ESPAÇO DO LEITOR: NOTA DE REPÚDIO AO SAMUR

NOTA DE REPÚDIO AO SAMUR
O grito de uma gaivota indignada

Em 31 de janeiro de 2018 levei meu pai Joel ao Hospital SAMUR a fim de averiguar se ele tinha infecção urinária, o que foi confirmado e ele ficou internado para ser medicado. Com muito amor amigos e parentes fizeram o revezamento comigo e meu irmão a fim de acompanhar meu pai nessa jornada que seria mais longa que o esperado. Desde então, meu pai já se mostrava lúcido, consciente, sem qualquer confusão de ideia sobre o que estava acontecendo, inclusive, manifestou à equipe médica e para seus familiares (eu e meu irmão, seus únicos filhos) do seu desejo de NÃO ser entubado, o que consta nos PRONTUÁRIOS. Assim repassamos a informação em todos os Boletins Médicos, questionamos se existia algum formulário ou documento a ser feito, porém, diziam que não era necessário. Após uma dificuldade respiratória, com um quadro de fraqueza muscular irreversível, meu pai foi encaminhado para a UTI, que segundo o médico plantonista, lá ele ficaria por uns dois dias para estabilizar o quadro. Meu pai, um senhor de 76 anos, confia muito na palavra de um homem, e assim, aceitou. Já na UTI, na noite de 10 de fevereiro, conversei com meu pai durante os três horários de visita e por volta das 22 horas me despedi, lá estava ele lúcido, me reclamando que tinha jogado o copo descartável na lixeira para lixo comum e que eu deveria jogá-lo no lixo descartável. 
Na manhã de 11 de fevereiro, ao procurar a representante da Direção, fiquei muito tempo sendo literalmente “enrolada” por toda a manhã, dizendo ela que me mostraria como formalizar o pedido do meu pai de NÃO ser entubado. Na verdade, por volta das 8h o hospital já havia agido SEM o consentimento do paciente nem mesmo de qualquer familiar, não recebemos qualquer ligação do hospital nem antes, durante ou após o procedimento. Por volta das 11h10 fui surpreendida na visita que meu pai foi ENTUBADO pelo médico plantonista Dr. Marcelo Coelho, o qual me disse no boletim que não arrepende do que fez e se recusou a falar com os Policiais Militares quando acionei a PM para ouvir nossos depoimentos diante de tal ação. Registrei ainda o fato à Delegacia de Polícia Civil.
Busquei o setor jurídico do SAMUR que me sugeriu: “a senhora deveria levar seu pai para outro hospital, uma vez que está insatisfeita com nosso hospital”. Verdade, eu até tentei Dr. Marcelo Nova, tenho todas as comprovações, no entanto, o SAMUR se negou a prestar o deslocamento por ambulância até o IBR, mesmo tendo recebido o documento do IBR com a liberação da vaga na UTI, condicionando a um pagamento de R$650,00, valor que eu não tinha na ocasião, pois já pagamos um valor bem alto ao plano de saúde.
É difícil resumir a história de um homem cheio de bons valores e princípios, de um homem que aos 76 anos providenciou o cadastramento biométrico para renovação do título de eleitor, com o desejo de garantir sua LIBERDADE de VOTAR em 2018, mesmo não sendo mais obrigado por conta da idade. Homem que na sua cadeira de rodas automática votou por todas as eleições passadas, com um sorriso estampado de quem está exercendo o bem maior: a LIBERDADE.
Esse mesmo homem hoje se encontra AMARRADO fortemente na UTI do SAMUR, ainda que os médicos digam que ele tem uma expressiva perda de força muscular, homem que movimenta a cabeça com muito esforço. Ele se encontra em cima de uma cama, ENTUBADO, CONTRA A PRÓPRIA VONTADE, sofrendo agora os impactos de uma decisão médica que NEM ELE NEM A FAMÍLIA ESCOLHERAM.
Ontem (28), passei por cerca de duas horas em uma reunião com dois médicos responsáveis pela Direção do Hospital SAMUR e da UTI, juntamente com meu irmão e uma Assistente Social da mesma Unidade. Deixei bem claro o desejo expressado por meu pai, inclusive, novamente ontem ele se posicionou a favor de NÃO passar pela TRAQUEOSTOMIA, ou outro procedimento invasivo, uma vez que ele tem plena consciência do que representa cada procedimento por ter acompanhado minha mãe durante muitos anos com a doença que ela vivenciou e passou por situações como essa. Inclusive relatei que busquei esclarecimentos no CREMEB (Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia) e foi um local acolhedor.
Pensei que o CREMEB fosse respeitado pelos médicos do SAMUR, porém, diziam eles, “acima do CREMEB existe a Constituição Federal que preza pela vida” e “vida e saúde estão muito ligadas”. Quantas contradições vindas de uma equipe médica! Se eles querem se apegar à CF/1988 vamos relembrar o Art. 5º: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País A INVIOLABILIDADE DO DIREITO À VIDA, À LIBERDADE, à igualdade, à segurança e à propriedade […]”. Na mesma Carta Magna diz que além de ter o direito à vida, todo cidadão precisa ser LIVRE e exercer seu livre arbítrio, e meu pai na condição atual de lucidez (há cerca de seis horas conversei com ele e ficou claro seu estado de consciência), se mantém firme no posicionamento de NÃO PASSAR PELA TRAQUEOSTOMIA, o que foi perguntado por mim e meu irmão durante a visita desta quarta-feira (28).
Acho estranho ainda, o fato da funcionária da UTI do SAMUR ter solicitado o aparelho celular pessoal para ela apagar uma foto que tirei como recordação do meu pai, pois eu não sabia que é proibido, sendo que na CF diz que “X – são invioláveis a intimidade, a vida privada […]”, ainda assim, ela disse que é a “AUTORIDADE”, ou seja, compreendi que ela está acima da própria Constituição Federal Brasileira.
Durante a reunião exaustiva com a Direção do SAMUR, mesmo por diversas vezes os médicos terem tentado me convencer de que a traqueostomia é o melhor caminho, mantive consoante ao desejo de meu pai. Inclusive me sugeriram interditar um homem que está consciente, como assim? Não vou interditar meu pai enquanto ele estiver lúcido! Outra representante do SAMUR me chamou e disse que “facilitaria” o serviço de ambulância para tirar meu pai do referido hospital. Agora querem dispensar meu pai depois de tudo que fizeram a ele? Depois de tantos dias, o IBR provavelmente nem terá mais a vaga disponível.
O que mais me choca é que durante essa reunião os médicos que representam o SAMUR disseram claramente que NÃO MAIS FARIAM PROCEDIMENTOS (ESPECIALMENTE A TRAQUEOSTOMIA) SEM UMA CONVERSA PRÉVIA COM A FAMÍLIA. No entanto, segundo o que ouvi pelos corredores do SAMUR, está AGENDADA PARA A MANHÃ DE HOJE A TRAQUEOSTOMIA, sem qualquer consulta à família.
Grito pedindo SOCORRO! Grito clamando que a LIBERDADE de um homem consciente seja respeitada! Grito por CUMPRIMENTO DE PALAVRA (não posso mais confiar nos representantes do SAMUR?)! Grito pelo pedido do meu pai que está ACAMADO E AMARRADO (acho desproporcional)! Grito pedindo uma TV para meu pai acompanhar as notícias no ambiente frio da UTI! Grito pedindo um TEMPO MAIOR de visitas ao meu herói! SÓ PROMESSAS, NADA DISSO FOI CONQUISTADO OU RESPEITADO! 
Minha pergunta final: Não existe um código de ética humano?

