ENTREVISTA | Quinho de Belo Campo: “devo disputar a eleição de 2026, para deputado, mas Vitória da Conquista é um projeto de vida”

A gestão da pequena cidade de Belo Campo, no sudoeste baiano, projetou no cenário político do estado uma liderança jovem, mas com grande capacidade de articulação. José Henrique Tigre, ou simplesmente Quinho (PSD), está no segundo mandato à frente do município e esse ano tomou posse como presidente da UPB, União dos Municípios da Bahia.

Em seu primeiro grande desafio, liderou o maior número de prefeitos na marcha realizada em Brasília no final do mês passado e pode ver de perto a mudança na interlocução com o governo federal, principalmente devido às lideranças baianas que ampliam as perspectivas de acesso a políticas públicas e investimentos.

Com resultados expressivos na gestão municipal, incluindo mais de R$ 160 milhões de investimentos em parceria com o estado, Quinho sonha com voos mais altos e tem como projeto de vida ser prefeito da vizinha Vitória da Conquista, uma das maiores cidades da Bahia. Nessa conversa exclusiva com o PORTAL A TARDE, Quinho fala dos seus planos políticos e da gestão à frente da UPB.

Quais os principais avanços da sua gestão em Belo Campo após seis anos de governo?

Belo Campo é um ‘case’ de sucesso. Belo Campo é o único município do Brasil a realizar uma exposição agropecuária e comercial dentro das ruas da cidade. Já é o primeiro do interior do Nordeste, com menos de 20 mil habitantes, 100% iluminado por LED, e será o primeiro 100% pavimentado, já está com 93% de pavimentação. Será o único município do Brasil a ser 100% abastecido por energia solar. Nós temos lá criados área de expansão, perímetro urbano, polo industrial, estamos iniciando a regularização fundiária, sinalização vertical e horizontal em 100% da cidade.

O agro é o principal motor da economia local?

Belo Campo é produtor de fécula de mandioca, tem uma bacia leiteira e uma reforma agrária natural, lá não tem grandes latifundiários, mas tem pequenos produtores de agricultura familiar que faz com que a economia gire de forma diferenciada.

Num município pequeno, de menos de 20 mil habitantes, como o senhor avalia o desenvolvimento da educação?

Começamos com um Ideb de 3,2, hoje é 5,6. Estamos fazendo a reforma da escola estadual, temos três escolas em execução, inauguramos duas creches, fizemos 16 quadras poliesportivas, os maiores eventos esportivos e festivos. O maior colégio da gente nós semi-militarizamos. Uma escola que tinha 650 alunos, hoje passou a ter 1,2 mil e com fila de espera. Nós investimos em cultura e educação para combater a evasão escolar. O programa educação em movimento oferece atividades no contraturno, como as fanfarras, estamos montando uma filarmônica, temos projetos de atletismo, todos os povoados até o fim do meu mandato terão quadras poliesportivas. Se você vir o estádio é uma loucura. Iluminado, com vestiário subterrâneo. Somos vice-campeões baiano feminino com o Juventude de Belo Campo.

A cidade também investe muito em eventos?

Hoje nós temos o aniversário da cidade (22 de fevereiro) que é um marco na região Sudoeste, com atrações de nível nacional (Raí Saia Rodada, Tairone, Kevi Jhony, Thiago Aquino, La Fúria). E já estamos planejando o São Pedro mas ainda não posso anunciar as atrações.

São investimentos vultosos para uma cidade de pequeno porte.

É transformação social. Mudança radical. Somos a cidade que mais coloca alunos na universidade proporcionalmente, nosso hospital público faz internato para duas universidades, a Universidade Federal do Oeste da Bahia e Faculdade Santo Agostinho, ambas em Conquista. Temos 100% de cobertura de saúde da família, um hospital de 50 leitos com ortopedia, fisioterapia, cardiologia, otorrinolaringologia, dermatologia, uma série de especialidades.

O sucesso da gestão passa também pela composição do alto escalão.

Nós temos uma equipe muito técnica. Minha secretária de educação é doutoranda pela USP, meu secretário de agricultura é um médico veterinário, o secretário de obras é engenheiro civil, meu secretário de saúde é enfermeiro, o secretário de finanças é um contabilista, uma equipe jovem e técnica.

