EDITORIAL | Uma cidade sem ônibus é uma cidade nervosa

Empresas de ônibus alegam que serviço de corrida compartilhada Uber Juntos configura transporte coletivo irregular — Foto: Divulgação
Uma “concorrência” ilegal e predatória, capitaneada por mais veículos clandestinos, entre carros de passeios e vans – além de centenas de Uber, abre um novo capítulo no sistema de transporte público em Vitória da Conquista, terceiro maior município da Bahia (atrás de Salvador e Feira de Santana).

À margem da lei, amparado por uma fiscalização deficiente e ignorando decisão judicial, proferida pelo juiz Leonardo Maciel, que estipula multa de R$1.000 para cada dia de descumprimento da conduta ilícita, os clandestinos prosseguem em circulação.

Também foi jogada por terra a recomendação do Ministério Público estadual (MPe), por meio da promotora Lucimeire Carvalho, que sugere a extinção dos clandestinos. RELEMBRE

O fenômeno do transporte clandestino não é exclusivo de Vitória da Conquista, mas pelo menos outras cidades combatem com rigor e na forma da lei, ao contrário da atual gestão municipal, que mantém os braços cruzados para a gravidade da situação, que dilapida cofres públicos e penaliza empresas e instituições que pagam mais caro pelo vale-transporte.

Nos chegam notícias de que operadoras de ônibus em 15 cidades de São Paulo se movimentaram pelo fim do Uber, pedindo ressarcimento por perda de passageiros. Elas (empresas) alegam que serviço configura transporte coletivo irregular e pedem regras iguais. Em São Paulo, consórcios dizem ter prejuízo e querem compensação financeira. LEIA AQUI

Enquanto outras cidades reagem, diante de perdas entre 5% e 7% no fluxo de passageiros, Vitória da Conquista segue caminho inverso. O cenário é caótico porque já se registra 25% de perdas no passageiro econômico, que sustenta de pé o sistema, ao passo que caiu 45% dos passageiros que pagam em dinheiro.

Tudo fruto do concurso de forças clandestinas na forma de mais de 400 vans, 300 automóveis piratas e cerca de 700 Uber.

A gestão pública de Vitória da Conquista brinca com um assunto de interesse de 90 mil conquistenses, que diariamente precisam do transporte público e que podem, ainda neste primeiro semestre, ficar sem nenhum ônibus nas ruas.

Rumores dão conta de que todo o lote 1 – abandonado após falência da Viação Vitória – deverá ser devolvido a governo municipal por conta da Cidade Verde, única empresa de ônibus em atividade na cidade, não conseguir levar adiante as operações diante de tanta clandestinidade.

Enquanto isso, se o prefeito Herzem Gusmão – ou outro governo que vier – nada fizer para pavimentar o caminho, Enquanto isso, se o prefeito Herzem Gusmão – ou outro governo que vier – nada fizer para pavimentar o caminho, erradicando os clandestinos e colocando ordem no sistema, sequer conseguirá lançar novo edital de licitação, pela má fama que a cidade conseguiu. Com isso, o transporte público sairá definitivamente de cena.

Não haverá empresas sérias e com capital financeiro para investir em Vitória da Conquista, fato já tornado público e constatado pelos empresários. Isso porque devido a latente clandestinidade nas ruas e a má fama que a cidade tem de falir empresas de ônibus. A má fama se propagará caso um grande grupo, como é o caso da Viação Cidade Verde, também entregar os pontos.

Comenta-se que um empresario do setor de empresa de ônibus desistiu de investir em Vitória da Conquista minutos depois de desembarcar no aeroporto e se deslocar até a Prefeitura. Motivo: ficou perplexo com a presença de tantas vans clandestinas. 

Ora, se quem é de fora consegue perceber as vans, imagine quando este potencial investidor for confrontado com números de passageiros do passado recente. E quando souber dos automóveis piratas? E dos quase mil Uber?

Ledo engano de muitos que, ao pensar que não andam de ônibus, a demanda não os atingem. Sem transporte público toda a cidade perece nas mais diversas formas, seja na desvalorização de imóveis, na segurança pública e na exclusão social que imperará na cidade, deixando idosos, deficientes, estudantes – entre outros – sem seus direitos sociais. Uma cidade sem ônibus é uma cidade nervosa.


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