ESPECIAL | Quem é Vaninha? Conheça a mulher mais perigosa da Bahia

Edvania Pereira de Morais, a Vaninha, é atualmente a única mulher no Baralho do Crime – um catálogo de cartas criado para localizar os criminosos de alta periculosidade na Bahia.
Considerada a mulher mais perigosa da Bahia, Vaninha tem prisão decretada por homicídio e o seu rosto está estampado na carta “Oito de Paus” do baralho. “Para mim ela é um monstro. Semana passada completou cinco anos da morte de minha filha e até agora ela não foi presa”, desabafou a mãe da professora Élida Márcia de Oliveira Nascimento Souza, 32 anos, brutalmente assassinada em 2019, na cidade de Juazeiro, região norte do estado.

De acordo com a polícia, Vaninha foi a autora intelectual da morte de Élida, sua rival.

A criminosa não aceitava o fim de seu relacionamento com Lázaro César Santana, marido da vítima. Élida foi executada dentro de um carro, na presença do marido e da filha, uma menina de dois anos, que na época ficou em estado de choque.

“Ela foi muito cruel. Tenho medo dela. Se ela foi capaz de tirar a vida de minha filha por causa de um homem, eu não sei do que ela é capaz de fazer comigo”, declarou a mãe de Élida.

Moradores disseram que Élida foi atingida por, pelo menos, cinco tiros. A professora morreu no local. O marido dela foi atingido por estilhaços. Na ocasião, o crime abalou a cidade.
Além de Vaninha, outras três pessoas tiveram envolvimento no crime, segundo a polícia: Maicon Neves dos Santos, acusado de efetuar os tiros; Railton Lima da Silva, condenado a mais de 16 anos de prisão por pilotar a moto que transportava o atirador; e Edivan Constantino de Moraes, pai de Vaninha, absolvido em 2021, após alegar que a filha planejou sozinha o crime.
Railton e Edivan foram denunciados pelo Ministério Público (MP-BA) e estão presos. Já Maicon segue foragido e entrou para o Baralho do Crime como o “Sete de Espadas”.

Os crimes de saia

Outras duas mulheres já tiveram seus rostos estampados no Baralho do Crime. Uma delas é Marisângela Soares de Souza, 32, a “Mari” ou “Coroa”. Ela era mulher do traficante Eberson Souza Santos, o Pity, morto em confronto com a polícia na cidade de Candeias, em agosto de 2007 – ele fundou o Comando da Paz (CP), que em 2020 passou a fazer parte do Comando Vermelho. Logo após a morte dele, “Mari” assumiu o comando no IAPI, Santa Mônica e Pau Miúdo.
“Mari” foi a “10 de Copas” e era procurada por tráfico de drogas no bairro de Cidade Nova, em Salvador. Atualmente, a carta é atribuída ao traficante Reinaldo Carvalho, que atua em Euclides da Cunha. A reportagem solicitou a Secretaria de Segurança Pública (SSP) e a Secretaria de Comunicação Social do estado (Secom) o motivo da substituição – que ocorre por duas razões: prisão ou morte –, mas até o momento não houve resposta.

A líder do Bonde do Neguinho (BDN), Jasiane Silva Teixeira, a “Dona Maria”, foi a “Dama de Copas”, procurada por homicídio e tráfico de drogas em Vitória da Conquista, região sudoeste do estado. Sua liderança se deu com a morte do companheiro, Bruno Jesus Camilo, o “Pezão”, que foi baleado em um auto de resistência com policiais civis.

Em 2019, ela foi presa em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, junto com o também traficante Márcio Faria dos Santos, o Carioca, braço financeiro da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) no Leste Paulista.

A estelionatária Maqueila Bastos Santos ganhou notoriedade no noticiário policial, após ter sido apontada pela Polícia Civil como responsável pela morte do empresário Leandro Troesch, em 2022, na cidade de Jaguaripe – o episódio ficou conhecido como “Caso Paraíso Perdido” e foi arquivado em fevereiro 2023, depois que investigação apontou que Leandro cometeu suicídio.

