CONQUISTA | Secretário de Segurança Pública diz que adolescente cigano foi vítima de queima-de-arquivo por membros da própria etnia

O secretário de Segurança Pública da Bahia, Ricardo Mandarino, sugeriu que a execução de um adolescente de 13 anos, da etnia cigana, no interior de uma farmácia em Vitória da Conquista, pode ter sido queima-de-arquivo por parte do próprio grupo. A tese foi sustentada pelo fato de, segundo o secretário, o menor de idade ter acesso a muitas informações que poderiam incriminar os ciganos e ajudar nas investigações. As declarações também foram repercutidas por uma emissora de TV presente à coletiva. A execução do adolescente foi presenciada pela mãe.

“Houve outros crimes depois disso que até aqui a gente não tem como fazer vinculação com a morte dos policiais. O menor apreendido numa loja de conveniência foi atingido por pessoas de capacete. Não foi identificado quem, atingiu o menor.  Acreditamos que ele era uma fonte de informações e por isso pode ter sido queima de arquivo por parte dos próprios ciganos dessa comunidade que estava sendo investigada. Queremos passar para sociedade certa tranquilidade. A orientação é para fazer as coisas dentro da lei e entregar os criminosos à Justiça, sem violência, na medida do possível. Estou convencido de que até este momento as polícias estão conduzindo da forma mais correta possível”.

As declarações de Mandarino foram feitas no início da tarde desta segunda-feira, 19, durante a presença, em Vitória da Conquista, da alta cúpula da Segurança Pública da Bahia, numa coletiva de imprensa, no auditório do 9º Batalhão de Polícia Militar.

Em pauta, a morte policiais militares Luciano Libarino Neves e Robson Brito de Matos na última terça-feira (13), no Distrito de José Gonçalves, zona rural do município, assim como os desdobramentos da operação de buscas pelos autores do crime. 

“Depois desse fato, houve vários crimes que, até agora, não têm relação nenhuma com a morte dos dois militares que os ciganos mataram. Esses são homicídios que acontecem, porque nós vivemos em um estado violento. Estão tentando criar essa narrativa para desmoralizar a Polícia Militar e as forças de segurança”, afirmou.

A cúpula, formada pelo  secretário de Segurança Pública da Bahia, Ricardo Mandarino; comandante-geral da PM, coronel Paulo Coutinho e pela delegada-geral da Polícia Civil, Heloísa Campos Brito, recebeu a imprensa local após uma reuni]ao técnica.

De acordo com o secretáriio Mandarino, as polícias Civil e Militar continuam as buscas a seis pessoas envolvidas de forma direta e indireta, nas mortes do tenente Luciano Libarino Neves e do soldado Robson Brito de Matos. Ele pontuou que, ao contrário de informações de entidades ligadas aos ciganos, as investigações estão sendo pautadas e conduzidas de forma legal. 

Além dos seis foragidos, outros três supostos integrantes do grupo morreram em confrontos, nas cidades de Vitória da Conquista e de Itiruçu, e um deles acabou preso em flagrante durante a ação do duplo homicídio. O homem terminou ferido no braço e, após atendimento, foi autuado.

“Estou aqui para prestar toda a minha solidariedade à Polícia Militar, atingida de forma brutal por conta desse ataque covarde. Parabenizo a PM e a Polícia Civil pelo empenho na identificação e localização dos autores”, declarou o secretário Ricardo Mandarino. 

OUTRO LADO – O Instituto Cigano do Brasil divulgou nota afirmando que respeita o trabalho de investigação e não compactua com o crime, mas afirmando que os ciganos da Bahia “estão sendo caçados como animais pelas milícias”.

“Não compactuamos com atos ilícitos de pessoas que cometem ilegalidades e respeitamos os órgãos de segurança de nossa federação que trabalham dentro da lei”, diz a nota. O texto ainda critica os órgãos de mídia que “estão generalizando atos ilícitos pessoais e associando com as comunidades ciganas”, afirmando que isso contribui para a violência. “Se tentam nos matar nos unimos para sobreviver e lutar por nossa dignidade e justiça”.

Sessenta e seis lideranças ciganas assinam o texto.  A nota pública diz que “policiais vêm promovendo uma verdadeira caçada e matança junto à todas as famílias ciganas da cidade e da região”. Eles elencam seis mortos e pelo menos 15 baleados, segundo relatos da mídia local, e também falam de áudios ameaçando ciganos. 

“Comunidades inteiras não podem ser criminalizadas por atos individuais. Da mesma forma entendemos que tais atitudes criminosas não representam uma corporação como um todo e reafirmamos que somos extremamente contrários a essas atitudes que legitimam a pena de morte no Brasil, visto que segundo o Código Penal os autores dos crimes devem julgados de acordo com a lei vigente no país”, finalizam. | Correio 24 Horas.


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