Fale um pouco do seu caminho na política. Qual foi a sua trajetória até chegar a prefeito?

Fui secretário de saúde durante seis anos, depois fui vice-prefeito de 2009 a 2012. Perdi uma eleição em 2012, depois fui eleito (2016) e reeleito (2020), eleito e reeleito presidente do consórcio de saúde de Vitória da Conquista e região de Itapetinga por aclamação. Três biênios consecutivos diretor da UPB e agora eleito presidente da UPB por aclamação. Fui tesoureiro, secretário e agora, presidente.

E na UPB, apesar do pouco tempo, qual o momento mais marcante da sua gestão?

O primeiro acontecimento da minha gestão foi a posse. Talvez seja a maior posse da história desses 58 anos da UPB pelo número de autoridades, governador, senadores, prefeitos, vice-prefeitos, então já demonstrou uma força grande. À posteriori, foi o maior quantitativo de prefeitos em Brasília, acompanhando a UPB na Marcha, 260 prefeitos e um total de 800 pessoas incluindo as comitivas.

Qual foi a principal bandeira da marcha?

Entre outras ações, a questão do novo PLP (Projeto de Lei Complementar) do senador Jaques Wagner (PT) que reduz a alíquota do INSS patronal para os municípios de 22,5% para um cálculo ‘per capita’. Quem arrecada mais, paga mais e quem tem arrecadação menor, paga menos. Porque seria injusto o município de Belo Campo e o município de São Paulo pagar a mesma tributação. Então ele vai de 8% a 18% da arrecadação do PIB. E aí vai ter potencial de investimento. Os municípios estão na sua maioria endividados, é dinheiro novo na veia do município.

Existe também uma proposta de emenda à Constituição (PEC) sobre o tema. Qual a proposta mais viável hoje?

A PEC, como é linear (define uma alíquota única de 11% para todos os municípios) ela tem maior dificuldade. O PLP, como é progressivo e fala como vai funcionar a progressão, ele tem mais viabilidade, até por se tratar de um projeto que já está no Senado

Com a gestão bem avaliada e agora à frente da UPB, quais são os seus planos políticos a partir de 2025?

Como eu não posso disputar três mandatos consecutivos, a lei não me permite, eu devo disputar a eleição de 2026, para deputado estadual ou federal, mas Vitória da Conquista é um projeto de vida. Minha esposa (Léa Meira) já colocou o nome para disputar em 2024.

E como o Sr. avalia esse início de governo estadual e federal?

Esses 100 dias agora tivemos diversas situações com o Governo do Estado, especialmente com a inauguração de obras que estavam em curso, mas eu vejo com muito bons olhos o alinhamento com o governo federal. Além disso, a questão do ministro Rui Costa que, sem dúvida nenhuma, deve fazer com que os recursos cheguem no estado da Bahia com maior facilidade. Nos últimos anos nós tivemos muita dificuldade de acesso aos ministérios, ao Palácio do Planalto no contexto geral. Então estou cheio de expectativas de que o fato de nós termos dois ministros genuinamente baianos (além de Rui Costa na Casa Civil, a ministra da cultura, Margareth Menezes) e o líder do governo no Senado (Jaques Wagner, do PT) e o líder do PSD (senador Otto Alencar), acho que esse fator é muito importante e já foi perceptível nessas agendas em Brasília, que nós tivemos a capacidade de visitar diversos ministérios e fazer com que as forças da Bahia possam ecoar nos quatro cantos de Brasília.

No plano federal, qual a principal mudança que o Sr. viu, do ponto de vista dos municípios?

Mudou totalmente a forma de receber os prefeitos, as lideranças no contexto geral. E, com a possibilidade do novo pacto federativo, da redistribuição tributária, de grande importância tanto para os governadores como para os prefeitos, estou muito esperançoso e acredito que as coisas vão andar a passos largos nos próximos anos. Tenho certeza de que nós vamos fazer com que as coisas aconteçam, acho que a Bahia tem muito a contribuir para o municipalismo brasileiro, principalmente através da UPB, e vamos fazer com que as coisas possam chegar direto nas veias dos municípios pra melhorar a condição de vida principalmente de quem mais precisa.


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