EXCLUSIVO – Ministério Público vai apurar compra das mochilas gigantes em Jequié

Reprodução de internet

O Ministério Público de Jequié irá apurar os trâmites da licitação que resultaram na aquisição das mochilas gigantes, distribuídas a crianças da creche do município. A atuação do Ministério Público se dará por meio de procedimento preparatório, que  é instaurado para apurar notícias de irregularidades quando os fatos ou a autoria não estão claros.

O MP, por intermédio da 8* Promotoria de Justiça de Jequié, instaurou Procedimento Preparatório de Inquérito Civil para apurar as circunstancias da distribuição de mochilas na rede pública municipal supostamente incompatíveis com o tamanho dos alunos da educação infantil no município de Jequié-BA. O pedido foi recebido nesta terça-feira (9/5) pela Promotora de Justiça Juliana Rocha Sampaio e agora será investigado. O secretário de Educação do município, Roberto Gondim, afirmou que não teria problema em reconhecer erro na padronização do material. Ele apontou ainda que a licitação teve que ser lançada antes do processo de matrículas ter sido concluído. Assim, segundo o gestor, não havia como ter uma dimensão do total de alunos que a rede de ensino teria. Vencida por uma empresa de Santa Catarina, a licitação previa a aquisição de 18 mil mochilas, 18 mil estojos contendo itens como lápis, borracha, caneta, dentre outros, e 36 mil camisas para fardamento escolar. O montante envolvido em toda a compra chegou a R$ 467,8 mil. Somente as mochilas custaram R$ 205,2 mil, o que representa R$ 11,40 por unidade.

Depois de reunidas mais informações, o procedimento preparatório pode se transformar em inquérito civil, ou mesmo redundar diretamente na propositura de uma ação, caso os fatos e autores fiquem bem definidos durante seu trâmite.

Os kits escolares entregues pela prefeitura do município de Jequié, a cerca de 356 quilômetros de Salvador (BA), são como qualquer outro: estojo, lápis, caneta e borracha. No entanto, uma situação inusitada virou piada na internet desde a sexta-feira (5/5), assim que pais de alunos perceberam o tamanho das mochilas entregues pelo órgão. Aparentemente, o tamanho único do objeto não foi projetado para as crianças mais novas, que literalmente cabiam dentro da mochila. O assunto, claro, rendeu boas risadas na internet.

A foto de uma criança dentro da mochila, com apenas a cabeça para fora e sorrindo, foi compartilhada por muitas pessoas na web e o assunto acabou no Trending Topics do Twitter. Outra imagem mostrava os pequenos seguindo para a escola, com suas mochilas nas costas, quase arrastando no chão. Um internauta brincou: “Vocês que não entenderam. Mochila para crianças é na verdade mochila para GUARDAR crianças”. Em outro comentário falaram: “Acho que era para botar as crianças dentro com a cabecinha para fora e alguém levar, porque não é possível”. Outra comentou que a mochila dava pra levar todo mundo. “Minha gente, mas nessas mochilas que a prefeitura de Jequié distribuiu na creche, cabem três vidas inteiras, uma penteadeira, cabe nós tudo!”, brincou.

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Segundo a Prefeitura Municipal de Jequié, como o Ministério da Saúde recomenda que alunos da pré-escola não carreguem mais que 10% do seu peso, “não tem como entregar a uma criança de creche uma mochila com tamanho ideal”. Para o gestor municipal, crianças desse nível escolar, tradicionalmente, não podem e não devem carregar suas mochilas. “Ou será que estas pessoas querem afirmar que os pais de hoje não estão servindo nem pra carregar a mochila de seus filhos?”, sugere a nota (leia íntegra da nota no final do texto).
Na sexta-feira (5/5), a entrega dos kits foi divulgada no site da prefeitura e nas redes sociais. No texto, a pasta comenta que a produção dos kits faz parte da nova política educacional que vem sendo implementada desde janeiro e deve atingir cerca de 18 mil alunos da rede pública de ensino. “A distribuição dos kits escolares vem sendo feita paulatinamente nas escolas da rede pública municipal e deverá contemplar todos os alunos atendidos pelo município”, diz a nota. Além do kit escolar, as crianças e adolescentes também receberam uniformes, que vieram nos tamanhos corretos.
Apesar das brincadeiras, algumas pessoas defenderam as ações da prefeitura. “Independente do tamanho da mochila era o mínimo que a prefeitura tinha que fazer pelas crianças. Bela iniciativa, na próxima é só diminuir o tamanho mesmo. As crianças parecem tartaruguinhas e tão felizes da vida com o kit. kkkkkk”, comentou um leitor no Facebook da prefeitura. “Achei uma bela iniciativa da Prefeitura Municipal, antes não tínhamos sequer merenda q não se sabe pra onde íam! Então vamos aprender a parar de criticar tudo”, afirmou outra leitora.

OUTRO LADO

Procurada pela reportagem do Sudoeste Digital, a Prefeitura se manifestou por meio de uma nota de esclarecimento.  Sem entrar no mérito do assunto, a Prefeitura preferiu atacar, indiretamente, a antiga gestão municipal.

LEIA A NOTA NA ÍNTEGRA

O evento das mochilas escolares distribuídas aos alunos da rede municipal de ensino de Jequié, tão comentado na imprensa e nas redes sociais, deixa para trás desafios importantes que o próprio município terá pela frente. Os relatórios contendo os péssimos índices herdados na Educação local, que envolvem baixa matrícula, baixo IDEB, baixo IOEB e mais sério ainda: a baixa proficiência dos alunos da rede municipal de ensino.    A tarefa de recuperar estes índices começou com o aumento significativo de matrículas na rede. Mais de 4 mil novos alunos matriculados, saindo de 13 mil para mais de 17 mil novos alunos, e que precisará de uma força tarefa que envolva toda a sociedade de Jequié para melhorar os péssimos índices deixados pelas gestões anteriores.  Só no IOEB (Índice de Oportunidade da Educação Brasileira), com nota 3,2, Jequié amarga o 4978° lugar entre os 5.500 municípios do Brasil. Sem contar o IDEB de 3,2 nas séries iniciais e 2,9 nas séries finais. Triste ter que afirmar que a proficiência do 9° ano em Matemática dos alunos de Jequié é de apenas 5%.     Voltando ao tamanho da sacola, se é que alguns acham isso o mais importante, segundo o Ministério da Saúde, uma criança não pode carregar mais que 10% do seu peso.  Sendo assim, parece que não tem como entregar a uma criança de creche uma mochila com tamanho ideal. Acreditamos que crianças de creche, tradicionalmente, não podem e não devem carregar suas mochilas que às vezes contém roupa, toalha, fralda, merenda, etc. Ou será que estas pessoas querem afirmar que os pais de hoje não estão servindo nem pra carregar a mochila de seus filhos? Pela utilidade de uso, as mochilas compradas pelo município, ao valor de R$ 11,40, parece que o quesito economicidade e contemplação ficaram de lado, dando espaço a outros interesses.


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