EDITORIAL – Vans clandestinas ficam e Cidade Verde sai de cena

Uma tragédia anunciada, por meio de um dos maiores retrocessos no transporte público, está prestes a acontecer em Vitória da Conquista, com a permanência de mais de 600 vans clandestinas, e em péssimas condições de uso, e a eventual saída da Viação Cidade Verde, dona da frota mais nova da Bahia. 

Pelo menos é o que se avizinha com o descompasso, inércia e perseguição do poder público municipal à empresa legalmente constituída em detrimento de uma “birra” e suposta troca de favores com vanzeiros. Não é raro encontrar absurdos, como esse da foto, em que uma van com pneus carecas, circula com a porta aberta.

Os frutos podres de uma “força-tarefa” colhidos pela atual gestão, em conluio com o Sindicato dos Rodoviários (Sintravc), na tentativa nebuloso de blindar a combalida Viação Vitória e, nesse mesmo compasso, expulsar a Viação Cidade Verde, serão de difícil digestão para a Prefeitura.

Antecipando-se à qualquer manobra ilícita para encobrir, por parte da atual gestão, a derrocada do sistema de transporte público, a Viação Cidade Verde ameaça abandonar a cidade, deixando para trás centenas de pais de família desempregados e outros tantos passageiros órfãos de um serviço que sabidamente tem dado certo.

Ao contrário dos vidros escuros das vans suspeitas de transportar agentes do crime, a resposta a quem atribuir as responsabilidades civis e criminais é mais transparente: a culpa é de quem autoriza, quem estimula, porque assume o risco de matar. Cadê o compromisso com a segurança do cidadão?
Sem a devida fiscalização do Detran, que deixa ao bel-prazer veículos irregulares em circulação, e dos agentes de trânsito, que permanecem de braços cruzados e olhos fechados para as vans – em sua maioria a serviço do crime e regidas por milicianos, a cidade assiste, apreensiva, a chegada de clandestinos vorazes, com status de “franquia” em alguns itinerários. 

Criam-se novas linhas com a mesma facilidade com que circulam pelas vias da impunidade oficial. Trafegando sem as mínimas condições, vans sucateadas disputam clientes avidamente, excedendo em velocidade e em completo descumprimento das leis de trânsito. 

É o que podemos tipificar como dolo eventual. Que garantia tem o passageiro – cooptado por vanzeiros ilegais – que aceita pagar R$3,00 para viajar num veículo sucateado e sem seguro?

Se eles não respeitam a própria vida, muito menos a de terceiros. É sabido que o vanzeiro está longe de ser “homem-bomba do volante” e não está tentando matar ninguém, mas qualquer pessoa minimamente em sã consciência sabe que dirigir acima da velocidade permitida provavelmente causará a morte de alguém. 

Se ele mata alguém, então pode ser enquadrado no homicídio com dolo eventual pois assumiu o risco de causar a morte de alguém. E a Prefeitura, que atropela decisões judiciais e esmaga leis, sob a égide de uma “Republiqueta de Conquista”, permite tais desmandos, é cúmplice. Permitir que um veículo frágil trafegue em corredores de ônibus, super lotado de homens, mulheres e crianças, é desprezar a vida humana em meio a uma tragédia iminente.

Não se pode aceitar passivamente que a população do terceiro maior município da Bahia, atrás de Salvador e Feira de Santana, fique refém de uma Viação Vitória inadimplente com o município e seus colaboradores e que exclui linhas, atrasa viagens e faz circular cotidianamente veículo sem manutenção. 

Igualmente não devemos engolir um serviço de vans que, ao contrário do que recomenda o fabricante, são submetidas a uma rotina pesada, percorrendo diariamente longas distâncias, sem revisões periódicas. Com a palavra, os conquistenses, a imprensa, os vereadores, o Ministério Público, a Justiça. 

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