EDITORIAL – Quem será a próxima “Jéssica” desse playboy assassino?

Américo Vinhas. Guarde bem esse nome, pois ele pode ressurgir no noticiário a qualquer momento. Não pela sua rendição após ter espancado e matado uma grávida e seu bebê, mas pelo cometimento de novos crimes, amparada que está pelo Justiça – ou falta dela, que o credenciou a sair pela porta da frente da Delegacia após pagar fiança de R$5 mil.
Sobre esse “preço” por dias vidas é que relembramos o caso ocorrido em Vitória da Conquista e que, há mais de dois anos e meio, teve como protagonista o estudante de Engenharia Américo Francisco Vinhas, de 25 anos.

Cidadão de classe média alta, em abril de 2016, numa crise de fúria, ele atacou brutalmente Jéssica Nascimento, 21 anos, grávida de 4 meses. Américo chegou a ser detido no dia do crime, mas pagou fiança e foi liberado.

A reportagem do Sudoeste Digital está em campo, seguindo pistas que possam levar até ele. Se defender também é preciso, mas o silêncio é o seu principal cúmplice.

Após as agressões, Jéssica ainda chegou a ser socorrida e ficou internada por 16 dias na UTI de um hospital da região, mas não resistiu. A defesa do suspeito disse que o cliente foi liberado porque a Polícia Civil configurou inicialmente o caso como violência doméstica, já que a jovem ainda não havia morrido, e entendeu que a situação era afiançável. 
Em depoimento, orientado pela defesa, e certo da impunidade, ele negou que mantinha um relacionamento amoroso com a vítima, como relatou a família da jovem, e relatou ter feito uso de drogas e bebida alcoólica no dia do crime, mas que não se lembra do que aconteceu. Ele diz que bateu a cabeça na parede, perdeu a consciência e só recuperou quando estava na delegacia.
Dias depois, no entanto, após a morte da jovem, a Polícia Civil pediu a prisão preventiva do suspeito, que foi acatada pela Justiça, mas ele nunca mais foi localizado. “Prisão” mesmo somente para o bebê e Jéssica, de família humilde e indefesa.

Enquanto isso, longe do banco dos réus, Américo Vinhas permanece livre e com todas as credenciais habilitadas para mandar para a terra fria outras “jéssicas”. E não apenas ele, infelizmente. A realidade em todo o mundo tem mostrado, minuto a minutos, outras “Jéssicas” serem agredidas e mortas, numa sucessão assustadora e covarde.

O feminicídio também desconhece posição ou classe social. Um crime muitas vezes sem rosto, mas com personagens frios, calculistas e, tal como Américo Vinhas, amparados pelo negro véu da impunidade, num reto e livre caminho para o esquecimento. A sociedade se levanta para fechar esse caminho e obstruir atalhos por onde machistas passaram, mas que não voltarão a passar.


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