria”, que tem como principal gerente Juarez Vicente Morais, 27 anos, o “neguinho”. Dissidente da facção rival, se juntou a Jasiane para desbravar fronteiras.

Seu poderio, influência  e ousadia são tamanhos que no território sob o seu comando quem entra é condenado à morte sumária. O aviso territorial é dado por inscrições em letras grandes com as iniciais BDN, ou Bonde do Neguinho. A maioria dos conjuntos habitacionais do “Minha Casa, Minha Vida” tem esses registros nos muros e paredes de residências.

Para resguardar suas ações e investidas criminosas, o ora foragido da Justiça “neguinho”, tem sob o seu comando um exército com mais de 100 jovens, entre crianças e adolescentes. São fiéis  “soldados”, responsáveis pela execução de cobranças, mortes e por seu esconderijo.

O último deles ficava no triângulo compreendido entre os conjuntos habitacionais do “Minha Casa, Minha Vida”, entre os bairros do Atacadão, Campinhos e Miro Cairo. Do outro, o autodenominado BNB, ou Bonde do Nem Bomba, comandado pelo dono do apelido, William Alves Souza Filho. Igualmente foragido, continua ordenando crimes aos seus sicários.

Tendo ao seu lado o “braço direito”, Alisson Silva Souza, 24 anos, seu raio de atuação está concentrado nos bairros Pedrinhas, Alto da Conquista, Cruzeiro e Alto Maron. Todos os líderes e comparsas mais próximos tem passagens pela polícia.


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