CONQUISTA SOB CERCO: Vanzeiros clandestinos desafiam Prefeitura e população fica exposta ao perigo; milícias invadem itinerários de ônibus

O transporte clandestino coloca pessoas em risco, todos os dias, em diversos pontos da cidade.

Imagem: Redes sociais
Jussara Novaes e Amanda Borges (especial para o Sudoeste Digital) – O que a população mais temia está acontecendo em Vitória da Conquista, a 509 km de Salvador, com a “invasão” de vanzeiros clandestinos, muitos sob comando de milícias, a itinerários de ônibus coletivos, principalmente nos de maior circulação de passageiros. 

Sem intervenção do poder público, cerca de 600 vans – das quais pelo menos 400 clandestinas, circulam livremente, expondo a risco homens, mulheres e crianças. 

Uma prova de que a ilegalidade começa a se sobrepor sobre a Prefeitura é a cobrança de “pedágios”, denunciada pelo Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) e comprovada pela reportagem. 

TAXA ILEGAL

Indagado sobre os motivos que levam a van a circular apenas em determinado itinerários, o motorista alega que “cada grupo tem a sua própria rota” e que “assim ninguém invade o território do outro”. A “legalização informal” tem razão de ser. “A gente paga uma taxazinha (sic) para a cooperativa”, justifica o condutor.

A tal cooperativa, assim como os roteiros pre-determinados só existem na cabeça dos “chefes”, que assumem papel de milicianos, tal qual os bandidos que agem impunemente na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. 

CÂMARA REPERCUTE REPORTAGEM

Nesta sexta-feira, 13, um dia após a denuncia do Sudoeste Digital, de que Milicianos miram linhas de vans em Conquista, destacando que “mais de 600 clandestinos faturam com a carência de opções de transporte”, o assunto foi levado a plenário, em Sessão na Câmara Municipal, pelos vereadores Professor Cori, Valdemir Dias e Fernando Jacaré. 

Vereador Professor Cori

Primeiro a destacar a reportagem, o vereador Professor Cori afirmou estar preocupado com o que está acontecendo na gestão municipal de Vitória da Conquista, “um verdadeiro desmando quando se trata de fiscalização, de cumprimento das regras legais”. Cori voltou a falar sobre os problemas no transporte coletivo municipal e admitiu que o sistema não era perfeito. 


“Eu acho que houve até erro. Só que o governo anterior entregou um Sistema Municipal que funcionava”, detalhou. Cori advertiu que está em curso a falência total do sistema: “Eu quero saber se vamos substituir 50 pessoas fazendo o transporte irregular, sem pagar ISS (Imposto Sobre Serviço), sem assinar carteira, sem gerar o emprego, por 1.200 pais de famílias trabalhando, mães de família, de carteira assinada? Essa é a conta”.  
O vereador citou o ofício encaminhado ao prefeito pelo Conseg, endossado por várias instituições como CDL, Maçonaria e ACIVIC, no qual externa ao prefeito preocupação com a situação do transporte coletivo e a falta de controle e fiscalização do transporte clandestino feito por vans e carros de passeio no município. No documento, o Conselho afirma que a situação está causando “prejuízos grandes a diversos segmentos da nossa cidade, bem como o aumento da violência”.
Cori explicou que não se trata de ser contra ou a favor das vans. O problema, segundo ele, é a falta de regulação, neste caso, promovida pela própria prefeitura que autorizou, verbalmente, a circulação de vans de forma irregular e clandestina. “Tudo que é irregular tem que ser proibido até que se tenha a regulamentação”, afirmou.
MILÍCIA
O vereador frisou que a Câmara tem demonstrado o compromisso em discutir o tema, mas, seguindo a lei para que se garanta os direitos dos usuários como meia passagem para estudantes e gratuidade para pessoas idosas, por exemplo. Ele ressaltou que se trata de discutir o direito de ir e vir com segurança. “E o que faz a prefeitura? Nada. Continua dizendo que a culpa é do governo anterior”, disparou.
O vereador relatou matéria veiculada pelo Sudoeste Digital que alerta que milicianos estariam de olho em linhas de vans em Conquista. O interesse, segundo o texto, decorre da falta de regulamentação desse tipo de transporte no município. “O veículo aponta que mais de 600 clandestinos faturam com a carência de opções de transporte”
O edil destacou que o ofício do Conselho de Segurança aponta que o transporte de passageiros por vans, nos atuais moldes, gera prejuízos aos cofres públicos, seja pela falta de regulamentação e controle ou pela falta de fiscalização. 
Cori falou que ninguém é contra a regulamentação e frisou que esse tipo de transporte é necessário em localidades como Campinhos, Pradoso e Lagoa das Flores, por exemplo. “Mas, complementado o sistema de ônibus. Mas, a gente não pode permitir que, dentro de uma concepção política e eleitoreira, se libere, de forma irresponsável como está acontecendo aí, o transporte clandestino de vans”, explicou.
O sistema caminha para a falência total, alertou o vereador. Ele afirmou que a atuação da prefeitura vai quebrar as duas empresas de ônibus que atuam no município. 
“Mais de 1.200 pais e mães de famílias vão ficar desempregados. Aí eu quero ver. Vamos desafiar a gestão pra dizer de quem vai ser essa responsabilidade. Se vai continuar dizendo que é do governo passado para quê assume a prefeitura? quem casou com a viúva tem que assumir os filhos”, disparou.
Ele afirmou que todos os projetos que beneficiam o município têm o apoio da Casa, independente de questões partidárias. Mas, conduzir a gestão sem planejamento, como está bem claro, segundo ele, é inadmissível. Cori cobrou o estudo de viabilidade econômica das vans. “Apresente na próxima quarta-feira”, detalhou. Ele lembrou que a prefeitura contratou uma pessoa, por R$ 30 mil, para fazer esse estudo que não foi apresentado ainda.





TAXISTAS TAMBÉM AFETADOS

Seguindo a mesma linha do colega Cori, o vereador Valdemir Dias lembrou que ele e outros colegas vêm denunciando o caos no transporte público. “E ele [referindo-se ao prefeito Herzem Gusmão] não ouve. O que ele faz? Fica trabalhando com justificativas”, alertou. Valdemir lamentou que o prefeito ignore todos os avisos da Câmara, desconsidere o Conselho de Segurança, o Conselho de Transporte.


Vereador Valdemir Dias

Valdemir acusou o prefeito de adiar ações para regularização do transporte feito por vans. “Nós não queremos aqui transformar os vanzeiros em marginais”, mas o segmento precisa de regulação. Nós queremos que o senhor [prefeito] assuma a sua responsabilidade”, falou. Segundo Valdemir, esse problema se agravou diante da liberação pela prefeitura sem nenhuma fiscalização e hoje se especula que existem mais de 500 vans em circulação. 

“O que nós cobramos nessa Casa é a regularização das vans. O sistema está aí quebrado. Ameaça de abandonar o Conveima. Lagoa das Flores já foi abandonada. Outras linhas como Conquista VI, Uesb e as empresa não estão suportando mais. Carros, automóveis, fazendo linha”, alertou. O edil também frisou que o problema tem atingido taxistas que estariam “desesperados”.  


Vereador Fernando Jacaré

O vereador Fernando Jacaré, por sua vez, cobrou ao prefeito Herzem Gusmão o controle da situação e resolução da problemática.”A situação do transporte coletivo em Conquista é grave e, mais grave ainda, é como o prefeito tem se posicionado. Fica só falando e jogando. É preciso que o governo entenda o problema, sente com o Conselho de Transporte e resolva o caso”, concluiu.


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