DISCO ARRANHADO | De comerciária em Vitória da Conquista a cantora “estourada” no Brasil; conheça a trajetória de Malu

Natielle de Oliveira Santos é uma daquelas pessoas que faz tudo cantando. O hábito foi uma excelente ajuda na carreira musical, porque foi assim que encontrou seu empresário e se tornou a Malu, a nova voz romântica do Brasil.

Ela trabalhava em uma loja de roupa em Vitória da Conquista, na Bahia, quando um homem da loja ao lado a filmou cantando e mandou para um amigo que era do ramo da música, seu futuro empresário. Os dois se encontraram e começaram o projeto em 2019.

A regravação dela de “Disco Arranhado”, música de Tierry feita para a dupla César Menotti & Fabiano em 2017, não era a música de trabalho, mas estava já no primeiro disco, lançado em julho de 2019.

A recepção foi boa logo de cara no Nordeste e impulsionou a carreira de Malu na região. Agora, a música é uma das mais tocadas do Brasil e de Portugal com um remix de funk do DJ Lucas Beat. A música entrou no repertório sem grandes pretensões, por uma sugestão do tecladista da banda.

“Eu já conhecia a primeira gravação e gostava da música. Achei romântica, com uma letra muito bonita. A gente colocou no repertório e o pessoal amou, foi incrível”, diz Malu ao G1.

Ela não sabe explicar muito bem como o “Te amo, te amo, te amo”, refrão insistente da música, foi fazer tanto sucesso na sua voz.

Primeiro, atribui a Deus — ela vem de família evangélica, os pais, inclusive, são pastores. Mas, depois joga para o destino.

“Falo que tem música que tem dono, não adianta… Acho que foi isso. O Tierry fez essa música para mim, mas a gente só soube depois”, brinca a espontânea cantora.

O que a deixa mais impressionada é que o raio do sucesso caiu duas vezes no mesmo lugar: a versão brega lançada em 2019 fez sucesso e o remix de funk tem bom desempenho nos streamings e YouTube.

A primeira versão que Malu gravou “Disco Arranhado” foi como uma arrocha bem romântico, bem próximo da música brega, com aquele teclado que é característico.

Ela diz que parte considerável do seu público, inicialmente restrito ao Nordeste, é formada por caminhoneiros. Não é à toa que o clipe é uma homenagem a eles — e a elas.

O vídeo colocou a música no contexto de quem vive viajando e sente saudade da família. Malu decidiu representar a classe com uma caminhoneira. “Além de homenagear os caminhoneiros, também queria empoderar as mulheres”, diz.

Esse discurso da força feminina também aparece na música “Marque sua amiga aí”, a primeira de trabalho que foi ofuscada pelo hit escrito por Tierry.

“Gosto muito de mostrar inclusive nos meus clipes que o lugar das mulheres é onde elas querem sabe? Sempre volto para esse público de mulher, sou assim”.

Depois de ver o clipe gravado em um evento de caminhões em Minas Gerais, é difícil dissociar a imagem de Malu a dos caminhoneiros. E ela nem quer isso.

Ela responde naturalmente que gostaria de ser uma nova musa daqueles que desbravam o Brasil, como Sula Miranda já foi um dia.

“Acho legal isso, chique, conceito. Gosto dessa ideia de saber que represento um pessoal que admiro, é muito gratificante para mim”, diz.

“Minha admiração vem de família mesmo, porque meu pai já trabalhou com isso. Já senti a dor da saudade, de ver meu pai saindo. Ele também sofreu dois acidentes, quase perdi meu pai. Por isso tenho bastante apreço”, ela diz sobre os caminhoneiros.

Ela até tatuou um caminhão no braço, após o clipe de “Disco Arranhado” bater um milhão de visualizações em maio do ano passado. Hoje o vídeo já superou em 40 vezes essa marca.

Da estrada para os bailes

As festas pelo Brasil ainda não podem acontecer por conta da pandemia, mas certamente seria obrigatório tocar a versão remix de “Disco Arranhado”, que Lucas Beat produziu.

O DJ paulista ouviu Malu cantando no Tiktok e pensou na hora que os “Te amo, te amo, te amo” combinariam com um funk com traços de música eletrônica.

Ele não perdeu tempo, mandou aquela mensagem para Malu, foi prontamente respondido e a parceria começou.

O clipe dos dois tem mais de 49 milhões de visualizações e chegou a liderar o ranking semanal no YouTube de mais vistos em Portugal. Já no streaming, a faixa está no top 10 há várias semanas.

Uma observação recorrente nos comentários é que se trata de um funk com uma letra de amor sem “baixaria”. Quem também reforça esse ponto é a própria Malu.

“Ficou bem alto astral, esse é o ponto positivo que o pessoal mais comenta que é um funk que não tem palavras de baixo calão, não tem palavras baixas”, explica.

“É bastante diferente dos temas atuais, porque mesmo que seja uma sofrência, não é de ser corno, beber, farra essas coisas. No nosso repertório as músicas acabam sendo nesse perfil”.

Malu conseguiu comprar uma casa e vai deixar de morar com os pais em breve. Ela não diz exatamente quanto já faturou com o hit, mas o valor está entre R$ 300 e R$ 500 mil.

Com o sucesso da música, uma “grande gravadora” está em contato com seu empresário, mas a fase ainda é de negociação.

Outras parcerias estão à caminho, inclusive no funk, mas Malu não pretende deixar a música romântica.

“Nem posso, as mulheres no arrocha são muito escassas. Eu quero estar ali e também quero inspirar mulheres a tentar também, sabe?”.


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