EDITORIAL | Ao apoiar lotação clandestina, Conquista está na contramão do combate ao Coronavírus

Dois pesos, duas medidas. Louvável a expressa ordem da Prefeitura de Conquista para que as duas empresas de ônibus urbanos procedessem a higienização da frota que atende, diariamente, a quase 100 mil usuários. Por outro lado, lamentável quando a mesma Prefeitura fecha os olhos para milhares de veículos que transitam clandestinamente transportando passageiros.

Enquanto as empresas são obrigadas a manter seus veículos e garagens impecáveis, por força de decreto e sob pena de punição severa (não poderia ser diferente), outra parcela da população conquistense fica à mercê de muitos veículos sujos, provavelmente contaminados e sem qualquer ordenamento de fiscalização, a despeito de invadir o mesmo itinerários dos que cumprem regiamente a legislação.

Estaria esse contingente populacional – formado por crianças e adultos – imune ao vírus, ou não merece respeito dos nossos governantes e autoridades políticas? Os próprios condutores, que podem, involuntariamente, contaminar seus entes e/ou terceiros ao guardar os veículos em garagem coletiva ou residencial.

Agindo à margem da lei federal, que criminaliza transporte clandestino de passageiros, eles contam com a cumplicidade oficial do município e colocam em risco seus passageiros na condução irregular. Como se não bastassem a falta de segurança, provocada por veículos sem condições de trafegabilidade, agora há o risco de exposição ao coronavírus – que saltou, em Conquista, para 22 casos suspeitos.

Procurada pela reportagem do Sudoeste Digital para explicar os motivos que levaram a Prefeitura a deixar de fiscalizar e frear o transporte clandestino, em tempos de avanço do coronavírus, a Secretaria de Comunicação de “ouvidos de mercador” e não fez valer a tal transparência da gestão que até virou mote de propaganda oficial.

Não é virando às costas à imprensa independente que a Prefeitura irá se isentar da culpa por novos casos suspeitos e, Deus queira que não, até de positivos desse voraz vírus que assola o mundo.

A responsabilidade pela saúde pública deve, sim, suplantar qualquer ranço pessoal e impertinente de boicote aos meios de comunicação que fiscalizam, com responsabilidade e imparcialidade que atividade requer, os atos do governo.

O governador Rui Costa anunciou nesta quarta-feira (18) novas medidas para a prevenção do Coronavírus. Além da suspensão de aulas nas escolas das redes pública e privada por 30 dias, estão suspensas viagens de vans e ônibus para cidades com casos confirmados, por 10 dias.

A suspensão passa a valer a partir da 0h desta sexta-feira (20). Assim, viagens para as cidades de Salvador, Feira de Santana, Porto Seguro e Prado estão canceladas. Será que tais medidas, por parte da Prefeitura, com a fiscalização dos clandestinos em Vitória da Conquista só deve acontecer “após a porta arrombada”?

Ao contrário, tentam contemporizar a situação, afirmando que o “transporte público será severamente fiscalizado quanto a higienização da frota e das duas garagens”. 

Para uma leitura desavisada parece que o município criou um excelente plano de prevenção ao coronavírus. O que ainda não explicaram – e é isso que a população quer saber – é como ficarão essas garantias de higiene e fiscalização do poder público em relação ao transportes clandestino que se instalou, há anos, na cidade.

São mais de 450 vans de um lado a outro da cidade movimentando cerca de meio milhão de passageiros; cerca de 300 automóveis “ligeirinhos” que não são Uber e muito menos táxi, além de quase 2 mil Uber e 99, sem contar as vans da zona rural que entram e saem de Vitória da Conquista e de igual modo a frota de ônibus na rodoviária.

Os clandestinos agora têm quatro motivos para deixar de circular:

1 – caso de saúde pública;

2 – segurança pública;

3 – acaba com o transporte público, já que a própria Prefeitura foi vítima dessa clandestinidade quando foi obrigada a alugar a frota da Viação Rosa;

4 – Lei federal que já proibia os clandestinos circularem.

E agora ? Agora estamos a falar de vida e de morte da terceira maior cidade da Bahia, atrás apenas de Salvador e de feira de Santana.

Como o município se comportará caso esta pandemia saia do controle, visto que optou por um sistema clandestino quase que impossível de se fiscalizar? Com a palavra, autoridades constituídas, a exemplo de vereadores, promotores, juízes e a própria OAB.


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