O engenheiro civil e ciclista Phillipe Appio Chaves Mafra, que morreu atropelado enquanto realizava um treino no Km 01 da BA-524, na tarde do último domingo (24), tinha 35 anos e havia inaugurado recentemente seu próprio negócio, a empresa de soluções de engenharia e tecnologia Cp5 Construções. O nome do empreendimento faz referência às iniciais do primeiro nome da esposa e do próprio nome de Phillipe, enquanto o número 5 corresponde ao total de integrantes da família que constituiu – juntos, ele e a esposa tinham três filhos ainda crianças, sendo dois deles um casal de gêmeos de apenas dois anos de idade. De acordo com amigos e familiares, era a família a base da vida de Phillipe.
“Sempre que ele saía para pedalar e voltava, ele falava ‘quero logo chegar em casa para poder ver minha família e minhas filhas’. Isso porque nós, que somos ciclistas, saímos para pedalar e não sabemos se vamos voltar”, afirma o garçom e ciclista Henrique de Oliveira, de 31 anos, que era amigo de Phillipe desde 2017. “Corremos muito risco na pista porque tem muitos motoristas imprudentes e assassinos, como foi no caso dele”, completa.
No dia do acidente, Phillipe manteve sua rotina diária. Segundo o pai Cléber Mafra, já era comum orar pelo filho quando ele saía para pedalar, porque não era possível fazê-lo desistir do hobby. “Ele era um empresário e não parava, só que tinha um hobby, que era a bike. Eu falava com ele ‘Phillipe, você está com tanta coisa, com tanto trabalho, por que você não deixa a bike lá?’ e ele respondia ‘Meu pai, isso é a minha válvula de escape’. Eu, como pai, sempre orei todo dia para que não acontecesse isso [um acidente], mas chegou um dia que aconteceu”, lamentou.
O amor de Phillipe pelo ciclismo surgiu ainda na adolescência. Natural de Vitória da Conquista, ele passou parte da infância em Rio de Contas, que foi onde começou a se lançar no esporte. “[…] Iniciamos juntos no ciclismo ainda na infância, em Rio de Contas. Sempre andamos de bicicleta por lá. Em Salvador, foi em 2015 que começamos a pedalar e virou essa paixão”, conta o também engenheiro civil e ciclista Matheus Trindade, 33 anos, amigo de infância de Phillipe.
A paixão foi tanta que agregou mais gente. Ainda em Rio de Contas, Phillipe partilhou seu hobby com a tia paterna Silene Mafra, de 59 anos. “Eu sou ciclista por conta de Phillipe. Eu moro em Rio Grande do Norte, em Natal, mas antes de ir ele me contagiou. Ele disse que eu tinha que pedalar porque o pedal fazia bem. Ele era muito amoroso, servidor. […], sempre foi muito querido por todos e ia nos visitar no Rio Grande do Norte. Era temente a Deus e tinha um alicerce familiar muito grande. Todas as pessoas que conviviam sabiam da grandiosidade que era Phillipe”, ressaltou, emocionada.
O engenheiro civil também era conhecido por sua determinação. Ele, que veio para Salvador para se estabelecer, logo conseguiu ingressar na faculdade de engenharia civil e servia de inspiração para os amigos. “Ele não tinha tempo ruim. Quando focava em algo, estudava aquilo ali e ia buscar. Eu entrei na faculdade com o irmão dele e nos aproximamos por conta dessa amizade que eu tinha com seu irmão. Ele entrou na MRV e juntos lá tínhamos dez anos. Ele saiu da empresa para montar seu próprio negócio há um ano e meio e estava cheio de felicidade e alegria. Tudo acabou por conta de uma imprudência de trânsito”, disse o amigo e engenheiro civil Danerson de Oliveira, de 36 anos.
Henrique de Oliveira, o amigo e ciclista mencionado no início da matéria, ainda destaca a prestatividade e generosidade de Phillipe, traços exaltados por ele. “Ele dava risada, dava conselho, ensinava a gente como deveria andar, ficava feliz com as nossas conquistas. Quando eu troquei de bicicleta, mostrei a ele, que disse: ‘Que Deus continue te abençoando, esse aí é só o começo do que você vai conseguir mais para frente. Estamos na luta, se precisar de mim estou aqui’. Ele sempre falava isso comigo. Espero que ele ore pela gente, que fica aqui embaixo”, finalizou.