Maqueila teve um relacionamento amoroso com a viúva de Leandro, Shirley Silva Figueiredo, que chegou a ser presa no suposto crime. Em maio do ano passado, Maqueila foi assassinada em Canarana, no norte do estado. Ele foi encontrada com as mãos amarradas e com vários tiros.

Em abril de 2022, as blogueiras Layla Cedraz e Adrian Grace foram presas com um quilo de cocaína e armas, quando fugiam da Pousada Paraíso Perdido, depois que os dois homens que estavam com elas foram mortos em um confronto com a Polícia Militar. Na ocasião, ambas tinham juntas mais de 400 mil seguidores no aplicativo Instagram. Elas foram liberadas em audiência de custódia e respondem em liberdade.

Integrante de um clã que por décadas controlou o tráfico de drogas no Alto das Pombas, Fabíola Floquet Miranda Caldas, 32, foi baleada por três homens na porta de casa, em dezembro de 2022, e não resistiu.

De acordo com a polícia, ela vendia entorpecentes quando foi surpreendida pelos algozes. A vítima era filha da traficante Selma Floquet, que foi presa em 2016, quando estava à frente do negócio da família.

Mulheres e a criminalidade 

Segundo a professora de Direito da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Daniela Portugal, de um modo geral, as estatísticas informam que as mulheres praticam crimes que não envolvem violência ou grave ameaça às pessoas, a exemplo do furto, delitos patrimoniais e o tráfico de drogas.
“Penso que, principalmente para mulheres pobres, negras, que são mães solo, o crime é colocado como a garantia de um sustento para elas e as famílias. Dentro da organização, vão assumindo diferentes posições, muitas vezes na base, sem muito poder de mando, mas é possível que elas alcancem cargos de comando”, disse Portugal.
Segundo a coordenadora Estadual das Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, desembargadora Nágila Brito, o Brasil tem a 3ª maior população feminina encarcerada, ficando atrás tão somente da China (2° lugar) e Estados Unidos ( 1° lugar) – mas isso significa um percentual ainda bem menor que o dos homens, de 7,4% de todos os presos.
Ela pontua que não há uma única explicação para o crescimento de mulheres no crime. “Todos sabemos da luta das mulheres para ocupar espaços de poder ao longo do tempo, em todas os espaços, e naturalmente, também funções importantes no crime. Já há algum tempo, observamos isso, com mulheres utilizando-se da mesma maneira de agir dos homens”, declarou a desembargadora.
Outro aspecto apontado por ela é a “glamourização do uso de armas, também como manifestação de poder, e do próprio crime”. “Estamos assistindo um fenômeno que alguns autores denominam de vitimologia, em que se considera o autor do crime vítima da sociedade. Isto tem acontecido até entre jovens de classe alta, inclusive enveredando alguns adolescentes que possuem famílias bem estruturadas por caminhos tortuosos dos atos infracionais, e por serem menores, muitas vezes a resposta penal é branda ou inexistente”, declarou.
Para a coordenadora Estadual das Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, desembargadora Nágila Brito, não há uma única explicação para o crescimento de mulheres no crime.
“Todos sabemos da luta das mulheres para ocupar espaços de poder ao longo do tempo, em todas os espaços, e naturalmente, também , funções importantes no crime. Já há algum tempo, observamos isto, com mulheres utilizando-se da mesma maneira de agir dos homens”, declarou a desembargadora.
Outro aspecto apontado pela magistrada é a “glamourização do uso de armas, também como manifestação de poder, e do próprio crime”. “Estamos assistindo um fenômeno que alguns autores denominam de vitimologia, em que se considera o autor do crime vítima da sociedade. Isto tem acontecido até entre jovens de classe alta, inclusive enveredando alguns adolescentes que possuem famílias bem estruturadas por caminhos tortuosos dos atos infracionais, e por serem menores, muitas vezes a resposta penal é branda ou inexistente”, declarou. | Fonte: Correio 24 h.

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