ESPECIAL | A Chapada Diamantina dispõe somente de belezas naturais?

E se conhecer a região da Chapada Diamantina for além do turismo ecológico? E se uma pesquisa puder explicar como foi a participação econômica dessa região para o Brasil durante o século 19, e até seu envolvimento com países europeus?

Passear pela história do Brasil, conhecer suas raízes, aspectos econômicos e, ainda, valorizar o meio ambiente são aspectos que podem ser encontrados na pesquisa “Lavras Diamantinas – Formação da propriedade fundiária e socioeconômica: História econômica do mundo rural (século 19)”.

Realizado pelo estudante do curso de licenciatura em História, da Uesb – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Luiz Alexandre Brandão, o estudo apresenta a participação econômica da Chapada Diamantina durante o século 19, período em que o extrativismo brasileiro é reformulado a partir da estadia da família real no Brasil. 

É nesse contexto que inicia uma intensa atividade industrial no país, por meio de produção de bens manufaturados e maquinofaturados, redução de tarifas estrangerias – por meio da Lei Alves Branco – e instalação das primeiras ferrovias.

Por meio de leitura e transcrição da documentação primária de arquivos públicos municipais, o trabalho pontua o início da exploração de diamantes no entorno dos rios Mucugê e Cumbucas. 

A organização econômica baseada em pasto para gado deu espaço para o surgimento de uma mineração em larga escala. Frequentada por pessoas de outros estados, como Goiás, Piauí, Sergipe, Ceará, São Paulo e Rio de Janeiro, a região consolida-se por uma sociedade heterogênea.

Com menos de seis meses após as descobertas de diamantes na Chapada, jornais da época mostravam o crescimento populacional da região de Lavras, que compreendiam Santa Isabel do Paraguassú (Mucugê), Chique-Chique (Igatu), Andarahy (Andaraí) e Comercial Vila dos Lençóis (Lençóis). Em 1850, a região chegava a 60 mil habitantes, representando metade da população de Salvador, capital da província.

Conforme pontua Brandão, as relações comerciais eram realizadas nas praças, com comerciantes das principais capitais do Brasil e de outros países, como Inglaterra e França. “O comércio para o exterior era tão importante que muitos indivíduos oriundos da Europa também residiam em Lavras, como forma de garantir o escoamento da mercadoria”, explicou.

Já a mão de obra utilizada para a extração de diamantes era, majoritariamente, escrava, com intensa desigualdade social. Com isso, durante o século seguinte, a Chapada Diamantina atravessou uma série de problemas socioeconômicos, pois, nesse momento, já havia certa dificuldade em encontrar a matéria prima que sustentou a região por um longo período.  A alternativa econômica se deu a partir da produção agrícola em larga escala, com o café e morango.

Para a professora Maria Aparecida Silva, orientadora da pesquisa, o trabalho revela ainda a importância de perceber a região da Chapada Diamantina para além das belezas naturais, aspecto que atrai, atualmente, pessoas de várias partes do Brasil e do mundo. 

“O desconhecimento sobre o processo de povoamento da região, as transformações ocasionadas pela exploração diamantífera na segunda metade do Oitocentos, as condições de exploração e as experiências de vida daqueles que labutavam diariamente, inclusive escravizados, bem como as relações de poder e de ampliação da riqueza material das grandes famílias proprietárias ainda persiste”, pontuou.

Mas para onde foi escoada tanta riqueza produzida no século 19? Quem, efetivamente, se beneficiou da exploração da mão de obra escrava, característica naquele período? A pesquisa revela que famílias proprietárias como Rocha Medrado, Pereira Martins e Amarante Costa, acionistas do exterior de companhias da Inglaterra e França, além de países como Portugal, Espanha e Holanda, evidenciados nas transações dos portos naquele período, foram os principais beneficiados das explorações.

Com isso, o trabalho propõe não só refletir, mas, também, contribuir para a promoção de intervenções na economia local, pois há a necessidade de reconhecer esse passado recente com um “olhar mais atento para as necessidades mais prementes da população local”, explica Silva. | com informações e imagens da Ascom/Uesb.


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