CONQUISTA NA ROTA | Exploração sexual de crianças nas estradas expõe drama do país

Imagem meramente ilustrativa/arquivo

Órgãos públicos liderados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) travam uma batalha contra a exploração sexual de crianças e adolescentes nas estradas do Brasil. Um dos instrumentos que vêm auxiliando no árduo trabalho para coibir a grave ação criminosa é a 10ª edição do Projeto Mapear, fruto de parceria entre a PRF e a organização não governamental Childhood Brasil, que identifica e aponta áreas vulneráveis a este tipo de crime, incluindo as rodovias que cortam a Bahia.

Em um total de 964 locais mapeados na malha rodoviária do estado, 4,3% são considerados críticos e 15,8% estão em risco alto. O levantamento reuniu 17.867 pontos identificados nas rodovias federais do Brasil, o que reflete um aumento de 83,2% em comparação ao biênio anterior. A Bahia ocupa o quarto lugar entre os estados brasileiros com mais pontos vulneráveis de exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias, de acordo com o levantamento.

Vale ressaltar que o aumento no número de pontos indicados não representa necessariamente um crescimento dessa violência contra o público infantil. O projeto não busca só reprimir que a prática criminosa aconteça, mas também encontrar locais nas rodovias em que ações de prevenção e investigação sejam necessárias. Dessa forma, a região com mais sinalizações é o Nordeste (6.532), seguido por Sudeste (5.041), Sul (2.474), Centro-Oeste (2.210) e Norte (1.430). Entre os estados, a Bahia é superada apenas por Minas Gerais (3.581), Piauí (2.496) e Santa Catarina (1.333).

A extensa malha rodoviária e a presença de muitas áreas economicamente vulneráveis são as razões que colocam o Nordeste na liderança do ranking, segundo o chefe de comunicação da PRF-BA, Mário Henrique. A Bahia colabora para essa posição, mas é preciso observar os dados mais de perto. Os pontos críticos, por exemplo, que são os que apresentam maior risco de exploração sexual contra os jovens, são 4,3% no estado, que é um valor abaixo da média nacional de 4,6%, porém maior que a média da região, que é de 3,8%. Já os pontos de alto risco são 15,8%, que é um valor maior que a média nacional que gira em torno de 12,2%, e que a média da região (11,6%).

“É preciso um olhar atento e uma atuação maior da PRF no estado quando a gente fala dos pontos de alto risco. A Bahia contribui para quase um terço dos pontos vulneráveis da região, o que é compreensível pelo tamanho do estado. É preciso constante atenção da PRF para que esses pontos de baixo e médio risco não se tornem de alto risco ou críticos”, afirma a superintendente de programas e relações empresariais da Childhood Brasil, Eva Dengler.

Pontos vulneráveis

Barreiras, Correntina e Vitória da Conquista são os municípios com maior número de pontos vulneráveis de exploração sexual infantojuvenil no estado; Salvador está na 24ª posição. A explicação para isso é que a fiscalização e os serviços de proteção às vítimas são mais presentes na capital. Os pontos de combustíveis são os principais locais sinalizados pela pesquisa ‘Mapear’ como possível cenário para a violência. Espaços de muita circulação e isolamento durante a noite são os fatores que aumentam a preocupação sobre os postos, de acordo com o chefe de comunicação da PRF BA.

“Esses postos se encontram em locais muitas vezes distantes de fiscalização, por isso que a PRF intensifica a atenção e as medidas educativas nesses locais”, conta Mário Henrique. Para definir o grau de risco de cada ponto são cruzados dados como a atividade que é realizada no local, localização geográfica, condições socioeconômicas do entorno, histórico de denúncias, público alvo frequentador do estabelecimento e sua faixa etária.

Então os espaços são classificados conforme o grau de risco de crítico, quando há muitas evidências da prática criminosa e geram ações imediatas, passando pelo alto, médio, até o baixo, que acontece quando há pouca possibilidade de ocorrências e o trabalho é mais de monitoramento. Porém Mário reforça que é importante que essas áreas sejam mapeadas também.

Crianças resgatadas

Fruto da última pesquisa do biênio 2021-2022, 147 menores de idade em todo o país foram resgatados dessa condição de exploração nas rodovias do país. Foram realizadas 31 ações de combate à exploração sexual de crianças e adolescentes e a situações de vulnerabilidade, além da fiscalização de 6.453 pontos, em um trabalho que alcançou 76.606 pessoas. As crianças resgatadas nessas operações são levados ao Conselho Tutelar e para as redes de proteção local para que recebam apoio psicossocial e atendimento médico, além de serem inseridos em programas de apoio de reintegração.

O chefe de comunicação da PRF BA reforça a importância do projeto Mapear como medida no combate à exploração sexual de crianças e adolescentes. “Esses dados nos permitem identificar padrões e focos de vulnerabilidade para orientar as forças de segurança na proteção das crianças e ajudam a produzir políticas e campanhas educativas”, explica Mário Henrique. Ele ainda reforça o papel das campanhas de sensibilização contra o crime e a importância da sociedade participar da luta contra a exploração sexual de crianças e adolescentes por meio de denúncias.


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