Reportagem do portal UOL nesta segunda-feira (13) identificou 21 eventos eleitorais em que Bolsonaro usou o cartão corporativo para bancar passagens aéreas, hospedagem, lanches, combustível e até gradis para o cercadinho de apoiadores. O levantamento tem como base notas fiscais obtidas pela agência Fiquem Sabendo, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).
Diante do conteúdo revelado, o senador Humberto Costa (PT-PE) acionou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) para que apurem o que chamou de “bandalheira” no uso do cartão corporativo pelo ex-presidente.
Por iniciativa própria, o subprocurador do TCU (Tribunal de Contas da União) Lucas Furtado também pediu a abertura de investigação sobre os gastos eleitorais com cartão corporativo. Ele aponta possível dano ao erário público com a utilização indevida de recursos públicos. Também pede ao TSE a formação de uma força-tarefa para fiscalizar os gastos no cartão de Bolsonaro.
Farra eleitoral
Em agosto, por exemplo, Bolsonaro gastou R$ 50 mil só em lanches numa padaria em Vitória da Conquista (BA). O então candidato realizou uma das suas “motociatas” na cidade, ao lado do ex-ministro e então candidato a governador da Bahia João Roma (PL). Na ocasião, cerca de 50 assessores e seguranças também ficaram hospedados por três dias na cidade. Assim, os gastos com hospedagem somaram R$ 47 mil na fatura do cartão.
No final de agosto, em visita a Minas Gerais, o cartão da presidência também bancou R$ 8.650 para um delivery de iFood e mais R$ 25.275 em lanches. Em setembro, Bolsonaro voltou à capital mineira para mais um ato de campanha. Foram mais R$ 16.926 em gastos com hospedagem e R$ 2.000 para o “cercadinho”.
Em 12 de outubro, quando Bolsonaro visitou a Basílica de Aparecida, em São Paulo, foram mais de R$ 40 mil. O cartão corporativo pagou gastos com gradis, baterias, lanches e hospedagem. No dia de Nossa Senhora Aparecida, apoiadores do então presidente hostilizaram jornalistas da TV do santuário.
Durante a missa, quando Dom Orlando Brandes incentivou o voto dos católicos e disse que era preciso vencer os “dragões do ódio e da mentira“, foi vaiado pelos apoiadores do presidente. Três dias depois desse vexame, Bolsonaro utilizou o cartão para comprar 566 kits de lanches por R$ 20.312 em outro evento classificado como “atividade eleitoral”, em Fortaleza (CE).
Em janeiro, a RBA já havia identificado que gastos com hospedagem, combustíveis e alimentação no cartão corporativo coincidiram com as “motociatas” que Bolsonaro realizou durante o mandato, em diversas regiões do país. Tanto o presidente quanto seus apoiadores diziam que as manifestações eram “espontâneas”.
Mourão
A agência Fiquem Sabendo também revelou que o ex-vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS) gastou R$ 3,8 milhões no cartão corporativo durante os quatro anos em que esteve no cargo. No caso de Mourão também há suspeitas do uso indevido do cartão para bancar gastos de campanha. Somente em 2022, quando concorreu ao cargo de senador pelo Rio Grande do Sul – cargo para o qual foi eleito – Mourão gastou R$ 1,5 milhão.
Além disso, as notas fiscais também revelam gastos extravagantes do general da reserva. Ele gastou, por exemplo, mais de R$ 1 mil reais na La Boutique, padaria no estilo francês localizada em Brasília. Em outra ocasião, Mourão usou o cartão para comprar mais de R$ 9,3 mil em doces na Sweet Cake, confeitaria na capital federal.