ENTREVISTA | “Percebi o quanto a falta de trabalho impacta nas pessoas”, diz deputado Tiago Correia

Eleito suplente em 2018 mas no exercício do mandato desde fevereiro do ano seguinte, o deputado estadual Tiago Correia (PSDB) defende um maior investimento em educação e na geração de novos empregos para diminuir os índices de violência da Bahia.

Nesta entrevista, também transmitida pela TV Alba (canal aberto 12.2), Correia fala ainda do desafio de ser oposicionista, das causas que movimentam sua atuação na Assembleia Legislativa, da “esperada” aliança entre o PSDB e o DEM na disputa pelo Governo do Estado em 2022 e da experiência de ser deputado estadual pela primeira vez.

Qual avaliação o senhor faz desta que é sua primeira experiência como deputado estadual da Bahia?

Eu fui vereador por dois mandados na nossa capital, assumi o mandado logo no início da atual legislatura e de lá pra cá não fiquei um dia sequer fora do mandato.

O que o motivou a alçar um voo maior como deputado estadual?

Sou de Vitória da Conquista, comecei minha carreira política em Salvador, mas viajo muito pelo interior. E aquela vontade de conseguir trabalhar também pelos municípios do interior me fez buscar uma cadeira na Assembleia. Assim, tenho me sentido muito realizado em poder estender o que eu já fazia na Câmara de vereadores agora para todo o estado.

Como vereador, sua base eleitoral era em Salvador. Agora, como deputado, a base foi estendida para quais outras regiões?

Eu tenho votos desde o extremo sul, hoje com o apoio do prefeito de Itamaraju, Marcelo Angênica, até o extremo norte, municípios de Juazeiro, Casa Nova, passando pelo sudoeste. Hoje temos representação nos quatro cantos do nosso Estado.

Quais são as causas que movimentam sua atuação como deputado estadual?

Já fui gestor público, diretor geral da Secretaria do Trabalho de Salvador e percebi o quanto a falta de trabalho impactava na vida das pessoas. Desde aquele momento, comecei a desenvolver ações que trouxessem a possibilidade de as pessoas conseguirem o seu emprego, muitas vezes o seu primeiro emprego. Fundamos em Salvador a Associação dos Jovens Empreendedores, a AJE, e de lá pra cá me mantenho muito focado na geração de empregos e, em paralelo, investindo muito no empreendedorismo jovem e feminino. Hoje na Assembleia sou vice-presidente da Frente Parlamentar em Defesa do Setor Produtivo, dando continuidade a esse trabalho que se iniciou lá trás, justamente para estimular o setor produtivo, a geração de emprego para o público mais jovem, que é uma das bandeiras que tenho levantado aqui.

Existe um sentimento de grande parte dos deputados de que a atuação da Assembleia Legislativa é muito mais para apreciar e votar matérias do Executivo do que dos próprios deputados. Como é que o senhor lida com essa situação?

Eu talvez tenha tido sorte. Tive projetos meus aprovados aqui, fico muito feliz, mas como falei, também buscamos atuação um pouco fora da caixa, fora da Assembleia. Por exemplo, a frente parlamentar a qual pertenço tem feito um trabalho muito importante, dialogando com setores produtivos. Principalmente neste momento de pandemia, a frente foi muito importante na interlocução para o afrouxamento das medidas de restrição.

Mas o senhor concorda com o sentimento de que as matérias do Executivo acabam dominando o espaço da Assembleia?

Com certeza, não tem como discutir isso. O Executivo tem matérias importantes, matérias obrigatórias que terminam ocupando espaço mais significativo dentro da Assembleia. Mas eu acredito que devemos brigar, principalmente, pelos bons projetos, e isso vem acontecendo, para que eles possam ser apreciados e produzir na sociedade os efeitos esperados.

O senhor é líder do bloco parlamentar PSDB-Republicanos desde 2020, ou seja, está fora do bloco da maioria que apoia o governo Rui Costa. Como tem sido desempenhar um papel de oposição na Assembleia?

É um desafio muito grande. Nós estamos sempre promovendo os bons debates e propondo o melhoramento de muitos textos que o Executivo encaminha, que muitas vezes são deixados um pouco de lado pela maioria por fazer parte da base. Alguns deputados não se debruçam tanto, não têm aquele cuidado na apreciação das matérias que a minoria tem. E a minoria tem se colocado muito aguerrida nessa legislatura, muitas vezes dificultando o trânsito mais tranquilo de matérias que, em alguns momentos, são delicadas e, talvez, se não houvesse esse papel da minoria, passariam despercebidas.

O senhor se vê como um oposicionista incondicional, ou se permite um espaço para uma interlocução de apoio a colegas da situação?

Excelente pergunta, porque a minoria também é chamada de bancada da oposição e nós sempre brincamos que não existe oposição nem situação, porque todos querem o bem do estado. E a prova disso é que importantes matérias do Executivo, inclusive matérias polêmicas, foram aprovadas com o voto da minoria, como a reforma previdenciária. Nós entendemos que era uma matéria importante para o estado, para a saúde financeira, e o governo tem contado com o voto da nossa bancada quando entendemos que são projetos importantes para o estado.

Mas o que o incomoda em relação à atuação do governo, uma vez que o senhor não faz parte da base de apoio?

