O protesto de alguns poucos lojistas na Avenida Siqueira Campos, nesta segunda-feira (21) contra a faixa exclusiva para ônibus coletivo urbano foi vista como retrocesso por muitos usuários do sistema. Sob alegação de que a faixa elimina vagas para veículos, os poucos manifestantes provocaram um caos no trânsito e o tumulto não foi em frente. Na verdade, nem todos que ocupam vagas ao longo da avenida são consumidores em potencial, mas donos de lojas que preferem a comodidade de estarem perto do seu comércio.
Quando uma parcela da sociedade, representada por lojistas e proprietários de veículos, se reúne contra a faixa para o transporte público, cabe-nos enxergamos a florestas dos fatos e não somente a árvores. Ressalte que dentro dessa mesma parcelas, nem todos pesam de igual modo.
Por não pensarem no contexto estão sendo egoístas e injustos ao princípio da coletividade, em especial daquelas pessoas que menos podem. Assim, estão sendo contra os próprios filhos, quer seja estudantes ou parentes que dependem do sofrido transporte público de cada dia.
Agem contra seus funcionários, que labutam quase sempre em jornadas exaustivas e em pé, por trás de balcões destes estabelecimentos. Funcionários que dependem do transporte público. São, ainda, contra as secretárias do lar que cuidam do conforto e higiene dos seus e que, diariamente, também dependem do transporte público. A esse rol, somam-se garçons, enfermeiros, pedreiros, jardineiros ou agentes públicos que de igual modo se aglomeram nas lotações do transporte público, refém do exaustivo trânsito,
Se aqueles que estão a bordo de seus veículos, com vidros fechados, mantidos no conforto do ar condicionado, ouvindo sua música predileta ou na programação de seu gosto se sentem irritados com o trânsito, imagine como é a vida daquelas pessoas, ressalte-se, que menos podem em qualquer cidade, aos milhares a bordo do transporte coletivo?
De igual modo, pessoas simples, que não gozam do luxo de automóvel, residindo quase sempre distantes dos centros comerciais. Quem advogará em favor destas maior parte da sociedade a prevalecer estas posições contrárias da política pública para a coletividade?
Pessoas simples, que são obrigadas a sair muito antes, uma hora ou mais de seus lares para romperem com a “ineficiência” do transporte público que é impedido de ser célere e pontual.
Quantas pessoas que dependem do transporte público já perderam seus empregos, sofreram medidas disciplinares, justo porque serem reincidentes em faltas ou atrasos em seus serviços – a impontualidade sacrificou seu trabalho.
Quantas horas de sono adicionais, do prazer do café da manhã em família, ou quantas horas de lazer foram sequestradas destas pessoas simples, por conta desta imposição de pesada rotina, as obrigando abrirem mão destas preciosas horas adicionais para compensar o prejuízo de tempo, lentidão dos deslocamentos do transporte público que não flui.
Quem anda de automóvel usufrui de inúmeras vantagens, algumas já mencionadas. Porém elas podem sair não duas horas antes comparados daqueles que andam de ônibus e sim apenas meia hora antes ou após. Podem ainda mudar de hábitos, escolhendo outras rotas para seguirem em seus veículos.
Será que aqueles lojistas que possuem automóveis não poderiam andar alguns metros a mais do estacionamento até ao seu estabelecimento?
Aquelas que andam de transporte transporte público, não obstante perderem horas preciosas de vida dentro de ônibus, são obrigadas a andar quarteirões e mais quarteirões até o ponto de ônibus de sua rota de desejo. Que o espírito de coletividade, de amor ao próximo reine antes de sermos contra porque somos contra.
Quando pensamos na política dos preços de combustíveis – mais imorais no preço, seja da gasolina ou diesel, nos preocupa ainda mais ao constatarmos o distanciamento social daqueles que só lhes resta ir e vir de transporte público.
Apenas reflexões: 61 vagas da zona azul contra 365 viagens da frota de transporte público naquela faixa de pista comprometida o dia todo para repousar veículos; cerca de 13 mil pessoas a bordo do transporte público que dependem daqueles 800 metros comprometidos para repouso de veículos.
Quem teria a prioridade na política pública? Milhares de pessoas a bordo do transporte público ou algumas em veículos?