COVID-19 | Vacina chega para comunidades quilombolas da região de Vitória da Conquista

Alice Ribeiro* – A vacinação contra a Covid-19 chegou para os povos tradicionais quilombolas da região de Vitória da Conquista (BA). A região é formada pelos municípios de Vitória da Conquista, Anagé, Belo Campo, Caatiba, Poções, Bom Jesus da Serra, Mirante, Boa Nova e Nova Canaã, que juntos concentram mais de 16 mil pessoas autodeclaradas descendentes e remanescentes de escravizados, segundo o Instituto de Geografia e Estatísticas (IBGE).

Entretanto, os dados oficiais do IBGE apresentam discrepância em relação aos dados informados pelas Secretarias Municipais de Saúde. 

Em Belo Campo, por exemplo, o IBGE estima que tem uma população quilombola de 2.726 pessoas, mas a Secretaria Municipal de Saúde reconhece 50 quilombolas no município. Até o fechamento desta reportagem, 33 pessoas desse grupo prioritário tomaram a primeira dose da vacina e 27 receberam a dose de reforço do imunizante.

Em Vitória da Conquista, a 521 quilômetros de Salvador, mais de 65,5% dos quilombolas foram vacinados com a primeira dose, segundo o Ministério da Saúde. Esse número representa mais de 3,3 mil pessoas acima de 18 anos. Desde o início da pandemia, até a segunda semana de junho, foram registrados mais de 32 mil casos de infecção pelo vírus no município, com 537 óbitos. 

A coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, Francieli Fantinato, explica a importância da vacina nos grupos prioritários. 

“As comunidades quilombolas são populações que vivem em situação de vulnerabilidade social. Elas têm um modo de vida coletivo, os territórios habitacionais podem ser de difícil acesso e muitas vezes existe a necessidade de percorrer longas distâncias para acessar os cuidados de saúde. Com isso, essa população se torna mais vulnerável à doença, podendo evoluir para complicações e óbito.”

No município de Anagé, 375 membros das três comunidades quilombolas foram vacinados com a primeira dose, segundo o Ministério da Saúde, o que representa 4% desse público, segundo o IBGE (8.429). Mas a Secretaria Municipal de Saúde reconhece apenas 486 quilombolas, o que elevaria o índice de vacinação para 76%, segundo o Ministério da Saúde. Sayma Oliveira, Diretora de Atenção Básica de Anagé, afirma que as vacinas que sobraram foram destinadas a outros grupos prioritários:

“Isso aí foi um erro de cálculo do IBGE. O nosso levantamento atual foi feito com os representantes das comunidades quilombolas. Recebemos um número grande de vacinas. Conseguimos adiantar a vacinação no município, dos idosos, comorbidades, com esse mesmo lote.  Atualizamos mediante a autorização da SESAB.”

Isaac Viana Souza, 20 anos, é um dos imunizados com a primeira dose da vacina, na cidade. O jovem nasceu no quilombo Lagoa Torta dos Pretos e foi criado pela mãe e avós lavradores. Dedicado aos estudos e aos movimentos sociais, Isaac é estudante de medicina na Universidade Federal da Bahia, em Vitória da Conquista, e secretário geral da Associação de agricultores rurais e quilombolas de Anagé. 

Ao ser questionado sobre a vacinação nos quilombos, Isaac afirma que o município criou um calendário priorizando esse grupo, mas que muitos ainda não se vacinaram. Uns por medo, outros por não serem reconhecidos como quilombolas pela secretaria municipal e estadual de saúde.

“A gente fez a estimativa. É um processo bem complexo porque a gente sabe que a vacinação fica a critério do estado e do município. Se a gente não tivesse corrido atrás, a vacinação teria demorado mais. Se vacinem. A única arma que a gente tem é a vacinação e as medidas de prevenção.”

Prioridade Quilombolas

No Plano Nacional de Vacinação contra a Covid-19, divulgado em 16 de dezembro de 2020, grupos socialmente vulneráveis foram incluídos como prioridade no calendário de imunização. Entre eles, a população quilombola que vive em comunidades tradicionais e que, segundo o último levantamento realizado pelo IBGE, em 2019, representa mais de 1,3 milhão de brasileiros. 

Essa prioridade se faz necessária diante da falta de acesso desse público à saúde, já que grande parte vive em zonas rurais, afastadas do ambiente urbano. A Bahia é o maior estado brasileiro em população quilombola, com mais de 268 mil habitantes, de acordo com levantamento do IBGE de 2019.

Para facilitar o enfrentamento da Covid-19 entre quilombolas e indígenas, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) antecipou a divulgação da base de informações geográficas e estatísticas sobre essa população em maio de 2020. O levantamento foi realizado em 2019.

Proteja-se

Se você sentir febre, cansaço, dor de cabeça ou perda de olfato e paladar procure atendimento médico imediato. A recomendação do Ministério da Saúde é que a procura por ajuda médica deve ser feita imediatamente ao apresentar os sintomas, mesmo que de forma leve. Após a vacinação, continue seguindo os protocolos de segurança: use de máscara de pano, lave as mãos com frequência com água e sabão ou álcool 70%; mantenha os ambientes limpos e ventiladores e evite aglomerações.

Serviço

Quilombolas que vivem em comunidades quilombolas, que ainda não tomaram a vacina, devem procurar a unidade básica de saúde do seu município. Para mais informações, basta acessar os canais online disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Acesse o portal gov.br/saude ou baixe o aplicativo Coronavírus – SUS. Pelo site ou app, é possível falar com um profissional de saúde e tirar todas as dúvidas sobre a pandemia. | Alice Ribeiro, jornalista formada pela PUC Minas, com experiência em redação e televisão. Trabalhou como repórter na Rede Bahia (afiliada Globo) e TV Leste (afiliada da Record no interior de MG). Também atuou na área de produção, edição de texto e apuração em emissoras de televisão como como a Globo Minas, Record Minas e TV Alterosa (SBT).


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