EDITORIAL – Uma greve muita estranha em Vitória da Conquista

Uma “greve” no mínimo estranha essa deflagrada pelo Sindicato dos Rodoviários na Viação Vitória, em Conquista, na madrugada de sábado, deixando 40 mil pessoas, diariamente, sem transporte coletivo nos itinerários da empresa. Leia matéria “Domingo Sombrio“, sobre a falta de ônibus nas ruas.

Estranha porque o sindicato, que diz cobrar atrasos salariais, não mantém bloqueio (piquete) na garagem da empresa e, por isso, os ônibus podem entrar e sair a qualquer momento, sem obstrução. Mas, estranhamente, a Viação Vitória não pensa assim.

Prefere mesmo é manter 100% da frota parada para atender a interesses próprios. Sem rodar, não consome combustível e não precisa acionar seus funcionários – que não estão satisfeitos com a falta de dinheiro em suas contas desde abril. O povo cansou de tapeação.

É mesmo de se estranhar que a empresa nem ao menos ingressou com liminar contra essa “estranha greve” dos rodoviários. Poderiam até argumentar que falta combustível, mas não é. A verdade vai ser revelada na segunda-feira (28) e o povo, com cara de bobo, será mais uma vez ludibriado, mesmo sabendo que é assegurado por lei uma frota mínima, pois transporte coletivo é serviço essencial.

Só para refrescar a memória dos leitores, estamos vendo a aplicação de dois pesos e duas medidas. revirando os nossos arquivos, nos deparamos com a notícia de que, em abril do ano passado, a Viação Verde foi multada em R$100 mil pela Prefeitura quando, contra a sua vontade, foi submetida a uma greve que – mais tarde – provou ter sido ilegal.

E mais, as notícias da época enfatizaram que a multa foi extraída mesmo quando a empresa ainda circulava com a frota reduzida, portanto dentro da lei, e com uma liminar, diferentemente do que a Vitória faz agora, paralisando 100% da frota.

Muito estranho. Mais estranha, ainda, é a omissão da Prefeitura, que não se preocupa com a população usuária do transporte coletivo e, por isso, sequer acionou a Procuradoria Jurídica do Município para entrar na Justiça e fazer valer a lei que exige 30% da frota em circulação, como aliás fez recentemente a Prefeitura de Salvador.

Não fizeram aqui. E mais: os fiscais responsáveis pela verificação da circulação de ônibus no terminal da Lauro de Freitas não foram trabalhar no sábado, primeiro dia e greve. A Prefeitura não se explicou o fechamento dos guichês e o povo, mais uma vez, ficou refém de caos no transporte público.

As coisas andam realmente estranhas em Vitória da Conquista.  Ou se faz circular 30%da frota,  em restrito e imediato cumprimento da lei, ou o Ministério Público deve ser provocado, recomendando à Justiça a ilegalidade do estranho movimento e exigir indenizações aos passageiros e multas ao sindicato e a empresa e ao município.

Se a Viação Vitória “manda e desmanda” na Prefeitura, é algo a se apurar, mas o que não pode e nem deve é, ao arrepio da lei, desprezar a população sofrida, sem transporte, sem ao menos colocar 30% dos seus 80 ônibus à disposição.

É lei, mas ela, estranhamente, não é cumprida. Não estaria a Prefeitura sendo conivente com essa clara evidência de “locaute”, que numa tradução livre, significa “greve de patrões”, como o próprio Temer, do mesmo partido do prefeito (MDB), insiste em sustentar sobre a paralisação dos caminhoneiros.

Será a Viação Vitória multada? E o sindicato, também será punido? Aguardemos o passar das horas. Mas, que é muito estranho, é!


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