Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. Uma noite qualquer. Aliás, todas as noites, Eles estão ali, reunidos em frente ás portas de uma empresa de autopeças, ás margens da BR 116, trecho urbano que rasga a cidade ao meio.
Portas se fecham, mentes se abrem. De latas vazias de cerveja – que saciaram a sede de alguém – lançam mão para, em segundos, se transformarem num misto de “sacis-zumbis”. Cada qual com seus cachimbos, crianças, meninas, meninos, homens, mulheres.
Um só mundo, um só desejo. E como se fosse o fiel de uma balança, permanecem intocáveis numa fronteira imaginária entre as zona leste e oeste do terceiro maior município da Bahia. Não conseguem ser invisíveis aos olhos da sociedade. Não nos teme. São temidos.
No vai-e-vem dos carros, no temeroso andar apressado dos pedestres, consomem com sofreguidão dezenas, centenas pedras de crack; inalam entorpecentes substâncias líquidas e fazem clarão com as chamas de cigarros de maconha. Olhos vermelhos, fome de “pedras e pedras”. Numa frenética alucinação, costumam dançar ao “som” de uma música que só eles escutam. Poderia ser o prelúdio de um carnaval sem marchinhas, ás vésperas da ode ao Deus Baco, mas não.
Não, não é a voz do vento da loucura, talvez seja a melodia fúnebre que embala os últimos minutos de uma vida entregue ao submundo das drogas. Logo adormecem, entorpecidos, sob cobertores imundos e colchões rotos. Amanhã, certamente, tem mais. Eis aí, a Cracolândia nossa de cada dia !!!
Texto e foto: Celino Souza