Um homem de 25 anos, identificado como Renan Neres Lima, confessou ter invadido e destruído todos os objetos que estavam dentro do Terreiro Casa de Xangô, localizado em Vitória da Conquista, na madrugada de sábado (31). De acordo com o líder da casa de candomblé, Pai Lucas de Xangô, o autor da ação mora próximo ao local e é filho de um pastor evangélico.
Para entrar no terreiro, ele teria arrombado o trinco de uma porta de madeira, entre 21h de sábado e 1h da madrugada de domingo (1°). Neste horário, o líder, junto com outras pessoas, já tinha saído do local. Quando retornaram, na madrugada do dia 1°, encontraram o espaço completamente destruído. Todos os objetos foram jogados no chão, entre eles: imagens de santos, pratos de barro e as prateleiras de vidro da geladeira.
Roupas de santo também foram rasgadas e alimentos foram abertos e jogados no chão. “Só mexeram na casa de candomblé, não mexeram em nossa casa de morada. Destruiu tudo, acabou com tudo e ainda é filho de um pastor. O que mais revolta a gente, é que essa pessoa foi levada para a delegacia, confessou o crime e não foi punida”, conta Pai Lucas, que registrou um boletim de ocorrência na delegacia da cidade, no mesmo dia do crime.
A reportagem do CORREIO teve acesso ao documento, no qual consta que “segundo policiais, o mesmo confessou ter invadido o estabelecimento e quebrado os objetos”. Questionada, a Polícia Civil informou que foi lavrado um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) – registro de um fato tipificado como infração de menor potencial ofensivo -, do qual não caberia a prisão do suspeito.
No boletim ainda consta que o homem aparenta distúrbio mental, pois conversava sozinho e balbuciava palavras sem nexo. Não há informações sobre a existência de um boletim médico que comprove a suspeita.
Para o líder do Terreiro Casa de Xangô, no entanto, o suspeito nunca apresentou problemas mentais. “O pai dele nos disse que poderia ser excesso de bebidas ou drogas, fora isso, nunca soubemos de nada sobre doenças do tipo”, afirma Pai Lucas.
Reconstrução
Devido à perda total da mobília e dos objetos religiosos, o terreiro não está funcionando desde o ocorrido. “Nós não temos cabeça para fazer nada, estamos focados na recuperação do que perdemos e na busca por justiça”, afirma Pai Lucas. Para ajudar a levantar o valor necessário para a recuperação do que foi perdido, os membros da casa de candomblé têm feito rifas.
Ainda segundo Pai Lucas, o terreiro existe há 10 anos e nunca foi atacado. “A relação com os vizinhos também é tranquila e, por isso, não há nada que justifique o ataque, a não ser a intolerância religiosa”, lamenta Pai Lucas.
Em nota publicada nas redes sociais, a Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afroameríndia classificou a ação como uma atrocidade, lamentou o ocorrido e pediu justiça: “Vamos para cima, para que o responsável seja responsabilizado por tamanha atrocidade”. | Correio 24 h – com orientação da subeditora Fernanda Varela