Nós fazemos um contraponto muito forte em relação a questões administrativas, à gestão, à maneira como o governo acaba dividindo os espaços e cobrando dos gestores que ocupam esses espaços os resultados que, nós julgamos, deveriam ser os resultados de fato necessários para o bom desempenho dessas pastas. Por exemplo, a segurança pública que não apresenta bons resultados. Também a educação, a própria saúde que melhorou mas também deixa a desejar. São diversas ações administrativas que nós estamos sempre apontando como erros e apontando também soluções. Entendemos que, muitas vezes, o governo deixa a desejar.

O que o PSDB ou o deputado Tiago Correia oferece de contribuição para melhorar a gestão, por exemplo, da segurança pública e da educação?

Eu acho, inclusive, que essas duas áreas são co-irmãs. Não vamos conseguir melhorar os índices de segurança se não investirmos mais em educação. A Bahia é hoje o estado campeão no analfabetismo adulto. Isso é decorrente de anos e anos de governo que não investiu na educação. Nós somos campeões em evasão escolar. A Bahia é o terceiro pior Ideb (Índice de desenvolvimento da educação básica) do país e o governo não conseguiu melhorar esses números. Ficamos agora com intervalo sem aula muito grande. E eu venho cobrando do governo um posicionamento mais firme frente ao sindicato dos professores que, no meu ponto de vista, tem usado o tema politicamente e não de forma séria como deveria ser tratado. Eu também encaminhei um projeto de indicação no início de 2021 cobrando do governo o cumprimento da lei federal que obriga a contratação de psicólogos para a rede pública estadual. Psicólogos para dar apoio não só aos alunos e professores mas também aos pais que sofrem com a presença mais prolongada dos filhos dentro de casa, principalmente nas famílias de baixa renda.

Além do investimento em educação, o que mais é importante para oferecer segurança pública de qualidade e confiável?

Esta talvez seja a pergunta de um milhão de dólares. Acho que todo gestor, principalmente os estaduais procuram e buscam reduzir os índices de violência. Mas o que nós vemos em nosso estado são índices crescentes, não obstante o aumento dos investimentos na área de segurança. Na verdade, o que se está fazendo é enxugar gelo. A violência é um problema que mistura uma série de fatores. Além da falta de investimento em educação, há a falta de oportunidade para os jovens ingressarem no mercado e também de estímulo para que as indústrias se instalem aqui. É uma salada de frutas que traz as condições para que a violência e o mundo do crime sejam cada vez mais fortes no nosso estado, aliciando jovens.

Quais suas propostas para uma maior geração de emprego e renda?

Primeiro, produzir mão de obra qualificada, para que a gente consiga atrair as indústrias, os empresários. Depois, maior investimento em educação. E também proporcionar um ambiente de negócios saudável, diminuir a burocratização, investir em infraestrutura. É uma série de ações que têm que ser tomadas simultaneamente. Acredito que, não pensando apenas num problema, investimento apenas em um setor, nós vamos conseguir resolver esse problema tão complexo.

Sobre política, quais as chances de o PSDB caminhar junto com o DEM nas eleições de 2022, conforme defende o presidente estadual do PSDB, deputado federal Adolfo Viana?

Em nível estadual, eu acho que esse alinhamento sempre existiu. Os partidos sempre atuaram de forma paralela, sempre lado a lado, tanto na gestão municipal, quando o então prefeito ACM Neto se lançou candidato e o PSDB esteve do lado, como em nível estadual. Sempre marchamos lado a lado e acredito que esse é o desenho atual. É o que nós vemos hoje para as próximas eleições estaduais. Talvez até mesmo com os dois partidos compondo a chapa majoritária. É claro que isso depende de uma composição de todos os partidos da nossa base. Em relação à política nacional, eu acho que depende de fatores que fogem mais ao nosso controle. Primeiro, aguardar para ver se o DEM vai apresentar um candidato à chapa majoritária. Conversa-se muito, existem alguns nomes. O PSDB também caminha nesse sentido, com alguns nomes se colocando. Nós temos o governador de São Paulo, João Doria, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e outros nomes que também se colocam.

Mas o PSDB teria um nome para ser uma terceira via diante da esperada polarização entre o ex-prefeito ACM Neto e o senador Jaques Wagner, do PT?

Nós temos hoje o governo do PT colocando o nome do ex-governador Jaques Wagner como possível candidato ao governo do estado e nós temos o nosso grupo apresentando o nome do ex-prefeito ACM Neto como também pré-candidato. Talvez seja o nome que reúna as melhores condições para disputar hoje o governo da Bahia. E como falei, o PSDB, claro, ali do lado. Nós temos um nome já idealizado dentro do nosso partido que é o atual prefeito de Mata de São João, o ex-deputado federal João Gualberto, que sinaliza o desejo de compor a chapa majoritária. Diante desse cenário aqui mais polarizado, talvez sem alternativas de terceiras vias, acredito mesmo é na composição com o Democratas, com o prefeito de Mata de São João como o candidato a vice na chapa composta pelo ex-prefeito ACM Neto.

O senhor pretende se candidatar à reeleição em 2022?

Com certeza. Espero ter saúde e disposição para continuar caminhando pelo nosso estado e buscar essa reeleição na Assembleia Legislativa, dessa vez buscando de primeira uma vaga efetiva, não mais como suplente.


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