A Câmara Municipal de Vitória da Conquista promoveu na noite desta terça-feira, 20, a audiência pública para celebrar os 22 anos de existência da Comunidade Terapêutica Fazenda Vida e Esperança (Cotefave). A iniciativa foi promovida pelo mandato dos vereadores Viviane Sampaio e Valdemir Dias, ambos do Partido dos Trabalhadores (PT), e contou com o apoio dos demais parlamentares.
Durante a audiência, o vereador Valdemir Dias compartilhou a trajetória da Cotefave. Lembrando que a instituição foi fundada em 19 de agosto de 2002, pautando-se em princípios de solidariedade, na abordagem das necessidades, tarefas e soluções de problemas, sem discriminação de cor, raça, gênero ou ideologia política. “Estamos celebrando a trajetória de uma comunidade terapêutica que ajudou e ajuda muitos indivíduos em processo de recuperação de dependência química”, comemorou o edil.
A vereadora Viviane Sampaio expressou sua alegria em realizar essa audiência pública. “Queremos evidenciar o papel fundamental que essa entidade desempenha na reabilitação de dependentes químicos e na promoção da solidariedade e do respeito mútuo”, afirmou a vereadora.
Esperança e solidariedade – O colaborador da Cotefave, João Cândido, ressaltou que ao longo dessas mais de duas décadas, a instituição tem se consolidado como um pilar fundamental de esperança e solidariedade. Para ele, essa celebração é também uma homenagem a todos que contribuíram para a transformação de vidas. “A Cotefave tem proporcionado não apenas assistência básica, mas também oportunidades para o desenvolvimento pessoal e comunitário. O trabalho incansável dos voluntários, a dedicação dos funcionários e o apoio constante da comunidade têm sido essenciais para o sucesso da organização”, destacou.
“A Cotefave não é patrimônio de ninguém, e sim de todos” – Inácio Lopes de Oliveira, colaborador da Cotefave e auditor fiscal, afirma que esteve ao lado do Padre Gilberto Amorim desde que era apenas um sonho em seu coração, e o que surgiu com a campanha “Vida sim, droga não!”, se tornou uma grande obra social, em que o principal objetivo é transformar a vida de pessoas vítimas do vício nas drogas. Segundo o colaborador, “a comunidade começou com a quebra de preconceito, buscando conscientizar as pessoas que o vício é uma doença como qualquer outra e deve ser combatida, ao longo desses anos mais de mil pessoas foram reinseridas na sociedade e resgataram seus ideais e valores. Hoje só tenho a agradecer a Deus, finalizou.
O impacto das drogas vai além da saúde física – O médico Emanuel Souza destacou o impacto das drogas na vida das pessoas atendidas pela Cotefave. Ele explica que o uso de drogas tem efeitos profundos e abrangentes. “O impacto das drogas vai além da saúde física. Ele afeta as relações familiares, a capacidade de manter um emprego e a saúde mental. Para muitos, a dependência química cria um ciclo de pobreza e exclusão social que é difícil de romper sem ajuda”, alertou. Emanuel também ressaltou a importância do acompanhamento psicológico e emocional, que a Cotefave proporciona. “O suporte emocional é tão crucial quanto o suporte material. Muitas vezes, as pessoas precisam de alguém para ouvir, para compreender e para oferecer orientação. A Cotefave é uma rede de apoio que ajuda a preencher essas lacunas e a criar um ambiente onde a recuperação é possível”, pontuou.
Gratidão e Esperança – O vereador Fernando Vasconcelos (PT) destacou o orgulho pelo trabalho realizado, ressaltando como figuras inspiradoras, como o padre Gilberto, nos motivam a seguir em frente. Agradeceu ao público presente, enfatizando que “nossa responsabilidade como sociedade é, acima de tudo, salvar vidas e levar esperança.”
Compromisso, seriedade e comunidade – Luciene da Silva Santana, diretora de prevenção e redução de riscos e danos da Superintendência de Políticas sobre Drogas e acolhimento a grupos vulneráveis (SUPRAD/SEADES) do Estado da Bahia, afirma que a SEADES tem 25 vagas financiadas pelo governo que são cedidas a instituição, uma parceria que dura há anos e é baseada no compromisso com o desenvolvimento social. “Para nós é uma alegria estarmos aqui, pois a SUPRAD traduz parte da história da comunidade, nós aprendemos muito com eles sobre políticas de acolhimento, e eu que atuo com política de drogas há 10 anos, afirmo que esse aprendizado pode ser levado como modelo para todo o Brasil”. Segundo Luciene, o governo do Estado pode comprovar a seriedade e o compromisso que eles têm com a parceria, e para o progresso da obra realizada pelas organizações, é preciso focar na profissionalização, acolhimento e compromisso. ”Na Cotefave, não conseguimos distinguir quem é o acolhido e quem é o profissional, pois todos são tratados igualmente, a relação comunitária é muito forte”, comentou.
Futuro Digno – O Diretor Presidente e fundador da Cotefave, Padre Edilberto Araújo Amorim, destacou que a comunidade existe para tratar pessoas com dependências, uma missão que deve ser levada adiante com determinação. “A Cotefave, que começou em Conquista e se estabeleceu em Barra do Choça, mudou a vida de muitos jovens, proporcionando-lhes um futuro digno.” O Padre Edilberto expressou sua gratidão aos parceiros da Cotefave e ressaltou histórias de pessoas que, após passarem pela instituição, estão hoje livres dos vícios e seguindo sua vida.
O casamento com as drogas – Felipe Matheus de Viveiros foi um dos acolhidos que destacou sua trajetória dentro e fora da Cotefave. Ao se recordar da sua carreira na gestão pública, afirmou que foi preciso encarar sua dependência química para se livrar das drogas. E nesse sentido, ele contou sobre sua experiência nesse processo de dependência química. Para ele, essa relação pode ser descrita como um casamento tumultuado e destrutivo. “Esse casamento não é um conto de fadas, mas sim uma jornada repleta de dor, conflito e luta constante”, relatou ao evidenciar os desafios e a busca por recuperação.
“A Cotefave transformou a minha vida” – Renaldo dos Santos Leandro, indígena natural de Porto Seguro e acolhido da Cotefave, compartilhou sua jornada na luta contra o vício, ele conta que se envolveu com as drogas muito cedo e há 30 anos faz o uso abusivo de drogas. Através do seu “anjo da esperança”, Valdirene, e sua sogra Jane Azevedo, do grupo familiar cristão, ele conheceu a comunidade e começou seu tratamento, “essa doença me acompanha 24 horas por dia, mas hoje eu não tenho e nem tive vontade de usar”, afirmou. Renaldo, que também o primeiro indígena acolhido da instituição, desenvolve um trabalho voluntário que consiste na produção de remédios com ervas medicinais, conhecimentos que adquiriu através de sua etnia.
“A Cotefave está salvando minha vida” – Bruno Rocha, atualmente no sétimo mês de um programa de nove meses na Cotefave, compartilhou sua trajetória de superação. Ele conta que apesar de ter tido uma boa infância com exemplos positivos em casa, aos 17 anos começou a consumir álcool, e aos 19 passou a usar outras substâncias, o que resultou em ele enxergar sua vida sem perspectivas. Bruno destacou como o cronograma de tratamento da instituição, com estudos, trabalhos e atividades, lhe deu uma rotina e um novo propósito, pelo qual ele agradece a Deus e ao Padre Gilberto. Hoje, ele reconhece o privilégio de estar entre os 25 internos. “Quem está disposto a mudar sabe o privilégio de estar ali”, ressaltou.