“Há uma espécie de Code Noir, uma espécie de hipercontrole desses Seres. Obrigava-se então, transitarem com vestes decentes, que ocultaram qualquer parte do corpo que ofendesse a honestidade e a moral pública, não deveriam preferir palavras indecentes, ficavam proibidos os alaridos e gritos nas ruas, proibidos os batuques e danças, sem direito a voto. Aqueles códigos não nomeavam somente os poderes patriarcais totais que davam sobre o corpo do escravizado negro (…) com grande atenção ao risco do adultério feminino. Eram, pois, vistos como gente perigosa por não se encaixarem na concepção dos bons costumes da elite local. A noite todos os wnegro eram rebeldes, eles não deveriam frequentar a sombra da noite, evitando que encobrissem fugas, conspirações e o abuso individual e coletivo do sossego público. As desordens, brigas, discussões, eram punidos com 8 dias de prisão, multa e 100 açoites aos considerados motores, causadores. O senhor vai ao juiz da polícia, registra a crime e obtém uma ordem para a punição no pelourinho público pela qual ele paga as chicotadas por centena. Era preciso controlá-los. O mundo que emergia da negação e da recusa de outro mundo recolheria os restos grotescos e as relíquias da violência direta, o ferro no pescoço, o ferro ao pé, as máscara de Flandres. O projeto político em varias leis era controlar o africano espaço público tanto de labor quanto de lazer. Deveriam ser monitorados de perto nas ruas, rodas de conversas, batuque ou capoeiras. Não eram cidadãos dos bons costumes.” Fonte: O Soldado Antropofágico. Escravidão e não-pensamento no Brasil. Tales Ab’Sáber.
A conclusão:
O que se dizia ontem, e ainda hoje, sobre os “incivilizados”, revela muito sobre a persistência de preconceitos e da negação histórica dos valores e contribuições das populações negras e indígenas. O 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, é uma oportunidade para Re-memorar Zumbi dos Palmares e todos que resistiram e lutaram e lutam, dialogam contra a escravização do Ser, mas também para refletir, buscar, construir saídas contra o racismo estrutural que ainda marginaliza milhões de seres humanos no Brasil. É uma data, um movimento em rede para relembrar que, embora se tenha avançado no discurso, práticas sociais e políticas continuam perpetuando desigualdades. A luta não é só memória, é transformação: garantir que quem era chamado de “incivilizado” ontem, e ainda é invisibilizado hoje, tenha voz, oportunidade e reparação histórica. Afinal, para que serve a consciência negra, senão para desmontar essas narrativas e construir justiça, mas, justiça dentro do capitalismo, os pretos, as pretas, os signatários de zumbi por todo o Brasil já sabe ser impossível, impossível!
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*Joilson Bergher, um brasileiro antifas, pela democracia e contra a ANISTIA de golpistas!