(Marcelle Bittencourt)


RESPOSTA DO SAMUR
Mediante Nota de Repúdio sobre o Hospiital SAMUR publicada no blog Sudoeste Digital no dia 01/03/18, conforme link: https://ibahia.blogspot.com.br/2018/03/espaco-do-leitor-nota-de-repudio-ao.html

Gostaríamos de encaminhar resposta.
Segue abaixo:

Em resposta à veiculação denominada “NOTA DE REPÚDIO AO SAMUR O grito de uma gaivota indignada”, publicada no blog Sudoeste Digital, a Direção do Hospital Samur esclarece que, em respeito ao paciente e ao sigilo profissional previsto na legislação em vigor, está legalmente impedido de divulgar qualquer informação referente a tratamento de pacientes internados em suas instalações, mas não se nega a discutir o caso em foro apropriado. Deixa consignado que, na hipótese em questão, o corpo médico do hospital vem prestando ao enfermo tratamento digno, conforme técnica médica e preceitos éticos instituídos no Código de Ética Médica e normatizações do Conselho Federal de Medicina. Por oportuno, lamenta a exposição pública do paciente, inclusive com publicação de foto em rede social, além das ofensas públicas infundadas à instituição e aos seus profissionais, de conduta ilibada, inteiramente dedicados à boa prática da medicina.

Atenciosamente,

​Kátia Dantas


Hospital SAMUR S/A

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