EDITORIAL | Sobre a Suíça Baiana e suas perífrases

Foto: Reprodução

De que adianta sermos conhecidos lá fora como a “Suíça Baiana”, numa perífrase que nos remete ao frio dos Alpes suíços, se não lutamos para desmistificar o estereótipo de “Baixada Fluminense baiana”, quando o assunto são os recorrentes assassinatos a sangue-frio em plena luz do dia?

Adianta esse rótulo charmoso de primeiro mundo suíço se ainda convivemos com a “Índia baiana” uma alusão ao caótico, desordenado e criminoso trânsito urbano e periférico nas rodovias que margeiam a cidade?

Que felicidade temos em termos o friozinho da “Suíça baiana” se estamos vendo centenas perderem o emprego, debandada em massa, lojas fecharem as portas, jovens e adultos disputando vaga no mercado de trabalho e milhares de aposentados desrespeitados em seus direitos na alquebrada “Grécia baiana”?

O disfarce da “Suíça baiana” serve, tão somente, para nos fazer esquecer que os nossos educadores municipais sofrem à míngua com a ilegal retenção de salários, cujas verbas são oriundas do Fundeb, portanto “dinheiro carimbado”, específico apenas para investimento na educação.

É nessa “Suíça baiana” que profissionais de saúde são excluídos pelo município no seletivo processo do “Abono 40”, que deveria contemplar todos com adicional de insalubridade em grau máximo (40% sobre o salário base) para servidores que estejam prestando serviços de atendimento a pacientes suspeitos ou portadores do coronavírus.

Nessa mesma “Suíça baiana” milhares de “suíços conquistenses” ficam expostos a frio, chuva e sol, sem abrigo nos improvisados pontos de ônibus, como cobaias de um projeto de reforma eleitoreira á toque de caixa; ou enfrentando lama e poeira na abandonada periferia para que os abastados irmãos ricos se esbaldem nas “européia” e midiática “Nova Avenida Olívia Flores”.

Podemos nos orgulhar dessa falsa condição de primeiro mundo no frio, se estamos em plena “Etiópia baiana”, cercados de pessoas famintas à cata de restos de comida e frutas e verduras podres nos contêineres de lixo do Ceasa? Ou seremos falsos suíços, cúmplices de uma gestão que ordena derrubada de casas e barracos e ignora vidas diárias perdidas pela pandemia, sem qualquer nota de luto às famílias?

Somos mesmo a “Suíça baiana” ou dividimos essa condição com a “São Paulo baiana”, na cracolândia da Rio-Bahia, em pleno trecho urbano? Deixemos de ser falsos franceses, como se a “Riviera baiana” fosse na prainha de Anagé ou nos botequins de elite nas redondezas da Avenida Olívia Flores.

Questões que merecem reflexões profundas, com a participação de todos nós. Vamos repensar Vitória da Conquista como “Vitória da Conquista baiana”, sem retoques, sem maquiagem, sem perífrases. A realidade é essa.


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